Leitura do livro do Deuteronômio – Moisés falou ao povo, dizendo: 15“Vê que eu hoje te proponho a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. 16Se obedeceres aos preceitos do Senhor teu Deus, que eu hoje te ordeno, amando ao Senhor teu Deus, seguindo seus caminhos e guardando seus mandamentos, suas leis e seus decretos, viverás e te multiplicarás, e o Senhor teu Deus te abençoará na terra em que vais entrar para possuí-la. 17Se, porém, o teu coração se desviar e não quiseres escutar, e se, deixando-te levar pelo erro, adorares deuses estranhos e os servires, 18eu vos anuncio hoje que certamente perecereis. Não vivereis muito tempo na terra onde ides entrar, depois de atravessar o Jordão, para ocupá-la. 19Tomo hoje o céu e a terra como testemunhas contra vós de que vos propus a vida e a morte, a bênção e a maldição. Escolhe, pois, a vida, para que vivas, tu e teus descendentes, 20amando ao Senhor teu Deus, obedecendo à sua voz e apegando-te a ele – pois ele é a tua vida e prolonga os teus dias, a fim de que habites na terra que o Senhor jurou dar a teus pais, Abraão, Isaac e Jacó”.
Palavra do Senhor.
É feliz quem a Deus se confia!
1. Feliz é todo aquele que não anda / conforme os conselhos dos perversos; / que não entra no caminho dos malvados / nem junto aos zombadores vai sentar-se, / mas encontra seu prazer na lei de Deus / e a medita, dia e noite, sem cessar. – R.
2. Eis que ele é semelhante a uma árvore / que à beira da torrente está plantada; / ela sempre dá seus frutos a seu tempo, † e jamais as suas folhas vão murchar. / Eis que tudo o que ele faz vai prosperar. – R.
3. Mas bem outra é a sorte dos perversos. † Ao contrário, são iguais à palha seca / espalhada e dispersada pelo vento. / Pois Deus vigia o caminho dos eleitos, / mas a estrada dos malvados leva à morte. – R.
Glória a vós, Senhor Jesus, / primogênito dentre os mortos!
Convertei-vos, nos diz o Senhor, / está próximo o Reino de Deus! (Mt 4,17) – R.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 22“O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia”. 23Depois Jesus disse a todos: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me. 24Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará. 25Com efeito, de que adianta a um homem ganhar o mundo inteiro se se perde e se destrói a si mesmo?”
Palavra da salvação.
Reflexão
Logo no início desta caminhada quaresmal, o Evangelista São Lucas nos relata o primeiro anúncio da Paixão de Nosso Senhor, feito pouco depois da profissão de São Pedro. É curioso notar a proximidade desses dois eventos. A própria estrutura narrativa do Evangelho, a ordem em que os fatos são narrados, a maravilhosa harmonia com que Cristo vai conduzindo a história e fazendo as liberdades humanas concorrerem para a realização de sua missão e a transmissão de sua mensagem — tudo isto já nos desperta para o fato de que é somente à luz da fé, professada hoje por Simão, que podemos compreender o sofrimento de Cristo na cruz.
É pela fé em Jesus, escarnecido e rejeitado pelos que eram seus, que podemos chegar a divisar o sentido profundo que têm os sofrimentos humanos, — tão profundo e, de resto, tão valioso que nem o próprio Deus quis furtar-se de os sentir numa carne em tudo igual à nossa. Não é por acaso, portanto, que à confissão de Pedro suceda o prenuncio das dores por que o Verbo eterno do Pai ainda haveria de passar: "O Filho do Homem deve sofrer muito", diz Jesus, "ser rejeitado pelos anciãos, pelos sumos sacerdotes e doutores da Lei, deve ser morto e ressuscitar no terceiro dia".
"Deve sofrer". Estas palavras, saídas da própria Palavra de Deus, por si sós nos revelam uma verdade que o mesmo Cristo confirma logo em seguida: "Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua cruz cada dia e siga-me." Não é a cruz uma opção, uma alternativa entra outras tantas. É a regra. "Se alguém quiser me seguir", diz-nos o Senhor, "saiba que subo a Jerusalém para ser crucificado. Se quereis, pois, ser meus discípulos, se quereis seguir meus passos, façais como Eu: tomai cada a um a sua cruz e ide em direção às dores que trazem alegria, à morte que faz nascer para uma nova vida". Que é, afinal, ser cristão, senão ser outro Cristo? senão viver a mesma vida de Cristo? senão dar os mesmos passos que Cristo? senão abraçar o sofrimento assim como fizera o mesmo Cristo?
Já no início desta Quaresma a Liturgia nos desvenda o mistério pascal que permeia todos estes quarenta dias de penitência. A nossa vida cristã deve ser, sim, uma constante "paixão", um incessante "morrer para si mesmo", um generoso "perder a vida" por causa de Jesus. Que o Senhor nos livre de toda indolência e nos cure daquela péssima tendência a viver um "cristianismo analgésico", em que a dor e o sofrimento não têm lugar. Abracemos, por amor a Cristo, todas as dores, todas as contrariedades que a suave mão de Deus decidir enviar-nos. Pois de nada nos vale fugir das cruzes do mundo, a fim de termos ainda neste desterro uma porca e pobre consolação, e, no fim, perdermos a chance de, configurados ao Cristo que sofre, conquistarmos os prêmios celestes.
https://padrepauloricardo.org
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