Leitura da profecia de Daniel.
Naqueles dias, 3 14 Nabucodonosor disse-lhes: "É verdade, Sidrac, Misac e Abdênago, que recusais o culto a meus deuses e a adoração à estátua de ouro que erigi?
15 Pois bem, estais prontos, no momento em que ouvirdes o som da trombeta, da flauta, da cítara, da lira, da harpa, da cornamusa e de toda espécie de instrumentos de música, a vos prostrardes em adoração diante da estátua que eu fiz? Se não o fizerdes, sereis precipitados de relance na fornalha ardente; e qual é o deus que poderia livrar-vos de minha mão?"
16 Sidrac, Misac e Abdênago responderam ao rei Nabucodonosor: "De nada vale responder-te a esse respeito.
17 Se assim deve ser, o Deus a quem nós servimos pode nos livrar da fornalha ardente e mesmo, ó rei, de tua mão.
18 E mesmo que não o fizesse, saibas, ó rei, que nós não renderemos culto algum a teus deuses e que nós não adoraremos a estátua de ouro que erigiste".
19 Então a fúria de Nabucodonosor desencadeou-se contra Sidrac, Misac e Abdênago; os traços de seu rosto alteraram-se e ele elevou a voz para ordenar que se aquecesse a fornalha sete vezes mais que de costume.
20 Depois deu ordem aos soldados mais vigorosos de suas tropas para amarrar Sidrac, Misac e Abdênago, e jogá-los na fornalha ardente.
49 Mas o anjo do Senhor havia descido com Azarias e seus companheiros à fornalha e afastava o fogo.
91 Então Nabucodonosor, admirado, levantou-se precipitadamente, dizendo a seus conselheiros: "Não foram três homens amarrados que jogamos no fogo?" "Certamente, majestade", responderam.
92 "Pois bem", replicou o rei, "eu vejo quatro homens soltos, que passeiam impunemente no meio do fogo; o quarto tem a aparência de um filho dos deuses".
95 Nabucodonosor tomou a palavra: "Bendito seja, disse, o Deus de Sidrac, de Misac e de Abdênago! Ele enviou seu anjo para salvar seus servos, os quais, depositando nele toda a sua confiança, e transgredindo as ordens do rei, preferiram expor suas vidas a se prostrarem em adoração diante de um deus que não era o seu".
Palavra do Senhor.
A vós louvor, honra e glória eternamente!
Sede bendito, Senhor Deus de nossos pais.
A vós louvor, honra e glória eternamente!
Sede bendito, nome santo e glorioso.
A vós louvor, honra e glória eternamente!
No templo santo onde refulge a vossa glória.
A vós louvor honra e glória eternamente!
E em vosso trono de poder vitorioso.
A vós louvor, honra e glória eternamente!
Sede bendito, que sondais as profundezas.
A vós louvor, honra e glória eternamente!
E superior aos querubins vos assentais.
A vós louvor, honra e glória eternamente!
Sede bendito no celeste firmamento.
A vós louvor, honra e glória eternamente!
Obras todas do Senhor, glorificai-o.
A ele louvor, honra e glória eternamente!
Honra, glória, poder e louvor a Jesus, nosso Deus e Senhor.
Felizes os que observam a palavra do Senhor, de reto coração, e que produzem muitos frutos, até o fim perseverantes! (Lc 8,15)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo João.
Naquele tempo, 8 31 E Jesus dizia aos judeus que nele creram: "Se permanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos;
32 conhecereis a verdade e a verdade vos livrará".
33 Replicaram-lhe: "Somos descendentes de Abraão e jamais fomos escravos de alguém. Como dizes tu: Sereis livres?"
34 Respondeu Jesus: "Em verdade, em verdade vos digo: todo homem que se entrega ao pecado é seu escravo.
35 Ora, o escravo não fica na casa para sempre, mas o filho sim, fica para sempre.
36 Se, portanto, o Filho vos libertar, sereis verdadeiramente livres.
37 Bem sei que sois a raça de Abraão; mas quereis matar-me, porque a minha palavra não penetra em vós.
38 Eu falo o que vi junto de meu Pai; e vós fazeis o que aprendestes de vosso pai".
39 "Nosso pai", replicaram eles, "é Abraão". Disse-lhes Jesus: "Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão.
40 Mas, agora, procurais tirar-me a vida, a mim que vos falei a verdade que ouvi de Deus! Isso Abraão não o fez.
41 Vós fazeis as obras de vosso pai". Retrucaram-lhe eles: "Nós não somos filhos da fornicação; temos um só pai: Deus".
42 Jesus replicou: "Se Deus fosse vosso pai, vós me amaríeis, porque eu saí de Deus. É dele que eu provenho, porque não vim de mim mesmo, mas foi ele quem me enviou".
Palavra da Salvação.
Reflexão
"Conhecereis a verdade", diz hoje o Senhor, "e a verdade vos libertará." Mas o que significa, em termos precisos, esse "conhecereis a verdade"? Lembremo-nos, em primeiro lugar, de que Jesus, pouco antes da Paixão, se identifica com a própria verdade: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida" (Jo 14, 6), responde a Tomé. Enquanto homem, é caminho para o Pai; enquanto Deus, é verdade e vida para os homens. Verdade essa, porém, à qual o nosso espírito se deve abrir e abrir-se por meio da fé. Ora, a dificuldade que temos em nos descerrar à verdade, que é Cristo, reside antes e primariamente na nossa soberba. Devido às más inclinações e a um orgulho inchado, todos nós experimentamos uma certa tendência a, sobretudo no campo moral e religioso, persuadir-nos de que seja falso ou ao menos duvidoso aquilo que não desejamos reconhecer que seja verdadeiro (cf. Pio XII, Humani Generis, n. 2).
Isso porque a verdade tem a peculiar capacidade de humilhar-nos, de fazer caírem as escamas dos nossos olhos, de nos revelar quem de fato somos. Por isso, as nossas mais imediatas reações diante duma verdade sobre nós mesmos é a fuga, a negação, a mentira. É o que vemos tão bem ilustrado nos judeus deste Evangelho. Que lhes diz o Senhor, afinal? "A verdade vos libertará". E que respondem os ouvintes? "Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém." Eis, escancarada, a primeira mentira. Ah! sois filhos de Abraão? Então como dizeis que não sois escravos? Não foi a descendência do vosso pai dominada pelos egípcios, pelos assírios, pelos babilônios e pelos gregos? Ora, não é o jugo romano que agora a oprime e sufoca? Como então dizeis: "Nunca fomos escravos"? Abri as crônicas do vosso povo e vereis o quanto se engana a vossa soberba, o quanto vos cega a sobranceria da vossa raça!
Cristo é, pois, essa verdade que humilha e fere, que mostra a serviço de quem pusemos o nosso coração. "Em verdade, em verdade vos digo, todo aquele que comete pecado é escravo do pecado". Caprichos e paixões, veleidades e fantasias, preconceitos e mentiras, — eis aí os senhores aos quais servimos, eis aí as obras que o pai e príncipe deste mundo nos incita a fazer. Aproveitemos estes últimos dias da Quaresma para, em ossa oração mental, pedirmos mais fé e mais humildade a Nosso Senhor. Em nossas comunhões, não deixemos também de implorar a Jesus Sacramentado que instale em nosso coração soberbo o seu reinado definitivo, no qual nem o orgulho nem o amor-próprio desordenado podem ter lugar. Que a Virgem Santíssima, Refúgio dos pecadores, nos alcance a graça de sermos configurados à mansidão e à humildade de seu Filho, cuja verdade, devolvendo-nos a visão e o realismo, nos faz livres para amar a Deus com desprendimento e leveza.
https://padrepauloricardo.org
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