Primeira Leitura: Sabedoria 18, 6-9
(verde, glória, creio - III semana do saltério)
Leitura do livro da Sabedoria - 6Esta mesma noite tinha sido conhecida de antemão por nossos pais, para que, conhecendo bem em que juramentos confiavam, ficassem cheios de coragem. 7Assim vosso povo esperava tanto a salvação dos justos como a perdição dos ímpios, 8e pelo mesmo fato de terdes destruído nossos inimigos, vós nos convidastes a ser vossos e nos honrastes. 9Por isso, os santos filhos dos justos ofereciam secretamente um sacrifício; de comum acordo estabeleciam o pacto divino: que os santos participariam dos mesmos bens e correriam os mesmos perigos; e entoavam já os hinos de seus pais, - Palavra do Senhor.
Salmo Responsorial(32)
REFRÃO: Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!
1. Ó justos, alegrai-vos no Senhor!/ Aos retos fica bem glorificá-lo./ Feliz o povo cujo Deus é o Senhor, e a nação que escolheu por sua herança! -R.
2. Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem,/ e que confiam esperando em seu amor,/ para da morte libertar as suas vidas,/ e alimentá-los quando é tempo de penúria. -R.
3. No Senhor nós esperamos confiantes,/ porque ele é nosso auxílio e proteção!/ Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,/ da mesma forma que em vós nós esperamos! -R.
1. Ó justos, alegrai-vos no Senhor!/ Aos retos fica bem glorificá-lo./ Feliz o povo cujo Deus é o Senhor, e a nação que escolheu por sua herança! -R.
2. Mas o Senhor pousa o olhar sobre os que o temem,/ e que confiam esperando em seu amor,/ para da morte libertar as suas vidas,/ e alimentá-los quando é tempo de penúria. -R.
3. No Senhor nós esperamos confiantes,/ porque ele é nosso auxílio e proteção!/ Sobre nós venha, Senhor, a vossa graça,/ da mesma forma que em vós nós esperamos! -R.
Segunda Leitura: Hebreus 11, 1-2.8-19
Leitura da carta aos Hebreus - Irmãos - 1A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê. 2Foi ela que fez a glória dos nossos, antepassados. 8Foi
pela fé que Abraão, obedecendo ao apelo divino, partiu para uma terra
que devia receber em herança. E partiu não sabendo para onde ia. 9Foi
pela fé que ele habitou na terra prometida, como em terra estrangeira,
habitando aí em tendas com Isaac e Jacó, co-herdeiros da mesma promessa.
10Porque tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto e construtor é Deus. 11Foi
pela fé que a própria Sara cobrou o vigor de conceber, apesar de sua
idade avançada, porque acreditou na fidelidade daquele que lhe havia
prometido. 12Assim, de um só homem quase morto nasceu uma
posteridade tão numerosa como as estrelas do céu e inumerável como os
grãos de areia da praia do mar. 13Foi na fé que todos (nossos
pais) morreram. Embora sem atingir o que lhes tinha sido prometido,
viram-no e o saudaram de longe, confessando que eram só estrangeiros e
peregrinos sobre a terra (Gn 23,4). 14Dizendo isto, declaravam que buscavam uma pátria. 15E se se referissem àquela donde saíram, ocasião teriam de tornar a ela... 16Mas
não. Eles aspiravam a uma pátria melhor, isto é, à celestial. Por isso,
Deus não se dedigna de ser chamado o seu Deus; de fato, ele lhes
preparou uma cidade. 17Foi pela sua fé que Abraão, submetido à prova, ofereceu Isaac, seu único filho, 18depois de ter recebido a promessa e ouvido as palavras: Uma posteridade com o teu nome te será dada em Isaac (Gn 21,12). 19Estava
ciente de que Deus é poderoso até para ressuscitar alguém dentre os
mortos. Assim, ele conseguiu que seu filho lhe fosse devolvido. E isso é
um ensinamento para nós! - Palavra do Senhor.
Evangelho: Lucas 12, 32-48
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo, segundo Lucas - Naquele tempo, 32Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino. 33Vendei
o que possuís e dai esmolas; fazei para vós bolsas que não se gastam,
um tesouro inesgotável nos céus, aonde não chega o ladrão e a traça não o
destrói. 34Pois onde estiver o vosso tesouro, ali estará também o vosso coração. 35Estejam cingidos os vossos rins e acesas as vossas lâmpadas. 36Sede
semelhantes a homens que esperam o seu senhor, ao voltar de uma festa,
para que, quando vier e bater à porta, logo lha abram. 37Bem-aventurados
os servos a quem o senhor achar vigiando, quando vier! Em verdade vos
digo: cingir-se-á, fá-los-á sentar à mesa e servi-los-á. 38Se vier na segunda ou se vier na terceira vigília e os achar vigilantes, felizes daqueles servos! 39Sabei, porém, isto: se o senhor soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria sem dúvida e não deixaria forçar a sua casa. 40Estai, pois, preparados, porque, à hora em que não pensais, virá o Filho do Homem. 41Disse-lhe Pedro: Senhor, propões esta parábola só a nós ou também a todos? 42O
Senhor replicou: Qual é o administrador sábio e fiel que o senhor
estabelecerá sobre os seus operários para lhes dar a seu tempo a sua
medida de trigo? 43Feliz daquele servo que o senhor achar procedendo assim, quando vier! 44Em verdade vos digo: confiar-lhe-á todos os seus bens. 45Mas,
se o tal administrador imaginar consigo: Meu senhor tardará a vir, e
começar a espancar os servos e as servas, e a comer e a beber e a
embriagar-se, 46o senhor daquele servo virá no dia em que não
o esperar e na hora em que ele não pensar, e o despedirá e o mandará ao
destino dos infiéis. 47O servo que, apesar de conhecer a vontade de seu senhor, nada preparou e lhe desobedeceu será açoitado com numerosos golpes. 48Mas
aquele que, ignorando a vontade de seu senhor, fizer coisas
repreensíveis será açoitado com poucos golpes. Porque, a quem muito se
deu, muito se exigirá. Quanto mais se confiar a alguém, dele mais se há
de exigir. - Palavra da salvação.
COR LITÚRGICA: VERDE
Nesta Eucaristia, Jesus completa os ensinamentos sobre o nosso
comportamento dos bens do mundo, e desafia a comunidade a estar sempre pronta
em atitude de vigilância. Nos fala do verdadeiro tesouro que é o nosso coração.
Hoje nosso olhar se direciona para contemplar a Sagrada Família de Jesus, Maria
e José. Deus escolheu a família, simples e humilde, para acolher o nascimento e
crescimento do Salvador, santificando assim a família como fundamento da
sociedade. Lembremos, também, nesta celebração, de todos os pais que pelo
batismo são chamados a concretizar no mundo a imagem sempre amorosa e geradora
de vida de Deus Pai.
1. Situando-nos
brevemente
A vida é uma caixinha de surpresa. A toda hora somos surpreendidos pelo
inesperado, porém nem sempre estamos suficientemente preparados, sobretudo para
as situações desagradáveis ou, eventualmente, até dramáticas da vida. Por isso
estamos aqui e nos reunimos todos os domingos com nosso melhor mestre, o Senhor
Jesus, para ouvir e assimilar dele a verdadeira sabedoria a fim de viver a vida
com perene sentido.
Hoje celebramos o Dia dos Pais: parabéns aos pais! Com toda a família
franciscana, celebramos a memória (ou festa) de Santa Clara de Assis, uma
mulher que, com São Francisco de Assis, encontrou o verdadeiro tesouro que dá
sentido pleno à sua vida. Por Jesus Cristo se apaixonou e com ele amorosamente
se aliou para todo o resto de sua vida: Jesus Cristo, pobre (=desapegado de
tudo), humilde, crucificado.
Ainda, nesta semana, dia 14, quarta-feira, celebramos a memória do
mártir São Maximiliano Kolbe, um sacerdote franciscano que, na última guerra
mundial, preso num campo de concentração, num gesto total de desapego, entregou
a própria vida para salvar a vida um pai de família condenado à morte.
Na busca que fazemos do verdadeiro tesouro como forma de vivermos em
estado de serena vigilância “para o que der e vier”, Jesus vem ao nosso
encontro hoje com suas sábias palavras. Continuemos à sua escuta e refletindo
sobre elas.
2. Recordando a
Palavra
O Evangelho de hoje é continuação do domingo passado, quando Jesus nos
prevenia de toda ambição das riquezas (Cf. Lc 22,15). Só que aqui há um pequeno
salto (Lc 12, 22-31), pois Jesus, diante da possibilidade de entregarmos tudo e
ficarmos sem nada, nos propõe a confiança no Pai, como os pássaros e as flores
que não acumulam para o dia de amanhã e, contudo, tem o necessário para comer e
para vestir.
O Evangelho de hoje nos situa neste mesmo tema, quando nos previne: “não
tenhas medo” (Lc 12,32). Ainda acrescenta a razão pela qual podemos estar
dispostos a partilhar tudo, sem “medo”: “foi do agrado do vosso Pai dar a vós o
Reino”. Aliás, esta não é a única vez que se diz que “o Reino é dado” aos
discípulos (cf. Lc 8, 10;22,29; Mt 25,34).
A palavra de Jesus se dirige ao “pequeninho rebanho”: “Não tenhas medo,
pequenino rebanho” (Lc 12,32). ‘Pequeno rebanho’ é uma imagem bíblica clássica
que representa Israel (Ez 34). Aqui Jesus usa esta expressão para falar dos
discípulos, o novo Israel, ou seja, nós!
Lucas, tanto no Evangelho como nos Atos dos Apóstolos, insiste no valor
da ‘esmola’: “Vendei vossos bens e dai esmola” (v.33). Em outras palavras,
trata-se da importância de dar os bens aos pobres (por ex.: cf. Lc 11,41;
18,22; 19, 8; 21, 1.4; At 9, 36; 10, 31; 11, 29; 24,17).
Em seguida, Jesus aconselha a “fazer um tesouro no céu que não se acabe”
(Lc 12,34). Mais uma vez, como no domingo passado, Jesus insiste sobre o que
realmente dá sentido à vida (cf. Lc 12, 13-21). Esta temática aparece em outras
passagens do Novo Testamento (cf. Mt 6, 20; Tg 6, 2-3) e se vincula com a do
“coração” (Lc 12, 33; Mt 6,21; Cl 3, 1-2).
Ao falar do “senhor” que “está servindo” a seus empregados (Lc 12,37),
no fundo, figurativamente, Jesus está falando de si mesmo, como podemos deduzir
do que ele explica na cena do lava-pés (cf. Jo 13, 4-5.13). Este “senhor”
surpreende a todos. Felizes os que estão prevenidos, isto é, entram no seu
jogo, no seu sistema, no seu reino e vivem do jeito que ele vive, de forma
desprendida, generosa e humilde, com ele comungam no mesmo agir e sentir.
Este é o “tesouro” que dá sentido à vida! Por isso, no Evangelho de
hoje, por três vezes Jesus repete: “felizes” (Lc 12, 37.8) e “feliz” (v.43).
Coitado de quem for pego desprevenido pelo “Senhor” que vem, pois não estar
alerta e deixar-se seduzir pela riqueza (v.15) significa perder a vida (v.21).
Na realidade concreta da vida, o próprio povo do Antigo Testamento já
havia intuído o “sabor” do tesouro da partilha. Foi quando experimentou “na
pele” o que significa viver na escravidão, precisamente sob o regime de um povo
que, tristemente seduzido pela riqueza, colocou outro povo – no caso, os
israelitas – numa situação desumana.
De onde deu para concluir: só um regime de partilha é capaz de dar
sentido à vida. Foi o que Deus mostrou. Para viver neste glorioso regime de
amor, chamou este povo para uma aliança. Isto, no fundo, ouvimos na primeira
leitura, do Livro da Sabedoria. Neste sentido, cantamos hoje o Salmo 32, cujo
refrão soa assim: “Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança!”
(v.12b).
Esta herança, para nós cristãos hoje, é vivida na fé como esperança
daquilo que não se vê, como ouvimos na segunda leitura (Hb 11, 1-2.8-19). Fé
esta que “olha para o futuro, como a de Abraão, como os dos israelitas no tempo
do Êxodo, como a dos discípulos que espera a vinda do Senhor: é esperança”.
Não deixa o homem instalar-se no presente. Este mundo não é o termo de
seu caminho. Deus preparou uma pátria melhor. O cristão é um estrangeiro neste
mundo. Leva este mundo a sério, exatamente no fato de ficar livre diante dele
(o que não exclui o compromisso com os filhos de Deus neste mundo!) (J. Konings. Liturgia dominical, p.441).
3. Atualizando a
Palavra
É bom nos conscientizamos de que “o fim para o qual vivemos reflete-se
em cada uma de nossas ações. A cada momento pode chegar o fim de nossa vida.
Seja este fim, aquilo que vigilantes esperamos, como a noite da libertação, que
encontrou os israelitas preparados para saírem, como vimos na primeira leitura,
e não como uma noite de morte e condenação, como o empregado malandro que é
pego de surpresa pela volta inesperada de seu patrão – como ouvimos no
Evangelho” (Id., p.443).
Podemos seguir com a oportuna reflexão de nosso irmão teólogo e biblista
Johan Konings, cujo texto que transcrevemos na íntegra.
“Devemos
preparar-nos para o definitivo de nossa vida, aquilo que permanece, mesmo
depois da morte. Mensagem difícil para o nosso tempo de imediatismo. Muitos nem
querem pensar no que vem depois; contudo, a perspectiva do fim é inevitável. Já
outros vêem o sentido da vida na construção de um mundo novo, ainda que não
seja para eles mesmos, mas para seus filhos ou para as gerações futuras, se não
tem filhos. Assim como os antigos judeus colocavam sua esperança de
sobrevivência nos seus filhos, estas pessoas a colocaram na sociedade do
futuro. É nobre. Mas será suficiente? Jesus abre outra perspectiva: um tesouro
no céu, junto a Deus. Ali a desintegração não chega. Mas, olhar para o céu não
desvia nosso olhar da terra? Não leva à negação da realidade histórica, desta
terra, da nova sociedade que construímos? Ou será, pelo contrario, uma
valorização de tudo isso? Pois mostrando como provisória a vida e a historia,
Jesus nos ensina a usá-las bem, para produzir o que ultrapassa a vida e a
história: o amor que nos torna semelhantes a Deus. Este é o tesouro do céu, mas
ele precisa ser granjeado aqui na terra. A visão cristã acompanha os que se
empenham pela construção de um mundo novo, solidário e igualitário, para suplantar
a atual sociedade baseada no lucro individual. Mas não basta ficar simplesmente
neste nível material, por mais que ele dê realismo ao empenho do amor e da
justiça. A visão cristã acredita que a solidariedade exercida aqui na História
é confirmada para além da História. Ultrapassa nosso alcance humano. É a causa
de Deus mesmo, confirmada por quem nos chamou à vida e nos fez existir. À
utopia histórica, a visão cristã acrescenta a fé, ‘prova de realidades que não
se veem’ (2ª Leitura). A fé, baseada na realidade definitiva que se revelou na
ressurreição de Cristo, nos dá a firmeza necessária para abandonar tudo em prol
da realização última – a razão do nosso existir” (Ibid.,
p.443-444).
4. Ligando a Palavra
com ação litúrgica
Logo em seguida, nos achegaremos ao altar para explicitamente celebrar o
mistério da nossa fé, o memorial da Páscoa de Jesus. Que esta celebração
eucarística nos torne, de fato, atentos e vigilantes em comunhão com o Senhor
que vem para servir.
A Missa é a celebração do serviço de Jesus que se entregou e se entrega
por nós. Participando dela, possamos conhecer e vivenciar, mais profundamente,
o projeto de vida do nosso Deus e com ele nos comprometermos mais e mais.
Participando dela, possamos nos colocar com mais empenho a serviço da
comunidade cristã., preparando assim a plenitude do Reino que nos foi confiado.
Assim sendo, concluímos nossa participação nesta ceia memorial do Senhor
morto-ressuscitado com esta significativa oração: “Ó Deus, vosso sacramento que
acabamos de receber nos traga a salvação e nos confirme na vossa verdade”
(Oração depois da comunhão). Sim, que nossa participação nesta ceia nos
confirme na verdade do Reino de Deus vivido e transmitido por nosso mestre
maior, Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém!
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