terça-feira, 26 de abril de 2022

2ª Semana da Páscoa - Nascer de alto.

 Quem era Nicodemos? (João 3: 1-8)

Primeira Leitura: Atos 4,32-37

Leitura dos Atos dos Apóstolos32A multidão dos fiéis era um só coração e uma só alma. Ninguém considerava como próprias as coisas que possuía, mas tudo entre eles era posto em comum. 33Com grandes sinais de poder, os apóstolos davam testemunho da ressurreição do Senhor Jesus. E os fiéis eram estimados por todos. 34Entre eles ninguém passava necessidade, pois aqueles que possuíam terras ou casas vendiam-nas, levavam o dinheiro 35e o colocavam aos pés dos apóstolos. Depois, era distribuído conforme a necessidade de cada um. 36José, chamado pelos apóstolos de Barnabé, que significa filho da consolação, levita e natural de Chipre, 37possuía um campo. Vendeu e foi depositar o dinheiro aos pés dos apóstolos. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 92(93)

Reina o Senhor, revestiu-se de esplendor.

1. Deus é rei e se vestiu de majestade, / revestiu-se de poder e de esplendor! – R.

2. Vós firmastes o universo inabalável, † vós firmastes vosso trono desde a origem, / desde sempre, ó Senhor, vós existis! – R.

3. Verdadeiros são os vossos testemunhos, † refulge a santidade em vossa casa / pelos séculos dos séculos, Senhor! –  R.

Evangelho: João 3,7-15

Aleluia, aleluia, aleluia.

O Filho do Homem há de ser levantado, / para que quem nele crer possua a vida eterna (Jo 3,14s). – R.

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João – Naquele tempo, disse Jesus a Nicodemos: 7“Vós deveis nascer do alto. 8O vento sopra onde quer, e tu podes ouvir o seu ruído, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim acontece a todo aquele que nasceu do Espírito”. 9Nicodemos perguntou: “Como é que isso pode acontecer?” 10Respondeu-lhe Jesus: “Tu és mestre em Israel, mas não sabes estas coisas? 11Em verdade, em verdade te digo, nós falamos daquilo que sabemos e damos testemunho daquilo que temos visto, mas vós não aceitais o nosso testemunho. 12Se não acreditais quando vos falo das coisas da terra, como acreditareis se vos falar das coisas do céu? 13E ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem. 14Do mesmo modo como Moisés levantou a serpente no deserto, assim é necessário que o Filho do Homem seja levantado, 15para que todos os que nele crerem tenham a vida eterna”.

Palavra da salvação.

Reflexão

O Evangelho desta 3.ª-feira nos introduz na intimidade daquele conhecido colóquio entre Nosso Senhor e Nicodemos, um dos sinedritas e chefes da comunidade judaica (cf. Jo 3, 1). Tendo ouvido falar do novo profeta, cuja fama já corria por toda Jerusalém, Nicodemos — muito naturalmente — deseja conhecer de mais perto Aquele homem cercado de tantos mistérios e boatos. Prudente como os de sua casta, julgou mais conveniente ir ter com Jesus quando ainda era noite (cf. Jo 3, 2). Embora a fé ainda não lhe aqueça a alma, parece-lhe haver em Cristo algo de todo diferente; das maravilhas que O rodeiam só se pode concluir, raciocina este fariseu de boa vontade, que o Todo-Poderoso O esteja acompanhando. "Ninguém pode fazer esses milagres que fazes, se Deus não estiver com ele", diz com razão e delicadeza. Podemos aqui até conjeturar que a dúvida por detrás dessa exclamação é a mesma que, intimamente, se faziam todos os judeus esperançosos: "Afinal, és tu, Mestre, o Messias esperado?"

Mas eis que o Senhor, num primeiro esboço de sua doutrina divina, responde-lhe com uma ambiguidade cheia de significado: "Em verdade, em verdade te digo: quem não nascer de novo [ἄνωθεν] não poderá ver o Reino de Deus" (Jo 3, 3), onde advérbio 'ἄνωθεν' pode exprimir aqui tanto a ideia de "de novo" quanto "do alto". Perplexo, e sem nada entender, Nicodemos interroga Jesus: "Como pode um homem renascer, sendo velho? Porventura pode tornar a entrar no seio de sua mãe e nascer pela segunda vez" (Jo 3, 3). Jesus, porém, após explicar novamente a sua doutrina, repreende-o com uma salutar humilhação: "És doutor em Israel e ignoras estas coisas!..." Humilha-o não por prazer, por despeito; humilha-o justamente para o fazer "nascer do alto", isto é, nascer para a fé, que não cabe num coração soberbo e cheio de si. Nicodemos tem de ver-se humilhado e despojado de suas glórias vãs de mestre e doutor da Lei, a fim de poder reconhecer, ali mesmo diante de si, o próprio Autor da Lei.

Uma outra palavra de Cristo neste Evangelho nos deve prender a atenção. "O vento [rowah]" — quer dizer, o Espírito — "sobra onde quer; ouve-lhes o ruído, mas não sabes donde vem, nem para onde vai" (Jo 3, 8). Esse ruído (φωνή, na versão grega) a que se refere Nosso Senhor é, segundo a interpretação comum dos Padres, a voz interior que o Espírito Santo suscita em nossa alma, como que a nos chamar constantemente de volta à casa do Pai. Temos, pois, este verbum interior de graça e de verdade, suave como o vento, delicado como a brisa da tarde em que o Senhor se entretém com os filhos dos homens. Não deixemos que os gritos da nossa soberba abafem esta voz que clama dentre de nós; não permitamos que o estardalhaço do nosso orgulho nos ensurdeça aos clamores do Espírito Santo, delicado como aquela bisa ligeira — "sibilus aurae tenuis" — que ouvira o profeta Elias (1Rs 19 12). Roguemos a Deus a graça de sermos humildes e de podermos ouvir a sua doce e suave voz. Deixemo-nos atrair por este amor imenso, tão apaixonadamente manifestado no Cristo levantado no madeiro!

 

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