No seu mais recente artigo, intitulado “A Igreja e a cremação de corpos”, dom Anuar Battisti, arcebispo metropolitano da arquidiocese de Maringá, no Estado do Paraná, fala que o nosso corpo mortal chega ao fim com a morte e que desde as origens a tradição cristã manteve certa prudência em relação à antiga prática da cremação ou incineração dos corpos, hoje em dia tão utilizada.
O prelado explica que na sua etimologia cremar ou incinerar se traduz por reduzir às cinzas, e ressalta que anualmente com o início da Quaresma lembramos que viemos do pó e ao pó voltaremos. Segundo ele, as cinzas, que são o sinal visível do que no mundo passa, contribuem com a reflexão sobre a transitoriedade e caducidade do ser humano. Hoje em dia, muitos fiéis católicos perguntam se depois da morte podem ter seus corpos cremados.
De acordo com dom Anuar, algumas argumentações atuais são simplesmente banais e não correspondem ao valor que a Igreja oferece à prática da obra de misericórdia de sepultar os corpos dos que nos precederam na fé. “Muitos pensam na cremação somente como algo ligado ao sistema ambiental, ao problema higiênico das grandes cidades ou ao custo econômico de um funeral. Outros simplesmente deixam na sua decisão final expressões como esta: não quero que ninguém venha no cemitério me visitar”, afirma.
O que ocorre de fato, enfatiza o arcebispo, é que a prudência que a Igreja manteve sobre o fato dos corpos serem cremados, somente foi esclarecida no Código de Direito Canônico de 1983, quando foi retirada a proibição que se mantinha a respeito da cremação. Dom Anuar esclarece que a ressalva que foi estipulada no código é de que a cremação seria permitida sempre e quando seus fins não fossem nem materialistas, nem utilitaristas e que por nenhum motivo fosse omitida a celebração ritual do que comumente conhecemos como a encomendação do corpo ou liturgia das exéquias.
Para um melhor esclarecimento, o prelado cita ainda o Catecismo da Igreja Católica, que afirma que a cremação será permitida sempre e quando o corpo humano não seja nem manipulado, nem muito menos aproveitado por nenhum outro motivo diverso daquele da condução final das cinzas, de modo reverente e respeitoso, a um local apropriado. “Não é recomendado, espalhar as cinzas no mar, no jardim ou serem depositadas em um lugar da casa onde moram os familiares do defunto”, diz o trecho 2301 do CIC. “A Igreja mantém a sua firme voz quanto ao respeito e a dignidade da pessoa, mesmo após a morte corporal”, completa.
Por fim, o arcebispo afirma que a passagem desta vida para a eterna deve ser marcada não por meras discussões sobre onde vão repousar os meus restos mortais. Para ele, o que importa é que todos professem que Cristo é a nossa vida, e que esperemos a vida eterna, porque a nossa Fé o proclama Senhor dos vivos e dos mortos.
Dom Anuar ainda alerta para que não centremos as nossas esperanças no espaço que ocuparão os nossos restos mortais.
Dom Anuar ainda alerta para que não centremos as nossas esperanças no espaço que ocuparão os nossos restos mortais.
“Demos dignidade ao momento da sepultura e ofereçamos uma boa palavra para aqueles que, pela dor, não conseguem muitas vezes entender a separação; tanto aos corpos que serão sepultados nos cemitérios como aqueles que serão cremados. A todos podemos lhes dedicar a frase que se encontra no cemitério da igreja dos Freis Capuchinhos, na Via Venetto, em Roma: “Vocês são hoje o que nós um dia fomos”, conclui. (FB / DA)
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