Fidem
posside cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris ―
“Guarda fé ao teu amigo na sua pobreza, para que também te alegres com
ele nas suas riquezas” (Ecclus. 22, 28).
Para
desagravar o Senhor ao menos um pouco dos ultrajes que lhe são feitos,
os Santos aplicavam-se nestes dias do carnaval, de modo especial, ao
recolhimento, à oração, à penitência, e multiplicavam os atos de amor,
de adoração e de louvor para com seu Bem-Amado. Procuremos imitar estes
exemplos, e se mais não pudermos fazer, visitemos muitas vezes o
Santíssimo Sacramento e fiquemos certos de que Jesus Cristo no-lo
remunerará com as graças mais assinaladas. Por este amigo, a quem o
Espírito Santo nos exorta a sermos fiéis no tempo da sua pobreza,
podemos entender Jesus Cristo, que especialmente nestes dias de carnaval
é deixado sozinho pelos homens ingratos e como que reduzido à extrema
penúria. Se um só pecado, como dizem as Escrituras, já desonra a Deus, o
injuria e o despreza, imagina quanto o divino Redentor deve ficar
aflito neste tempo em que são cometidos milhares de pecados de toda a
espécie, por toda a condição de pessoas, e quiçá por pessoas que Lhe
estão consagradas.
Jesus
Cristo não é mais suscetível de dor; mas, se ainda pudesse sofrer,
havia de morrer nestes dias desgraçados e havia de morrer tantas vezes
quantas são as ofensas que lhe são feitas. É por isso que os santos,
afim de desagravarem o Senhor um pouco de tantos ultrajes, aplicavam-se
no tempo de carnaval, de modo especial, ao recolhimento, à penitência, à
oração, e multiplicavam os atos de amor, de adoração e de louvor para
com o seu Bem-Amado. No tempo de carnaval Santa Maria Madalena de Pazzi
passava as noites inteiras diante do Santíssimo Sacramento, oferecendo a
Deus o sangue de Jesus Cristo pelos pobres pecadores. O Bem-aventurado
Henrique Suso guardava um jejum rigoroso afim de expiar as intemperanças
cometidas. São Carlos Borromeu castigava o seu corpo com disciplinas e
penitências extraordinárias. São Filipe Néri convocava o povo para
visitar com ele os santuários e exercícios de devoção.
O
mesmo praticava São Francisco de Sales, que, não contente com a vida
mais recolhida que então levava, pregava ainda na igreja diante de um
auditório numerosíssimo. Tendo conhecimento que algumas pessoas por ele
dirigidas se relaxavam um pouco nos dias de carnaval, repreendia-as com
brandura e exortava-as à comunhão frequente. Numa palavra, todos os
santos, porque amaram a Jesus Cristo, esforçaram-se por santificar o
mais possível o tempo de carnaval. Meu irmão, se amas também este
Redentor amabilíssimo, imita os santos. Se não podes fazer mais, procura
ao menos ficar, mais do que em outros tempos, na presença de Jesus
sacramentado, ou bem recolhido em tua casa, aos pés de Jesus
crucificado, para chorar as muitas ofensas que lhe são feitas.
Ut et in bonis illius laeteris
― “para que te alegres com ele nas suas riquezas”. O meio para
adquirires um tesouro imenso de méritos e obteres do céu as graças mais
assinaladas, é seres fiel a Jesus Cristo em sua pobreza e fazeres-Lhe
companhia neste tempo em que é mais abandonado pelo mundo: Fidem posside
cum amico in paupertate illius, ut et in bonis illius laeteris. Oh,
como Jesus agradece e retribui as orações e os obséquio que nestes dias
de carnaval Lhe são oferecidos pelas almas suas prediletas!
Conta-se
na vida de Santa Gertrudes que certa vez ela viu num êxtase o divino
Redentor que ordenava ao Apóstolo São João escrevesse com letras de ouro
os atos de virtude feitos por ela no carnaval, afim de a recompensar
com graças especialíssimas. Foi exatamente neste mesmo tempo, enquanto
Santa Catarina de Sena estava orando e chorando os pecados que se
cometiam na quinta-feira gorda, que o Senhor a declarou sua esposa, em
recompensa (como disse) dos obséquio praticados pela Santa no tempo de
tantas ofensas.
Amabilíssimo
Jesus, não é tanto para receber os vossos favores como para fazer coisa
agradável ao vosso divino Coração, que quero nestes dias unir-me às
almas que Vos amam, para Vos desagravar da ingratidão dos homens para
convosco, ingratidão essa que foi também a minha, cada vez que pequei.
Em compensação de cada ofensa que recebeis, quero oferecer-Vos todos os
atos de virtude, todas as boas obras, que fizeram ou ainda farão todos
os justos, que fez Maria Santíssima, que fizestes Vós mesmo, quando
estáveis nesta terra. Entendo renovar esta minha intenção todas as vezes
que nestes dias disser: + Meu Jesus, misericórdia (1). ― Ó grande Mãe
de Deus e minha Mãe Maria, apresentai vós este humilde ato de desagravo a
vosso divino Filho, e por amor de seu sacratíssimo Coração obtende para
a Igreja sacerdotes zelosos, que convertam grande número de pecadores.
(Santo
Afonso Maria de Ligório. Meditações: Para todos os Dias e Festas do
Ano: Tomo Primeiro: Desde o primeiro Domingo do Advento até Semana Santa
inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 272-274.)
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