terça-feira, 12 de abril de 2022

Terça-feira da Semana Santa - A dureza de Judas.

Reflexão diária do Evangelho (João 13,21-33.36-38)

Leitura (Isaías 49,1-6)

Leitura do livro do profeta Isaías.

49 1 Ilhas, ouvi-me; povos de longe, prestai atenção! O Senhor chamou-me desde meu nascimento; ainda no seio de minha mãe, ele pronunciou meu nome.

2 Tornou minha boca semelhante a uma espada afiada, cobriu-me com a sombra de sua mão. Fez de mim uma flecha penetrante, guardou-me na sua aljava.

3 E disse-me: "Tu és meu servo, (Israel), em quem me rejubilarei".

4 E eu dizia a mim mesmo: "Foi em vão que padeci, foi em vão que gastei minhas forças. Todavia, meu direito estava nas mãos do Senhor, e no meu Deus estava depositada a minha recompensa".

5 E agora o Senhor fala, ele, que me formou desde meu nascimento para ser seu Servo, para trazer-lhe de volta Jacó e reunir-lhe Israel, (porque o Senhor fez-me esta honra, e meu Deus tornou-se minha força).

6 Disse-me: "Não basta que sejas meu servo para restaurar as tribos de Jacó e reconduzir os fugitivos de Israel; vou fazer de ti a luz das nações, para propagar minha salvação até os confins do mundo".

Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial 70/71

Minha boca anunciará vossa justiça.

Eu procuro meu refúgio em vós, Senhor,

que eu não seja envergonhado para sempre!

Porque sois justo, defendei-me e libertai-me!

Escutai a minha voz, vinde salvar-me!

 

Sede uma rocha protetora para mim,

um abrigo bem seguro que me salve!

Porque sois a minha força e meu amparo,

o meu refúgio, proteção e segurança!

Libertai-me, ó meu Deus, das mãos do ímpio.

 

Porque sois, ó Senhor Deus, minha esperança,

em vós confio desde a minha juventude!

Sois meu apoio desde antes que eu nascesse,

desde o seio maternal, o meu amparo.

 

Minha boca anunciará todos os dias

vossa justiça e vossas graças incontáveis.

Vós me ensinastes desde a minha juventude

e até hoje canto as vossas maravilhas.

Evangelho (João 13,21-33.36-38)

Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor!

Salve, ó rei, obediente ao Pai, vós fostes levado para ser crucificado, como um manso cordeiro é conduzido à matança.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.

Naquele tempo, estando à mesa com seus discípulos, 13 21 Jesus ficou perturbado em seu espírito e declarou abertamente: "Em verdade, em verdade vos digo: um de vós me há de trair!"

22 Os discípulos olhavam uns para os outros, sem saber de quem falava.

23 Um dos discípulos, a quem Jesus amava, estava à mesa reclinado ao peito de Jesus.

24 Simão Pedro acenou-lhe para dizer-lhe: "Dize-nos, de quem é que ele fala".

25 Reclinando-se este mesmo discípulo sobre o peito de Jesus, interrogou-o: "Senhor, quem é?"

26 Jesus respondeu: "É aquele a quem eu der o pão embebido". Em seguida, molhou o pão e deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.

27 Logo que ele o engoliu, Satanás entrou nele. Jesus disse-lhe, então: "O que queres fazer, faze-o depressa".

28 Mas ninguém dos que estavam à mesa soube por que motivo lho dissera.

29 Pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe falava: "Compra aquilo de que temos necessidade para a festa". Ou: "Dá alguma coisa aos pobres".

30 Tendo Judas recebido o bocado de pão, apressou-se em sair. E era noite.

31 Logo que Judas saiu, Jesus disse: "Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele.

32 Se Deus foi glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e o glorificará em breve.

33 Filhinhos meus, por um pouco apenas ainda estou convosco. Vós me haveis de procurar, mas como disse aos judeus, também vos digo agora a vós: para onde eu vou, vós não podeis ir".

36 Perguntou-lhe Simão Pedro: "Senhor, para onde vais?" Jesus respondeu-lhe: "Para onde vou, não podes seguir-me agora, mas seguir-me-ás mais tarde".

37 Pedro tornou a perguntar: "Senhor, por que te não posso seguir agora? Darei a minha vida por ti!"

38 Respondeu-lhe Jesus: "Darás a tua vida por mim! Em verdade, em verdade te digo: não cantará o galo até que me negues três vezes".

Palavra da Salvação.

Reflexão

O Evangelho de hoje dirige o nosso olhar para uma personagem que, em regra, escapa à nossa reflexão habitual. Trata-se de Judas, filho de Simão Iscariotes. O traidor do Senhor, embora só o tenha "negociado" na Quarta-feira Santa (cf. Lc 22, 4s), já estava, evidentemente, em estado de pecado havia muito tempo. É o que nos indica este episódio da Última Ceia, quando Jesus lhe diz: "O que tens a fazer, executa-o depressa." O segundo versículo deste capítulo de São João também faz questão de ressaltar que o espírito do traidor há muito se afastara de Cristo: "Durante a ceia — quando o demônio já tinha lançado no coração de Judas [...] o propósito de traí-lo [...]" (Jo 13, 2; cf. Lc 22, 3s). Também os seus constantes furtos testemunham que o seu lugar entre as colunas da Igreja devia ser passageiro: "Ele tomava conta da bolsa comum e roubava o que se depositava nela" (Jo 12, 6), quia fur erat — porque era ladrão.

Tudo, pois, estava planejado; bastava-lhe apenas esperar pela ocasião oportuna para o trair, sem que a multidão, temida pelos chefes do povo, desconfiasse de algo (cf. Lc 22, 2.6). No entanto, o que talvez mais nos escandalize nesta cena é o fato de Judas haver comungado. Essa participação sacrílega é desmascarada logo em seguida pelo Senhor, que declara: "Aquele a quem eu der o pedaço de pão passado no molho, é esse que me há de trair." Pão passado no molho: tal gesto de amor, sinal de estima e grande consideração entre os judeus, não foi porém capaz de amolecer o coração, agora incorrigível, de Judas. A tais extremos chegou a sua frieza, a sua indiferença para com Cristo, que melhor lhe seria nunca haver nascido (cf. Mc 14, 21): "Bonum ei si non esset natus homo ille." Jesus, com ciência divina, revela aqui a impenitência de Judas, a sua dureza de coração ('σκληροκαρδία'), o seu cabal ensurdecimento aos chamados da Graça.

O Senhor nos exorta, assim, a não deixar o desespero acomodar-se em nosso peito. Embora ignoremos os santos desígnios do Pai, temos a garantia de que, se nos humilharmos com verdadeira compunção, se reconhecermos a nossa miséria com sincero arrependimento, não há pecado que não nos possa ser perdoado. Vivamos, pois, esta 3.ª-feira da Semana Santa em meio a muitos e fervorosos atos de esperança. Preparemo-nos com uma boa confissão para os sofrimentos pascais que se avizinham. Não deixemos de recorrer à Virgem Santíssima, Refugium peccatorum, que tem sob os seus maternais cuidados o nosso frágil e pobre coração: que ela afaste de nós o endurecimento de Judas e nos alcance a graça de podermos chorar amargamente — assim o fez São Pedro (cf. Lc 22, 62) — todas as faltas em que porventura viermos a cair.
 
 
 
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