sábado, 30 de junho de 2018

“Eu não preciso de Deus para ser bom”

 
O Catequista

O que podemos pensar dessa e de outras afirmações típicas dos ateus?

Há pessoas que se consideram autossuficientes em sua “bondade”. O venerável Arcebispo Fulton Sheen se referia ironicamente a elas como como the nice people – pessoas legais.
As pessoas legais veem a crença em Deus como necessária somente aos mais fracos, que precisam que uma força divina os obrigue a agir de forma ética e solidária, sob ameaça de punição.
De fato, não é preciso ter uma religião para ser um cidadão correto. “Todos temos um código moral intrínseco. Não preciso dos Dez Mandamentos para saber que não devo matar alguém”, disse o autor agnóstico Dan Brown. Essa declaração está de acordo com o ensinamento de São Paulo:
Os pagãos, que não têm a lei, fazendo naturalmente as coisas que são da lei, embora não tenham a lei, a si mesmos servem de lei; eles mostram que o objeto da lei está gravado nos seus corações, dando-lhes testemunho a sua consciência, bem como os seus raciocínios, com os quais se acusam ou se escusam mutuamente. (Romanos 2, 14-15)
A ideia comum de “boa pessoa” é simplesmente a de alguém que não mata e não rouba, e que, eventualmente, até pratica alguns atos de solidariedade. Isso é bem distante do ideal cristão de “homem novo”: aquele que busca alcançar a santidade. Para sem bom (dentro do critério de bondade meramente mundano), ninguém precisa de religião. Mas para ser santo, só mesmo implorando a graça de Deus.
Essa diferença fica clara no encontro de Cristo com o jovem rico. O jovem não matava, não roubava, respeitava os pais, não mentia. Tudo isso ele já fazia, mesmo antes de ter encontrado o Senhor. Porém, Jesus lhe indicou que, se o seu desejo era ir além e alcançar a perfeição, deveria deixar seus bens e segui-Lo (Mateus 19,16-21).
Cristo e o Evangelho não são métodos de aprimoramento pessoal. Quem vê a religião assim, acaba desanimando e abandonando a prática religiosa, ou então se afunda cada vez mais no moralismo – uma prática devocional que se reduz ao seguimento de regras. Porque, mais cedo ou mais tarde, a pessoa descobre que não precisa de Cristo para ser uma pessoa legal (nice people), com um comportamento considerado ético e até admirável pela sociedade.
O cristianismo não tem por objetivo nos ensinar a ser pessoas legais, mas sim nos mostrar como podemos morrer e nascer de novo, ressurgindo para o mundo como novas criaturas. Por isso, Jesus disse a Nicodemos: “quem não nascer de novo não poderá ver o Reino de Deus” (João 3, 3).
Essa morte que precede o renascimento espiritual, necessariamente, passa pela dor de carregar com amor as nossas cruzes diárias – desde as pequeninas até as grandes cruzes.
“Eu era um bêbado. Vivia drogado. Hoje estou curado, pois encontrei Jesus! Encontrei Jesus!” (Grupo Asa de Águia. Xô Satanás). Os versos desse “clássico” da música axé expressam uma verdade: a religião tem um efeito moralizador, que injeta equilíbrio em vidas que antes estavam perdidas no caos. São muitos os testemunhos de pessoas que viviam no crime, na prostituição ou escravizadas pelas drogas, e que só se libertaram dessas amarras após abraçarem alguma prática religiosa. Obviamente, isso não é ruim, é muito bom. Entretanto, a religião não existe meramente para isso.
Reduzir o papel da religião à tarefa de nos tornar “bons meninos” e “boas meninas” (ou “homens e mulheres de bem”) é equipará-la à prática esportiva, à psicanálise, às ONGs ou à meditação. Porque, assim como muitos largaram as drogas, o crime e a prostituição graças à igreja, outros tantos conseguiram o mesmo efeito por aqueles outros meios.
Jesus Cristo não tomou bofetada na cara e morreu na cruz para fazer o mesmo que um bom terapeuta, um grande amor humano ou uma mãe brava com uma chinela nas mãos poderiam fazer. Ele é Deus! A proposta de Cristo não é nos tornar pessoas melhores: é nos fazer NOVAS CRIATURAS.
Dar-vos-ei um coração novo e em vós porei um espírito novo; tirar-vos-ei do peito o coração de pedra e dar-vos-ei um coração de carne. Dentro de vós meterei meu espírito, fazendo com que obedeçais às minhas leis e sigais e observeis os meus preceitos. (Ezequiel 36 26-27)
A Boa Nova é uma doutrina de regeneração radical, não de mero aprimoramento. É uma proposta de vida para pessoas que se reconhecem como nada sem Deus. Isso fica evidente na parábola do fariseu e do publicano:
Subiram dois homens ao templo para orar. Um era fariseu; o outro, publicano. O fariseu, em pé, orava no seu interior desta forma: Graças te dou, ó Deus, que não sou como os demais homens: ladrões, injustos e adúlteros; nem como o publicano que está ali. Jejuo duas vezes na semana e pago o dízimo de todos os meus lucros. O publicano, porém, mantendo-se à distância, não ousava sequer levantar os olhos ao céu, mas batia no peito, dizendo: Ó Deus, tem piedade de mim, que sou pecador! Digo-vos: este voltou para casa justificado, e não o outro. Pois todo o que se exaltar será humilhado, e quem se humilhar será exaltado. (Lucas 18, 10-14)
Essa passagem do Evangelho é desconcertante! A pessoa mostrada por Cristo como referência é um exemplo de arrependimento, não um exemplo de moral. Porque somente quem reconhece o seu nada está pronto para reconhecer que precisa ser preenchido pelo tudo de Deus.
Nisso consiste o plano de Deus para a nossa vida: nos transformar em um “outro Cristo”: “Eu vivo, mas já não sou eu; é Cristo que vive em mim” (Gálatas 2, 20).
Quem pratica a religião simplesmente como um meio de se “manter na linha” é o tipo que mais facilmente se desespera e perde a fé quando as coisas vão mal. Quando as doenças, as traições, os problemas financeiros, a morte de alguém amado ou a humilhação batem à porta, a pessoa se revolta, pois não acha justo Deus ter permitido tais sofrimentos abaterem alguém “tão bom” como ele: “Ain, eu não merecia isso!”.
Antes de tudo, Deus não espera de nós um bom comportamento, mas sim ARREPENDIMENTO e FÉ. Sobre essa dupla base, ELE FARÁ A SUA OBRA EM NÓS, Ele transformará nosso coração por meio da ação do Espírito Santo. Por isso São Paulo ensina que seremos salvos pela fé, e não pelas obras, para que ninguém se vanglorie (Efésios 2, 8,9).
Transformados pela graça de Deus, podemos ser cada vez mais capazes de realizar as boas obras, que são o sinal de uma fé verdadeira. Pois Cristo nos criou para as boas ações, que devem ser por nós praticadas (Efésios 2, 10).




(via Catequista)

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