A uma sociedade que abandonou a fé e considera um "desperdício" ser
cristão, a grande Santa Teresinha do Menino Jesus tem uma resposta a
oferecer. Para ela, a "perda de tempo" dos que amam a Deus é o "santo
desperdício" de quem ganha a eternidade!
O vocalista da banda de rock AC/DC, Brian Johnson, considera todas as religiões "uma perda de tempo".
O músico é parte de uma cultura que relegou a fé, a metafísica e a
transcendência para o segundo plano, como se fossem temas pouco
importantes – quando não "fantasiosos". É a geração que acredita que
"Deus morreu", que não sabe – ou não quer – rezar porque não está na
moda, e que vive, em última instância, sem um sentido pelo qual viver. Tragicamente,
antes de acharem que os religiosos perdem tempo indo à igreja, para
eles, só o fato de viver já é uma grandíssima perda de tempo.
A palavra "perda", no entanto, não é totalmente estranha ao vocabulário
dos Evangelhos. Deixando de lado a descrença e a provocação de Brian
Johnson, é preciso concordar que o seguimento de Jesus comporta uma
certa renúncia, não só do tempo que se tem, mas de todas as coisas. É o
próprio Senhor quem o ensina:
"Quem ama pai ou mãe mais do que a mim, não é digno de mim. E quem ama filho ou filha mais do que a mim não é digno de mim. E quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim. Quem buscar sua vida a perderá, e quem perder a sua vida por causa de mim a encontrará." (Mt 10, 37-39)
"Todo aquele que tiver deixado casas, irmãos, irmãs, pai, mãe, filhos ou campos, por causa do meu nome, receberá cem vezes mais e terá como herança a vida eterna." (Mt 19, 29)
"Se alguém quer vir após mim, renuncie a si mesmo, tome sua cruz, cada dia, e siga-me. Pois quem quiser salvar sua vida a perderá, e quem perder sua vida por causa de mim a salvará." (Lc 9, 23-24)
"Se alguém vem a mim, mas não me prefere a seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, seus irmãos e suas irmãs, e até à sua própria vida, não pode ser meu discípulo." (Lc 14, 26)
"Quem se apega à sua vida, perde-a; mas quem não faz conta de sua vida neste mundo, há de guardá-la para a vida eterna." (Jo 12, 25)
Não se pode enganar as pessoas "maquiando" ou adaptando as partes mais
duras do ensinamento de Cristo. As exigências da fé cristã são, de fato,
muito sérias. O amor que Nosso Senhor pede por parte dos que desejam
segui-Lo chega a soar escandaloso: é preciso preferi-lo aos próprios
parentes, à própria esposa, à própria vida!
O que não se pode perder de vista é o precioso tesouro escondido no campo (cf.
Mt 13, 44), a razão que faz com que tantos homens e mulheres,
de todos os povos e nações, de todas as raças e línguas, vendam tudo o
que têm, deixem tudo o que possuem e transformem tudo o que são, só para
se fazerem cristãos. Ao lado da perda que traz consigo o seguimento do
Evangelho, há um ganho infinitamente superior e absolutamente
incomparável: a amizade de Deus nesta vida e a felicidade perfeita no
Céu.
Santa Teresinha do Menino Jesus sabia muito bem disso. Em um de seus
poemas, ela dialoga com o Evangelho, na parte em que Maria de Betânia
lava os pés do Senhor com "perfume de nardo puro e muito caro". O
discípulo traidor, ao ver tamanho "desperdício", comenta: "Por que esse
perfume não foi vendido por trezentos denários para se dar aos pobres?" (
Jo 12, 5). Santa Teresinha põe essa mesma indagação na boca do mundo e compõe os belos versos seguintes:
"Vivre d'Amour, quelle étrange folie!"
Me dit le monde, "Ah! cessez de chanter,
e perdez pas vos parfums, votre vie,
Utilement sachez les employer!..."
T'aimer, Jésus, quelle perte féconde!...
Tous mes parfums sont à toi sans retour,
Je veux chanter en sortant de ce monde:
"Je meurs d'Amour!"
"Viver de Amor, que estranha loucura!"
Diz-me o mundo: "Ah, cessa de cantar,
não percas teus perfumes, tua vida,
Utilmente procura empregá-los!..." Amar-te, Jesus, que perda fecunda!...
Todos meus perfumes são teus sem retorno,
Eu vou cantar ao sair deste mundo:
"Eu morro de Amor!" [1]
Amar Jesus, diz Santa Teresinha, é uma
perte féconde, uma "perda fecunda". Não há nada maior com que
gastar os nossos anos, o breve tempo que se nos afigura nesta vida, que
com o amor de Deus, porque, no final, Ele será o único que nos restará, a
melhor parte, que não nos será tirada (cf. Lc 10, 42). A "perda de tempo" dos que amam a Deus é, portanto, o "santo desperdício" de quem ganha a eternidade!
Não temamos, pois, "perder o nosso tempo" com as coisas de Deus! Gastar
as nossas horas diante do Santíssimo Sacramento, com o Santo Rosário,
com as conversações celestes! "Desperdiçar" a nossa juventude
"confinado" em uma igreja ou "aprisionado" em casa com a própria
família! Tenhamos sempre diante dos olhos Aquele que é o motivo de
nossas loucuras (
folies), na certeza da fé de que Deus sabe recompensar os que O amam e n'Ele esperam [2]; de que, como diz o Papa Bento XVI, quem escolhe Jesus não perde nada, ganha tudo [3]!
Lembremo-nos também que não fomos nós, na verdade, quem O amamos
primeiro, mas Ele; não somos nós quem subimos, com nossas próprias
forças, ao Céu, mas é Ele quem desce a nós.
Amemo-Lo, pois, amemo-Lo com todas as forças de nossa alma. "Se nos
custava antes amá-Lo, não nos custe agora retribuir-Lhe o amor" [4], diz
Santo Agostinho. Pensemos em todos os bofetões, cusparadas, flagelos e
espinhos que o próprio Deus sofreu por nossa causa e simplesmente
consolemos o Seu Coração, rendamos-Lhe a nossa gratidão. E, um dia, com
Santa Teresinha, no Céu, possamos também nós cantar que perdemos
fecundamente a nossa vida, vivendo – e morrendo – de Amor!
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Poesia 17 ("Viver de Amor").
- A fé como meio de alcançar a graça do Espírito Santo, 7. In: Introdução ao Cristianismo. Acesso em: 26 nov. 2015.
- Cf. Homilia na Missa de Coroação e início do pontificado (24 de abril de 2005).
- De Catechizandis Rudibus, IV, 7 (PL 40, 314).
Nenhum comentário:
Postar um comentário