Como escolher a postura correta? Como saber o que de verdade me convém? Não vou me equivocar e errar o caminho?
Não
sei bem como lidar com a incerteza na minha própria vida. Como fazer
para não temer diante do futuro incerto? Tenho medo de enfrentar o que
eu não controlo. Não ser dono dos tempos. Nem do resultado de minhas
apostas na vida.
Assusto-me ao ver que a paz e a guerra não dependem do desejo de meu
coração. Não quero ser tomado pela raiva quando eu vislumbrar caminhos
que não desejo. Nem que o medo me impeça de avançar quando tudo parecer
difícil e incerto.
Não quero que o fim justifique os meios que eu emprego para
alcançá-lo. Mesmo que o fim seja bom, às vezes os meios podem não ser
tão bons quanto. Não quero me ofuscar por possuir o que desejo. Não
quero que os sonhos e ideais que se apoderam de mim cheguem a tomar
conta da minha alma. Não quero me confundir e pensar que o que eu
consigo fazer é tudo o que eu posso e nada mais.
Não sei bem o que fazer quando as posições opostas se enfrentam sem
um aparente caminho de saída. Tudo é escuro ao meu redor. Às vezes, há
muita luz, muita esperança.
É verdade que eu não sei o que vai acontecer amanhã. Nem nos dias
seguintes. Não sei bem qual é o desejo de Deus para a minha vida. Nem
conheço seu desejo mais íntimo. Ele pronuncia esse desejo dentro de mim.
Mas eu não ou ouço. Talvez o barulho do mundo me perturbe.
Seguindo os passos de São Ignácio, eu lia: “Busque a vontade de
Deus. Uma proposta imensa e difícil. Você nunca se perguntou o que Deus
quer de você? Nunca discutiu com alguém, enchendo-se de incerteza? Na
vida, é conveniente buscar a vontade de Deus” [1].
Buscar o desejo de Deus quando tudo está cheio de dúvidas e medos.
Buscar a vontade Dele quando eu pretendo seguir meus desejos sozinho.
Buscar a vontade de Deus quando não controlo meus passos no meio da
noite.
Como escolher o posicionamento correto? Como saber o que de verdade me convém? Não vou me equivocar e errar o caminho? E se eu fracassar em minhas opções de vida e perder amigos e entes queridos para a vida inteira?
Às vezes, só quero ter certeza do futuro. Temo tanto a morte. Tenho
tanto medo de perder o que amo. A única coisa com que eu deveria me
preocupar é viver o momento. Amar sem barreiras. Sonhar mais alto, com o
bom, com o nobre, com o belo.
Mas, neste mundo inquieto e cheio de mudanças, não sei bem como fazer
para escolher o posicionamento correto, o lado adequado, o lugar
pacífico. Uns me dizem para seguir um caminho. Outros me mostram o
caminho oposto. Nos dois, há algo de verdadeiro. Nos dois, há algo de atrativo. Nos dois, há mentiras. Não sei como escolher o meu caminho.
Como fazer para encontrar meu caminho entre tantos possíveis? Como
fazer para não errar meus passos, para não deixar feridos com minhas
opções de vida? Há tantas incertezas neste caminho que fico andando de
um lado para o outro!
Como saber o que Deus me pede? Como saber onde ele quer que eu
entregue minhas forças? Como saber quando caminho segurando suas mãos?
Jesus passou pela Terra libertando os corações. Acolheu a todos.
Buscaram enquadrá-lo em uma postura, em um grupo. Quiseram fazer dele o
inimigo dos que eram contra. Quiseram que ele decidisse por um lado, sua
posição. Mas Jesus veio para todos ou somente para alguns?
Jesus não se deixou enganar. Não caiu no jogo dos homens. Não se alinhou a alguns, deixando os outros. Isso sempre me impressiona.
Ele poderia ter optado pelos poderosos do mundo para impor seu reino.
Poderia ter escolhido os mais sábios e os conhecedores da lei. Poderia
ter se protegido. Mas não fez nada disso.
Não caiu no jogo dos enganos. Queriam sua ruína. Mas ele veio para
salvar a todos. Os bons e os maus. Os puros e os impuros. Os de um lado e
os de outro. Os que ninguém queria e os que todos amavam. Jesus se fez
carne para todos. Alma de um mundo ferido. E quis amar os que o
rejeitavam.
Seu imenso coração me mostra um caminho a seguir. Jesus foi um homem livre, que amou a todos. Sua liberdade estava no amor, não no ódio. Ele não defendeu sua postura com ódio. Não recorreu à violência para fazer vencer seus pontos de vista. Aquele que usa a violência perde a razão.
Tagore dizia: “A verdade não está do lado de quem grita mais”. Ele
guardou silêncio. Outros gritavam. Jesus me mostrou como eu tenho que
viver. Ele quer que eu ame até a morte. Quer que eu entregue meu coração
e, ao mesmo tempo, viva livre para doar-me.
Ele quer que eu deixe tudo para seguir seus passos: “Jesus os
convida a deixar a casa onde vivem, a família e as terras pertencentes
ao grupo familiar. Não é fácil. A casa é tudo: refúgio afetivo, lugar de
trabalho, símbolo da posição social. Desfazer uma casa é uma ofensa
grave para a família e uma desonra para todos. Mas, sobretudo, significa
lançar-se a uma insegurança total [2].
Jesus me convida a viver a incerteza dos caminhos, sem buscar
segurança. Convida-me a não me alinhar com os poderosos, a não me
esconder entre os que protegem meus passos. Ele me quer livre, sem ataduras, sem cordas. Assim quero viver.
[1] José María Rodríguez Olaizola, Ignacio de Loyola, nunca solo
[2] José Antonio Pagola, Jesús, aproximación histórica
Carlos Padilla Esteban
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