Leitura do livro do Gênesis.
37 3 Israel amava José mais do que todos os outros filhos, porque ele era o filho de sua velhice; e mandara-lhe fazer uma túnica de várias cores.
4 Seus irmãos, vendo que seu pai o preferia a eles, conceberam ódio contra ele e não podiam mais tratá-lo com bons modos.
12 Os irmãos de José foram apascentar os rebanhos de seu pai em Siquém.
13 Israel disse a José: “Teus irmãos guardam os rebanhos em Siquém. Vem: vou mandar-te a eles.” “Eis-me aqui”, respondeu José.
17 E o homem respondeu: “Partiram daqui e ouvi-os dizer: Vamos a Dotain.” Partiu então José em busca dos seus irmãos e encontrou-os em Dotain.
18 Eles o viram de longe. Antes que José se aproximasse, combinaram entre si como o haveriam de matar;
19 e disseram: “Eis o sonhador que chega.
20 Vamos, matemo-lo e atiremo-lo numa cisterna; diremos depois que uma fera o devorou; e então veremos de que lhe aproveitaram os seus sonhos.”
21 Ouvindo-o, porém, Rubem, quis livrá-lo de suas mãos: “Não lhe tiremos a vida, disse ele.
22 Não derrameis sangue. Jogai-o naquela cisterna, no deserto, mas não levanteis vossa mão contra ele.” Pois Rubem pensava livrá-lo de suas mãos para o reconduzir ao pai.
23 Quando José se aproximou de seus irmãos, eles o despojaram de sua túnica, daquela bela túnica de várias cores que trazia,
24 e jogaram-no numa cisterna velha, que não tinha água.
25 E, sentando-se para comer, eis que, levantando os olhos, viram surgir no horizonte uma caravana de ismaelitas vinda de Galaad. Seus camelos estavam carregados de resina, de bálsamo e de ládano, que transportavam para o Egito.
26 Então Judá disse aos seus irmãos: “Que nos aproveita matar nosso irmão e ocultar o seu sangue?
27 Vinde e vendamo-lo aos ismaelitas. Não levantemos nossas mãos contra ele, pois, afinal, é nosso irmão, nossa carne.” Seus irmãos concordaram.
28 E, quando passaram os negociantes madianitas, tiraram José da cisterna e venderam-no por vinte moedas de prata aos ismaelitas, que o levaram para o Egito.
Palavra do Senhor
Lembrai sempre as maravilhas do Senhor!
Mandou vir, então, a fome sobre a terra
e os privou de todo pão que os sustentava;
um homem enviara à sua frente,
José, que foi vendido como escravo.
Apertaram os seus pés entre grilhões
e amarraram seu pescoço com correntes,
até que se cumprisse o que previra,
e a palavra do Senhor lhe deu razão.
Ordenou, então, o rei que o libertassem,
o soberano das nações mandou soltá-lo;
fez dele o senhor de sua casa,
e de todos os seus bens o despenseiro.
Jesus Cristo, sois bendito, sois o ungido de Deus Pai!
Deus o mundo tanto amou, que lhe deu seu próprio Filho, para que todo o que nele crer encontre vida eterna (Jo 3,16).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus.
Naquele tempo, dirigindo-se Jesus aos chefes dos sacerdotes e aos anciãos do povo, disse-lhes: 21 33 “Ouvi outra parábola: havia um pai de família que plantou uma vinha. Cercou-a com uma sebe, cavou um lagar e edificou uma torre. E, tendo-a arrendado a lavradores, deixou o país.
34 Vindo o tempo da colheita, enviou seus servos aos lavradores para recolher o produto de sua vinha.
35 Mas os lavradores agarraram os servos, feriram um, mataram outro e apedrejaram o terceiro.
36 Enviou outros servos em maior número que os primeiros, e fizeram-lhes o mesmo.
37 Enfim, enviou seu próprio filho, dizendo: ‘Hão de respeitar meu filho’.
38 Os lavradores, porém, vendo o filho, disseram uns aos outros: ‘Eis o herdeiro! Matemo-lo e teremos a sua herança!’
39 Lançaram-lhe as mãos, conduziram-no para fora da vinha e o assassinaram.
40 Pois bem: quando voltar o senhor da vinha, que fará ele àqueles lavradores?”
41 Responderam-lhe: “Mandará matar sem piedade aqueles miseráveis e arrendará sua vinha a outros lavradores que lhe pagarão o produto em seu tempo”.
42 Jesus acrescentou: “Nunca lestes nas Escrituras: ‘A pedra rejeitada pelos construtores tornou-se a pedra angular; isto é obra do Senhor, e é admirável aos nossos olhos’?
43 Por isso vos digo: ser-vos-á tirado o Reino de Deus, e será dado a um povo que produzirá os frutos dele”.
45 Ouvindo isto, os príncipes dos sacerdotes e os fariseus compreenderam que era deles que Jesus falava.
46 E procuravam prendê-lo; mas temeram o povo, que o tinha por um profeta.
Palavra da Salvação.
Reflexão
Hoje, o Evangelho nos apresenta a parábola dos vinhateiros homicidas. A vinha, como sabemos, representa o Povo de Deus; o herdeiro assassinado, o próprio Cristo Jesus; os algozes, enfim, fazem as vezes dos sumos sacerdotes e fariseus. Somos aqui confrontados com uma dinâmica a que poderíamos chamar "contraditória". Temos, de um lado, a realidade da eleição divina: é Deus quem escolhe os seus eleitos, cumulando-os com graças e dons convenientes; de outro lado, deparamos com a atitude invejosa dos vinhateiros, infelizes com aquilo que receberam: "Este é o herdeiro. Vinde, vamos matá-lo e tomar posse da sua herança!" O Senhor, por fim, conclui essa parábola com aquelas fortes palavras do salmista: "A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se a pedra angular" (Sl 118, 22).
Vemos aqui como que um resumo da história dos justos, desde Abel, dileto de Deus e morto por causa da inveja de Caim, passando por José, destinado a salvar os hebreus e vendido como escravo pelos próprios irmãos, até enfim chegarmos a Jesus, sobre o qual toda injustiça e inveja humanas recaem furiosas e avassaladores, a ponto de reduzirem à mais ignominiosa morte o Senhor da verdadeira vida. Assistimos, desde sempre atuante na história humana, ao mesmo princípio que fez Satanás e seus sequazes revoltarem-se contra Deus: "Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono", dissera no início de sua rebelião o pai da mentira, "e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte. Subirei sobre as alturas das nuvens, e serei semelhante ao Altíssimo" (Is 14, 13s).
Eis aí a inveja e a soberba demoníacas; eis aí a dinâmica de revolta contra o Pai de misericórdias que, desde a formação dos céus e da terra, clama por justiça. É a revolta contra o estado em que o Senhor nos pôs; é a indignação com o modo — "muito bom" (cf. Gn 1, 31) — com que Ele nos formou; é a insatisfação com os dons, variados e desiguais, com que Ele presenteia e orna cada um de seus filhos, chamados a formar, como membros diversos num só corpo, a mesma família. Pois o Senhor nos faz diferentes para que dependamos e precisemos uns dos outros e reconheçamos a nossa insuficiência, a nossa pequenez. Volvamos hoje os olhos para o Cristo, perfeito homem e inteiramente Deus; contemplemos nele o cúmulo de todas as virtudes, a sublimidade de toda sabedoria, a profundidade de tão grande e divino amor. Que o Senhor afaste do nosso coração toda sombra de inveja e nos encha de alegria ao vermos as graças concedidas a nossos irmãos, também eles chamados e eleitos por Deus.
https://padrepauloricardo.org
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