Deus
nos livre dos exageros e dos paradoxos, mas naturalmente nos vem à
memória as palavras de um bispo a uns missionários que se queixavam dos
pecados que presenciavam no exercício do seu ministério: “Qual seria a
vossa razão de ser, meus bons padres, se não houvesse pecadores?” Jesus
Cristo, Sacerdote eterno, nossa Salvador, permita-nos que vo-lo diga:
qual seria a razão de ser da vossa vida mortal e dos vossos sofrimentos
inauditos, e de que serviriam os vossos sacramentos e a vossa Igreja, se
não houvesse pecados que perdoar? Que faríeis da vossa misericórdia, se
não houvesse miseráveis?”
Disse certa vez Santa Gertrudes: “Quando Jesus não encontra almas tão
virgens às quais possa ir como Esposo, permite que a doença as assalte a
fim de poder ir a elas como médico”. A alegria e a honra que o doente
proporciona ao médico, a quem confia as suas chagas e todas as suas
possibilidades de cura, são as mesmas que o pecador proporciona ao
divino Samaritano quando lhe apresenta as suas faltas para que as cure.
Se Deus foi ofendido pelo pecado, o Salvador é glorificado pelo perdão
que o destrói. A julgar pelos favores de que Deus inunda os filhos
pródigos que retornam, dá verdadeiramente a impressão de Ele quer
agradecer-lhes por lhe terem dado ocasião de satisfazer os desejos e as
necessidades da sua clemência.
“Portanto,
minha alma, conclui o Venerável Alexandre de São Francisco, se te
reconheces doente, peço-te, por favor, que não tenhas receio de recorrer
ao Médico; pelo contrário, procura-o com tanto mais confiança quanto
foi por ti que Ele desceu com passos de gigante das alturas do Céu (cf.
SI 18). Ele veio curar-te da doença do pecado, porque ele sabe que o
médico é necessário aos enfermos e não àqueles que têm saúde (Mt 9,12). É
uma loucura nociva a dos pecadores que encontram motivos para fugir do
médico justamente naquilo que deveria dar-lhes maior confiança para o
procurarem! Insensato quem receia encontrar um adversário indignado
naquele que veio curá-lo!”
O ímpio foge sem que ninguém o persiga (Pr 28,1). E se é estranho que
uma pessoa fuja sem que ninguém a persiga, quanto mais estranho é o
ímpio fuja quando não só ninguém o persegue, mas a própria Bondade
divina o chama insistentemente e corre para junto dele, oferecendo-lhe a
sua misericórdia e apresentando-lhe um antídoto para os seus males, com
a promessa de que lhe dará tudo o que ele pedir para a sua eterna
salvação!
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