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Não seja mais escravo dos seus medos
Eu
conhecia a Kathryn vários anos antes de ela vir conversar comigo.
Kathryn parecia ser uma mulher segura e trabalhadora, com uma fé firme. Mesmo sendo tímida, ela visivelmente fazia verdadeiros esforços para manter amizades em nossa igreja e na comunidade.
Quando começamos a conviver mais intimamente, eu me tornei ciente de
problemas em sua vida que eu nunca havia suspeitado. Kathryn disse que
estava se tornando cada vez mais temerosa e que estava preocupada de
talvez estar desenvolvendo agorafobia. Agorafobia é o nome comumente
dado a uma maneira de responder à vida que leva à fuga de certas
atividades ou situações. Um agorafóbico procura evitar coisas como
dirigir, ficar em uma fila, ir às compras ou participar de reuniões ou
encontros sociais, e pode até se recusar a sair de casa.
À medida que Kathryn compartilhava sua história comigo, vi o quanto
era difícil para ela admitir que estava com medo de fazer compras em um
shopping local. A razão para o seu medo? Ela temia que se ela ficasse em
um local muito longe de uma porta de saída, isso lhe pudesse causar
náuseas e vômitos. O medo de Kathryn havia se tornado uma corda em volta
do seu pescoço que se estreitava cada dia mais e a mantinha amarrada
cada vez mais perto de sua casa. Kathryn estava experimentando a verdade
das palavras de Spurgeon: “Nossos medos infundados são nossos
principais algozes”.
Kathryn sabia que o seu medo não era razoável, especialmente porque o
que ela temia – vomitar no shopping – nunca havia realmente acontecido.
Sua confusão foi agravada pela culpa que sentia por estar causando
problemas à sua família e, particularmente, ao seu marido. Ela também
acreditava que seus medos irracionais eram pecaminosos, então, ela
estava preocupada com a sua salvação e achava que era uma decepção para o
Senhor.
O que estava acontecendo na vida de Kathryn? Será que ela tinha algum
problema místico bizarro? Será que ela só precisava orar ou ler mais a
Bíblia? Será que ela poderia encontrar, na Bíblia, respostas concretas
para o seu problema? O que era exatamente essa emoção que parecia
governá-la, e de onde vinham esses sentimentos?
Entendendo o Lado Físico do Medo
Vamos
analisar o lado físico dessa emoção. Como todas as nossas emoções, o
medo é experimentado tanto em nossa mente quanto em nosso corpo,
causando reações físicas intensas.
Fisicamente, o medo é uma reação ao perigo percebido. Porque Deus nos
amou, ele nos criou com a capacidade de respondermos rapidamente a
situações de perigo. Aqui está um exemplo: imagine que você acabou de
perceber que o seu carro parou em uma estrada de ferro. Você ouve um
apito, levanta a cabeça e vê que um trem está se aproximando. Assim que
esses fatos são registrados em seu cérebro, o seu corpo entra
automaticamente em intensa atividade. O seu cérebro recebe o aviso de
que o perigo é iminente e ordena que o seu corpo libere rapidamente uma
série de hormônios, incluindo a adrenalina. Uma vez que esses hormônios
são liberados na corrente sanguínea, certas mudanças físicas acontecerão
imediatamente. Seus músculos ficarão tensos para prepará-la para a
ação. Sua frequência cardíaca e respiração serão aceleradas para lhe
fornecer oxigênio e força extra. Mesmo a sua visão e audição se tornarão
mais aguçadas. Seu pé, então, apertará o pedal do acelerador até o
chão, e você se moverá mais rapidamente do que jamais imaginou ser
possível. Todas essas mudanças acontecerão imediatamente, em um
instante.
Sempre que nos encontramos confrontadas com o perigo, é fácil
percebermos como a graça de Deus se revela até na forma como fomos
criadas. Os atributos físicos que ajudam a nos proteger do perigo são
verdadeiramente um bom presente, não são?
O projeto de Deus para o nosso corpo é incrível, como o Salmo 139.14
diz: “por modo assombrosamente maravilhoso me formaste”. Deus nos
presenteou com essas habilidades físicas para que pudéssemos sobreviver
em um mundo, às vezes, perigoso.
Você notou que eu disse que o medo é uma reação a um perigo
percebido. Eu propositadamente defini medo dessa forma porque às vezes
nossas mentes percebem ou imaginam um perigo que não existe. Todo mundo
já experimentou a sensação de acordar de um pesadelo com o coração
batendo forte e a respiração acelerada. Nessas ocasiões, o perigo ao
qual o nosso corpo está reagindo está inteiramente em nossa mente.
Apesar disso, o nosso corpo reage como se tivéssemos enfrentado uma
ameaça real. Como você pode ver, nossas mentes afetam os nossos corpos
de formas muito poderosas – e Kathryn reconhecia isso.
O medo de Kathryn de que pudesse vomitar no shopping era irracional.
Mesmo o seu medo sendo infundado, seu corpo não era capaz de diferenciar
entre alarmes falsos e verdadeiros. Ele simplesmente respondia da
maneira que era para ele responder. Não importava o fato de o perigo não
ser legítimo. Sempre que ia ao shopping, ela tinha medo de experimentar
todas as mudanças físicas que ela temia, e o seu medo a fazia sentir-se
enjoada e a convencia de que, provavelmente, ela perderia o controle e
constrangeria a sim mesma. Entende? Ela, na verdade, tinha medo de ficar
com medo.
Não apenas o nosso corpo responde ao medo preparando-nos para evitar
ou atacar o perigo; também há momentos em que a nossa química corporal
nos influencia de formas mais sutis. Se estamos ocupadas com várias
coisas ou se nos acostumamos a viver sob altos níveis de estresse,
algumas vezes não notaremos as mudanças acontecerem. Não saberemos o que
está se passando em nossos corpos até que algum incidente ocorra e
torne isso evidente.
O Círculo Vicioso
O medo não afeta apenas o seu corpo e o seu comportamento, mas o
contrário também é verdadeiro. Se você for uma pessoa com uma
predisposição a reagir de forma temerosa, você estará mais propensa a
experimentar os sintomas físicos do medo se beber muita cafeína, comer
muito açúcar, não se exercitar ou não descansar o suficiente.
Se você geralmente se sente estressada com as suas responsabilidades
ou temerosa com a sua vida, você não se sentirá confortável relaxando e,
provavelmente, não reservará tempo para comer ou exercitar-se
adequadamente. A incapacidade de relaxar ou dormir de maneira saudável
aumentará a sua sensibilidade ao alarme e ao perigo, fazendo com que
mais adrenalina seja liberada em seu corpo, o que, por sua vez, pode
trazer ainda mais problemas para dormir. Beber cafeína para superar a
sensação de cansaço e lentidão causada pela falta de sono simplesmente
agravará o problema.
A partir dessa breve descrição, é possível enxergar a facilidade com
que o medo pode iniciar um círculo vicioso de pensamentos
descontrolados, respostas físicas, imaginações e cuidados negligenciados
com o corpo que podem servir para trazer ainda mais medo e respostas
físicas intensificadas. É fácil ver como os resultados do medo podem
criar mais medos, levando à escravidão total.
(via Alma com Flores)
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