O Doutor Angélico compôs certa vez
uma oração para pedir a Deus as virtudes necessárias para a nossa vida,
e tinha o costume de recitá-la diariamente e com grande devoção.
De acordo com frei Guilherme de Tocco (c. 1250 – c. 1323), seu
primeiro e mais importante biógrafo, além de peça-chave em seu processo
de canonização, Santo Tomás de Aquino tinha o costume de recitar diariamente e com grande devoção a seguinte oração, composta por ele mesmo e da qual oferecemos abaixo uma versão em português.
O texto latino desta prece foi preservado e transmitido por Tocco na quarta e última edição de sua obra “Ystoria sancti Thome”, de meados de 1323, e encontra-se disponível aqui.
Concedei-me, ó Deus onipotente e misericordioso, ardentemente desejar, prudentemente descobrir, verazmente conhecer e perfeitamente realizar o que for do vosso agrado.
Para louvor e glória do vosso nome, ordenai meu estado de vida e dai-me saber, poder e querer o que me pedis que faça. E dai-me levá-lo a cabo como convém à salvação de minha alma.
Que o meu caminho até vós seja reto e seguro. Que eu não sucumba na prosperidade nem na adversidade, a fim de não me ensoberbecer na primeira nem desesperar na segunda. Que na fortuna eu vos renda graças e na dificuldade mantenha a paciência. Que eu de nada me alegre ou entristeça senão do que me leve a vós ou afaste de vós. Que a ninguém deseje agradar nem tema aborrecer senão somente a vós.
Dai-me tudo fazer com caridade e o que não diz respeito ao vosso
culto, reputá-lo como morto. Dai-me praticar minhas ações, não por
costume, mas referindo-as a vós com devoção.
Que por vós eu não dê valor às coisas transitórias, e me seja caro
tudo o que vos diz respeito. Que me compraza, mais do que tudo, todo
trabalho que for para vós e me aborreça todo descanso que não seja em vós.
Dai-me, dulcíssimo Senhor, dirigir-vos meu coração frequente e
ferventemente e, de alma contrita, emendar com firme propósito a minha
fraqueza.
Fazei-me, ó Deus, humilde sem fingimento; alegre sem dissipação; grave sem depressão; maduro sem severidade; vivaz sem leviandade; veraz sem duplicidade; temente sem desespero; confiante sem presunção; casto sem corrupção; corrigir ao próximo sem indignação e edificá-lo por exemplo e palavra sem exageração; obediente sem contradição; paciente sem murmuração.
Dai-me, dulcíssimo Jesus, um coração desperto, para que nenhuma vã curiosidade o afaste de ti; imóvel, para que não ceda a nenhum afeto indigno; infatigável, para que não sucumba em nenhuma tribulação; livre, para que dele não se apodere nenhum prazer violento; e reto, para que não o faça desviar-se nenhuma má intenção.
Concedei-me, dulcíssimo Deus, inteligência para conhecer-vos; diligência para buscar-vos; sabedoria para encontrar-vos; bondade para agradar-vos; perseverança para esperar-vos doce e fielmente; confiança
para alcançar-vos felizmente. Fazei-me, pela penitência, suportar
vossas penas; utilizar vossos benefícios nesta vida pela graça; e por
fim, na pátria eterna, desfrutar de vossos gozos pela glória.
Vós, que com o Pai e o Espírito Santo, viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.
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