Não me abandoneis jamais, Senhor; meu Deus, não fiqueis longe de mim! Depressa, vinde em meu auxílio, ó Senhor, minha salvação! (Sl 37,22s)
“Outrora fostes desobedientes a Deus”: toda a humanidade encontrava-se mergulhada no pecado, mas, por sua infinita misericórdia, o Senhor abriu as portas da salvação para todos, especialmente para os mais desamparados. Ele nos ama não porque somos bons, mas para que sejamos bons.
Leitura da carta de São Paulo aos Romanos – Irmãos, 29os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis. 30Outrora, vós fostes desobedientes a Deus, mas agora alcançastes misericórdia em consequência da desobediência deles. 31Assim são eles agora os desobedientes, para que, em consequência da misericórdia usada convosco, alcancem finalmente misericórdia. 32Com efeito, Deus encerrou todos os homens na desobediência, a fim de exercer misericórdia para com todos. 33Ó profundidade da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! Como são inescrutáveis os seus juízos e impenetráveis os seus caminhos! 34De fato, quem conheceu o pensamento do Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? 35Ou quem se antecipou em dar-lhe alguma coisa, de maneira a ter direito a uma retribuição? 36Na verdade, tudo é dele, por ele e para ele. A ele, a glória para sempre. Amém! – Palavra do Senhor.
Respondei-me, ó Senhor, pelo vosso imenso amor!
1. Pobre de mim, sou infeliz e sofredor! / Que vosso auxílio me levante, Senhor Deus! / Cantando, eu louvarei o vosso nome / e, agradecido, exultarei de alegria! – R.
2. Humildes, vede isto e alegrai-vos: † o vosso coração reviverá / se procurardes o Senhor continuamente! / Pois nosso Deus atende à prece dos seus pobres / e não despreza o clamor de seus cativos. – R.
3. Sim, Deus virá e salvará Jerusalém, † reconstruindo as cidades de Judá, / onde os pobres morarão, sendo seus donos. / A descendência de seus servos há de herdá-las, † e os que amam o santo nome do Senhor / dentro delas fixarão sua morada! – R.
Aleluia, aleluia, aleluia.
Se guardais minha palavra, diz Jesus, / realmente vós sereis os meus discípulos (Jo 8,31s). – R.
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas – Naquele tempo, 12dizia Jesus ao chefe dos fariseus que o tinha convidado: “Quando tu deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos, nem teus irmãos, nem teus parentes, nem teus vizinhos ricos. Pois estes poderiam também convidar-te e isso já seria a tua recompensa. 13Pelo contrário, quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. 14Então tu serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”. – Palavra da salvação.
O Evangelho de hoje apresenta-nos mais um trecho exclusivo de São Lucas. Estando em casa de um dos chefes dos fariseus por ocasião de um banquete, Jesus diz ao seu anfitrião: “Quando deres um almoço ou um jantar, não convides teus amigos nem teus irmãos nem teus parentes nem teus vizinhos ricos” (v. 12), ou seja, nenhum daqueles que, por obrigação ou cortesia, vão retribuir-te com outro banquete ou algum tipo de presente. Antes, “quando deres uma festa, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos” (v. 13), isto é, todos aqueles que não podem retribuir-te o favor nesta vida, pois a recompensa dos justos será dada no dia da ressurreição (v. 14). Lido um pouco à ligeira, poderíamos pensar que este Evangelho soa um tanto “interesseiro”: não devemos, por um lado, fazer boas obras com vistas a uma recompensa neste mundo, mas nada nos impediria, por outro, de fazê-las com os olhos na recompensa da vida futura. Isso, se não é errado de todo [1], não é contudo o essencial deste Evangelho. Se as lemos em seu contexto, em conexão com a leitura do último sábado, vemos que estas palavras de Cristo são um chamado à gratidão. Com efeito, nós já fomos convidados para um banquete ao qual não temos direito algum; somos nós aqueles “pobres, aleijados, coxos e cegos” que, sem poder compensar em estrita justiça a caridade divina, foram convidados para a festa dos santos no céu. Por isso, cabe-nos agora, como manifestação de agradecimento pelo amor com que fomos amados, imitar a generosíssima liberalidade de Deus, amando-o no irmão a quem podemos ver (cf. 1Jo 4, 20). Se Deus nos salvou do fogo eterno e nos concedeu um lugar à sua mesa, a nós que éramos inimigos seus e objetos de sua ira (cf. Rm 5, 10), por que não nos humilhamos, reconhecendo o quanto recebemos por pura graça, e expandimos o nosso coração para aqueles que foram chamados a ser comensais conosco no banquete eterno? Que possamos transbordar de gratidão a Deus, amando-o concretamente nos irmãos que Ele pôs ao nosso lado: “Então serás feliz! Porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos”.
Notas
- De fato, não deixam de ser justas e meritórias as boas obras realizadas em graça e com a intenção de ir para o céu. Ensina-o o Concílio de Trento, ao condenar no cânon 26 da 6.ª sessão: “Se alguém disser que os justos não devem, pelas boas obras feitas em Deus (cf. Jo 3, 21), aguardar e esperar de Deus a eterna recompensa por sua misericórdia e pelo mérito de Jesus Cristo, se, operando o bem e observando os divinos mandamentos, tiverem perseverado até ao fim (cf. Mt 10, 22; 24, 13): seja anátema” (DH 1576).
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