quinta-feira, 30 de julho de 2015

UMA ESTÁTUA PARA SATANÁS.

O valor supremo da modernidade é o “Estado laico” e, para defendê-lo, até cultuar o demônio está valendo.


O que significa a estátua de Satã recém-inaugurada na cidade de Detroit, nos Estados Unidos?
De acordo com O Globo, a imagem de bronze, com quase 3 metros e mais de 900 quilos, "seria inaugurada inicialmente em Oklahoma, em protesto contra uma escultura sobre os Dez Mandamentos no Capitólio estadual". Ainda segundo a reportagem, "o Satanic Temple defende a separação entre Estado e religião".
Não que se esperasse uma palavra de condenação da mídia à estátua de Bafomet – uma represália assim poderia "ofender" os adoradores de Satanás –, mas, não fosse trágico, seria cômico o modo como eles colocam as coisas: a imagem de Bafomet, na crônica do dia, não passaria de uma defesa da "separação entre Estado e religião", um "protesto" contra uma escultura dos Dez Mandamentos em lugar público. Quem lê a reportagem é tentado a achar que o grande problema não é nem a estátua de Satã, mas sim aquele monumento judaico-cristão no Capitólio de Oklahoma. O valor supremo da modernidade, agora, é o "Estado laico" e, para defendê-lo, até cultuar o demônio está valendo.
Pena que não faltarão pessoas confirmando a frase em negrito. Para alguns, realmente, o Decálogo no Capitólio – e, com ele, os crucifixos nos tribunais, o sinal da cruz nos estádios de futebol, a palavra "Jesus" na cabeça do Neymar – são realmente piores que uma imagem satânica, contanto que ela esteja em um ambiente privado.
Quando as coisas atingem esse ponto, é preciso fazer uma pausa e reajustar a bússola da humanidade – ou, pelo menos, tentar entender desde quando a verdade foi tão negligenciada assim, a ponto de a entidade perversa por excelência ser cultuada no lugar do próprio Deus.
A resposta está em um longo e tortuoso caminho de desprezo por Jesus Cristo e pela religião que Ele fundou – a Igreja Católica. Sobre esse assunto específico, há um famoso discurso do Papa Pio XII a respeito do qual já escrevemos várias postagens aqui. Quanto à rejeição do reinado de Deus pelas próprias sociedades civis, cabe dizer algumas breves palavras, principalmente a partir de uma lição valiosíssima, dada pelo Papa Leão XIII em sua encíclica Immortale Dei. Ele escreve:
"Se a natureza e a razão impõem a cada um a obrigação de honrar a Deus com um culto santo e sagrado, (...) unidos pelos laços de uma sociedade comum, os homens não dependem menos de Deus do que tomados isoladamente; tanto, pelo menos, quanto o indivíduo, deve a sociedade dar graças a Deus, de quem recebe a existência, a conservação e a multidão incontável dos seus bens. É por isso que, do mesmo modo que a ninguém é lícito descurar seus deveres para com Deus, (...) assim também as sociedades não podem sem crime comportar-se como se Deus absolutamente não existisse." [1]
A convicção de que os Estados civis não devem ser indiferentes à autoridade divina parte de uma visão antropológica perfeitamente racional: o homem é um ser essencialmente religioso e, assim como não se pode mutilar o ser humano, ignorando essa dimensão intrínseca de seu ser, não é possível construir uma sociedade prescindindo de Deus. Se Ele realmente "pode ser conhecido pela luz natural da razão humana", como assegura o Concílio Vaticano I [2], negar-Lhe a obediência e o devido lugar na vida social é, não só uma afronta ao direito divino, como também um atentado à própria inteligência.
O fato é que, ao decretar a morte de Deus com sua indiferença, o Estado terminou matando o próprio homem: é o que se vê nas legislações de todo o mundo, marcadas pelo aborto, pela eutanásia, pela manipulação indiscriminada da vida humana, pela destruição das famílias et caterva. É cada vez mais forte no mundo o sistema do pecado institucionalizado e, de aplaudir o pecado para cultuar o seu autor, de fato, não são precisos grandes esforços.
Por isso, diz o Papa Francisco, "quando não se confessa Jesus Cristo, confessa-se o mundanismo do diabo, o mundanismo do demônio" [3]. O ser humano não consegue viver sem Deus: se não adora o verdadeiro, ele mesmo ajusta para si outros deuses. Nessa busca por uma nova religião, poucas frases soam tão agradáveis como a máxima "Faz o que quiseres", a qual parece ser o principal "mandamento" do satanismo – e também o grande imperativo da modernidade ateia, liberal e avessa a Nosso Senhor. 

Eis os frutos de uma civilização que colocou a sua liberdade acima da própria verdade das coisas. Todavia – advertiu certa vez São João Paulo II –, "a liberdade não se realiza nas opções contra Deus". "Na verdade – perguntava o Papa –, como poderia ser considerado um uso autêntico da liberdade, a recusa de se abrir àquilo que permite a realização de si mesmo?" [4]. Nessa perspectiva, é preciso dizer que o satanismo não é só um tremendo escárnio à fé cristã e uma grande blasfêmia, mas representa, no fim das contas, a demolição do próprio ser humano. Da aparente liberdade que os filhos das trevas têm nesta vida segue-se uma eternidade de escravidão no inferno.
No Capitólio ou não, só os Mandamentos da Lei de Deus podem verdadeiramente alegrar e libertar o ser humano. 







Por Equipe Christo Nihil Praeponere

Referências

  1. Papa Leão XIII, Carta Encíclica Immortale Dei (1º de novembro de 1885), n. 11.
  2. Concílio Vaticano I, Constituição Dogmática Dei Filius, 2: DS 3004.
  3. Homilia durante Santa Missa com os Cardeais (14 de março de 2013).
  4. Papa João Paulo II, Carta Encíclica Fides et Ratio (14 de setembro de 1998), n. 13.

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