Quase
100 anos após a aparição da Virgem em Fátima, a humanidade ainda teima
em ignorar os seus apelos à conversão e à penitência.
Quando Nossa Senhora apareceu aos três pastorinhos de Fátima, a 13 de
maio de 1917, ela fez-lhes uma pergunta: "Quereis oferecer-vos a Deus
para suportar todos os sofrimentos que Ele quiser mandar-vos, em ato de
reparação pelos pecados com que Ele é ofendido, e de súplica pela
conversão dos pecadores?" Na ocasião, os jovens Francisco, Jacinta e
Lúcia responderam que sim, assumiram o pedido da Virgem Maria e toda a
sua vida se transformou em uma verdadeira entrega a Deus, pelo resgate
das almas.
Impossível não se lembrar do episódio da Anunciação, quando o Céu, de
um modo nunca antes visto, dependeu da liberdade de uma única criatura
para descer sobre a Terra. Às palavras do anjo, dizendo que Maria
Santíssima conceberia e daria à luz o próprio Filho de Deus, ela
prontamente respondeu: "Eis aqui a serva do Senhor! Faça-se em mim
segundo a tua palavra" (Lc 1, 38). Naquele momento, também ela,
de modo muito singular, assumia para si a missão de "suportar todos os
sofrimentos", "em ato de reparação (...) e de súplica pela conversão dos
pecadores" – missão que o profeta do templo resumiria na famosa
expressão: "Uma espada traspassará a tua alma" (Lc 2, 35).
É essa a missão a que se referiu o Papa Bento XVI em 2010, quando peregrinou à cidade de Fátima. "Iludir-se-ia quem pensasse que a missão profética de Fátima esteja concluída"
[1], disse ele na ocasião. De fato, ainda hoje, Nossa Senhora dirige a
toda a humanidade o mesmo apelo que fez aos três pastorinhos na Cova da
Iria. "Rezai, rezai muito, e fazei sacrifícios pelos pecadores", dizia
ela. "Muitas almas vão para o inferno por não haver quem se sacrifique e
peça por elas".
Às portas do centenário das aparições da Virgem em Portugal, a hora é propícia para um profundo exame de consciência. O terceiro segredo de Fátima revelou a visão de um Anjo "apontando com a mão direita para a terra" e clamando, com voz forte: "Penitência, Penitência, Penitência!"
Diante desse quadro, a pergunta a ser feita é: A humanidade realmente
tem se penitenciado? O que tem sido feito para atender aos pedidos de
Nossa Senhora?
É preciso bater no peito e reconhecer o quão pouco foi feito pelo homem moderno para corresponder aos apelos da Mãe de Deus.
Primeiro, por parte daquelas pessoas que, mesmo se assumindo
"católicas", não só rejeitaram o conteúdo de Fátima – que, por ser uma
revelação particular, não obriga ao assentimento nenhum fiel católico
[2] –, mas abandonaram totalmente as próprias verdades da fé. Também em
Fátima, Bento XVI chamou a atenção para o fato de que "muitos dos nossos
irmãos vivem como se não houvesse um Além, sem se importar com a
própria salvação eterna" [3]. Sem dúvidas, este é o grande mal deste
século: que o homem viva como se Deus não existisse, totalmente alheio às realidades eternas e aos cuidados da sua alma.
Para que acontecesse uma efetiva mudança no mundo e os corações fossem
elevados ao Alto, porém, Nossa Senhora indicou o caminho da penitência.
Entra aqui a necessidade do exame por parte daqueles que crêem, mas
ainda se encontram "estacionados" na vida espiritual. De fato, é muito
comum ver pessoas instigadas pelas aparições da Virgem em Fátima,
Lourdes, La Salette... Mas, quantas dessas pessoas despendem os mesmos
esforços e as mesmas horas para cumprir os desejos de Deus, expressos
pela boca de Maria Santíssima?
De fato, ela disse: "Rezem o Terço todos os dias".
Mas, quantas são as famílias que se têm dedicado à oração do Santo
Terço? E quantas o têm rezado diariamente, como pediu Nossa Senhora?
Ela também disse: "Sacrificai-vos pelos pecadores".
Ora, quantos têm verdadeiramente jejuado e feito penitências pela
conversão do mundo? Quantos têm se levantado de madrugada ou feito
vigílias em família para rezar pelas almas que mais precisam?
Ela disse: "Não ofendam mais a Deus, Nosso Senhor, que
já está muito ofendido". E qual tem sido a conduta das pessoas? Será
que têm se preocupado em adquirir verdadeira santidade de vida? Como
está vivendo a juventude católica, que se reúne nos grupos de oração,
vai às Missas e estuda a sua fé? Como têm vivido aqueles que, por sua
vida, deveriam brilhar como "a luz do mundo" (Mt 5, 14) e espalhar por todos os cantos "o bom odor de Cristo" (2 Cor 2, 15)?
Neste dia em que a Igreja celebra a memória de Nossa Senhora de Fátima,
é urgente lembrar que, no fim das contas, de nada adiantam alardes,
previsões e surtos de curiosidade malsã sobre o futuro. "Se não vos converterdes, diz o Senhor, perecereis todos do mesmo modo" (Lc 13,
3). O que Jesus e Maria querem dos homens é que sejam santos, rezem e
se mortifiquem – este é o único necessário de que fala Nosso Senhor,
todo o mais nos será tirado (cf. Lc 10, 42).
Conversão, penitência e oração: eis, pois, o
centro do Evangelho e o núcleo da mensagem de Fátima – e também o de
todas as outras recentes aparições da Virgem Maria. Ainda hoje, não existe outra escada por onde subir ao Céu – nem outro caminho para chegar à paz.
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
Referências
- Papa Bento XVI, Homilia durante Missa na Esplanada do Santuário de Fátima (13 de maio de 2010).
- Cf. Catecismo da Igreja Católica, n. 67
- Papa Bento XVI, Celebração das Vésperas com os Sacerdotes, Religiosos, Seminaristas e Diáconos (Fátima, 12 de maio de 2010).
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