quarta-feira, 13 de julho de 2016

JESUS DESEJA SER CONSOLADO POR VOCÊ

Hoje em dia, com tantos ataques à dignidade de Deus, é urgente reaprendermos as práticas reparadoras para consolarmos o Coração de Cristo.


Ainda sobre a devoção ao Sagrado Coração de Jesus e ao Seu Preciosíssimo Sangue, é preciso tratar agora da necessária reparação às ofensas cometidas contra a honra de Nosso Senhor.
Infelizmente, embora faça parte da Tradição cristã, a prática da reparação não está mais na moda; pouquíssimas homilias ou pregações são dedicadas a esse tema tão importante para o crescimento na fé. Não são poucos, aliás, os que reprovam os sacrifícios de expiação e consolação, sentenciando-os ao passado medieval. Se a misericórdia de Deus é infinita, argumentam, não há por que fazer atos de reparação e desagravo, uma vez que nenhuma falta humana seria grande o suficiente para ofender o Coração de Jesus; afinal, Ele mesmo declarou: "Quero misericórdia e não sacrifício" (Mt 9, 13).
Outros ainda insistem que, tendo Cristo derramado Seu sangue até a última gota no dia da Paixão, as penitências já não fariam sentido e acabariam atentando contra o único e verdadeiro sacrifício redentor, pois insinuariam, de certo modo, uma insuficiência na Paixão de Cristo pela salvação dos pecadores.
É comum que, diante desse quadro de objeções aparentemente sensatas às práticas de reparação, o fiel leigo — ou mesmo sacerdote — sinta-se dissuadido a realizar qualquer obra de amor pela conversão dos pecadores, pelas almas do purgatório e, mais importante ainda, em desagravo aos ataques contra a dignidade de Deus. Acontece que a história dos santos, inclusive de santos doutores, como Tomás de Aquino e Agostinho, é tão fortemente marcada pelos sacrifícios e por atos de desagravo a Nosso Senhor que não há teologia neste mundo que possa impugnar ou relativizar a sua importância.
De qualquer modo, vale a pena esclarecer o equívoco daqueles que se opõem aos atos de reparação, a fim de que não reste qualquer dúvida sobre o assunto.
De fato, a misericórdia de Deus é infinita e cobre uma multidão de pecados. Falta nenhuma é capaz de superar o tamanho desse amor. Contudo, esse mesmo Deus, infinito em sua bondade, quis estabelecer uma relação com Sua criatura, quis tornar-se sua família e seu amigo. Ele não é um deus longínquo ou uma divindade pagã alheia às necessidades de suas criaturas, como acreditavam as antigas civilizações. Deus nos amou por primeiro, estabeleceu como que uma pedagogia, manifestando-se por meio de inúmeros profetas, até a plenitude dos tempos, quando enviou seu Filho unigênito, para que n'Ele todas as coisas fossem recapituladas (cf. Hb 1, 1-2).
Entende-se, pois, que Ele nos ama como amigo e que, por isso, somos chamados a dar uma resposta de amor, porque "a caridade é amizade do homem com Deus" [1]. Somente por meio dessa resposta o homem se realiza enquanto pessoa humana e torna-se aquilo que é chamado a ser. O desprezo pelo sagrado, porém, destrói a vocação e ratifica uma indiferença com relação Àquele de quem recebemos tudo.
Ora, se a amizade é o meio pelo qual Deus decidiu nos salvar, é óbvio que aqueles que O recusam põem em xeque a própria salvação, e não por uma limitação da misericórdia divina, que é infinita, mas por uma escolha trágica do indivíduo. Essa escolha, no entanto, pode ser atenuada justamente pela reparação que os irmãos desses infelizes oferecem a Deus, repetindo as palavras de Cristo na cruz: "Perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 34).
Ademais, Cristo mesmo desejou os nossos sacrifícios pela redenção da humanidade ao fundar Sua Igreja como membro de Seu Corpo. Esse corpo místico também é objeto da Paixão, como atestam estas palavras de São Paulo: "Completo na minha carne o que falta aos sofrimentos de Cristo pelo seu Corpo, que é a Igreja" (Cl 1, 24). Quando meditamos os sofrimentos de São Pio de Pietrelcina, cujas mãos se dignaram experimentar as próprias chagas do Senhor, ou as humilhações de Santa Bernadette, que teve de escutar da Madre Superiora que "não servia para nada", não há como não perceber a presença viva e atuante de Jesus carregando o madeiro até o calvário, pois, como diz São Paulo, "à medida que os sofrimentos de Cristo crescem para nós, cresce também a nossa consolação por Cristo" (2 Cor 1, 5).
Note-se ainda o episódio do Horto das Oliveiras (cf. Mc 14, 32s). O mesmo Jesus, que tantas vezes se retirou para orar sozinho no deserto, aparece assustado, com Sua alma triste até a morte e com o desejo de ser consolado por Seus discípulos. Não se trata de uma carência afetiva, é certo, mas de um grande mistério: o Deus que se fez homem completo para redimir os demais e ensiná-los o caminho para o verdadeiro amor. Na Cruz se espelham todas as dores da humanidade. Portanto, a reparação às ofensas contra Jesus também nos une aos padecimentos de todo o gênero humano: "Ele nos consola em todas as nossas aflições, para que, com a consolação que nós mesmos recebemos de Deus, possamos consolar os que se acham em toda e qualquer aflição" (2 Cor 1, 4). Quem ousaria pensar numa escola de amor melhor e mais eficaz do que essa?
É possível agora entender o que Jesus pretendia ensinar quando disse não querer "sacrifício", mas "misericórdia". O sacrifício ao qual Ele se referia era aquele baseado unicamente na lei; tratava-se de um ato legalista. As penitências reparadoras, por outro lado, têm como gênese o amor verdadeiro à Pessoa de Jesus, como explica o Papa Pio XI: "Quando a caridade dos fiéis se entibiesse, a caridade de Deus se apresenta para ser honrada com culto especial" [2]. A misericórdia não contraria as penitências, antes as incentiva.
A Igreja aprovou, ao longo de sua história, os mais variados tipos de mortificação e penitência, desde o jejum à abstinência de carne nas sextas-feiras. Algumas almas mais generosas, como São João Maria Vianney, São Josemaria Escrivá, São João Paulo II etc., não tiveram medo de dormir no chão — para experimentarem a frieza do calabouço onde Cristo ficou preso —, de flagelar-se com a disciplina — para sentirem os chicotes rasgarem as costas de Jesus —, ou de usar o cilício, para se unirem à Paixão redentora que foi coroada de espinhos. Existem, além disso, as práticas espirituais das "comunhões reparadoras" ou da chamada "hora santa" e também as sempre recomendáveis obras de misericórdia: dar de comer aos pobres, visitar os doentes, vestir os nus, dar bom conselho etc.
Recorde-se, porém, que a melhor prática de reparação às ofensas contra Deus é aquela em que nossa vontade é contrariada para conformar-se amorosamente à vontade do Criador, pois "quanto mais perfeitamente corresponda ao sacrifício do Senhor nossa oblação e sacrifício [...], tantos mais abundantes frutos de propiciação e de expiação para nós e para os demais perceberíamos" [3]. Neste sentido, que grande ocasião é o nosso cotidiano, cheio de contratempos e de frustrações, para amar e consolar o Coração de Jesus.
Nossa época exige dramaticamente atos de reparação às ofensas cometidas todos os dias contra o dulcíssimo Coração de Jesus. Isso ficou claro nas inúmeras aparições de Maria no último século e, em especial, na mensagem de Fátima, cujo centenário se aproxima. Naquela ocasião, Maria Santíssima escolheu três inocentes crianças para sofrerem pela conversão dos pecadores. Que testemunho belíssimo deram Lúcia, Jacinta e Francisco ao nosso século, que perde mais tempo cuidando do corpo em academias e clínicas de estética do que com a alma. Loucos! São João Maria Vianney mesmo disse que se as pessoas condenadas tivessem ao menos um segundo para poderem livrar-se do fogo eterno, o inferno estaria vazio. Ah, se os homens usassem o tempo que têm disponível para amar a Deus. Mas, desgraçadamente, esse tempo é gasto com bobagens, blasfêmias, pornografia e outras monstruosidades.
É tempo de misericórdia, proclamou o Papa Francisco. É tempo de dobrarmos nossos joelhos no chão, batermos no peito e clamarmos: "Miserere nobis, Domine, quia peccatores sumus — Tende piedade de nós, Senhor, porque somos pecadores". 












Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências

  1. Santo Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, q. 23, a. 1
  2. Pio XI, Carta Encíclica Miserentissimus Redemptor (8 de maio de 1928), n. 2.
  3. Ibid., n. 8.

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