Um diplomata estrangeiro no Vaticano?
IHU – A expressão-chave na declaração oficial do padre
Federico Lombardi é “não só no âmbito romano, mas também internacional”. A
escolha dos (primeiros) cinco cardeais convocados nesse sábado por Bento XVI “em
virtude da sua grande e variada experiência de serviço à Igreja” responde a uma
lógica bem precisa. O papa se confia a altas personalidades da “Igreja
universal”, aposentadas ou não, fora de manobras e venenos dos últimos meses,
para iniciar aquelas que parecem ser “consultas” sobre a Cúria e o seu governo
em geral, e sobre o seu secretário de Estado em particular. Trata-se, como
notava a Santa Sé, de “restabelecer” um “clima de serenidade e de confiança” com
relação “ao serviço da Cúria Romana”.
A reportagem é de Gian Guido Vecchi, publicada no jornal
Corriere della Sera, 24-06-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
A questão certamente não nasce agora, mas nas últimas semanas
passou por uma aceleração. Todo o caso dos venenos, confrontos e “corvos” na
Cúria, além de obscuro, foi desde o início percebido como integralmente
“italiano” pelas Igrejas fora da Itália. São italianos todos os antagonistas
verdadeiros ou supostos, eclesiásticos ou leigos, dentro e fora do Vaticano.
Facciosos, briguentos, tanto que a intolerância entre as conferências episcopais
internacionais e as nunciaturas começaram a crescer, uma revolta subterrânea à
qual há alguns dias deu voz o cardeal André Vingt-Trois, arcebispo de Paris,
que, não por acaso, dada a tempestade midiática, ironizava o “clima, muito
habitual em Roma, de rumores e de comentários infinitos”. Mas acima de tudo,
falando no rádio da sua diocese, pedia uma reforma da Cúria “inadaptada” ao
funcionamento da Igreja contemporânea e, de passagem, observava que “o cardeal
Bertone tem 78 anos: não há necessidade de revelações secretas para saber que a
sua saída da Secretaria de Estado é previsível”.
Não é um bom momento para os cardeais e os bispos italianos de
primeiro plano. Observando que, nesta situação, italianos que não têm nada a ver
também correm o risco de sair do meio do caminho, uma notável fonte do outro
lado do Tibre suspirava: “São muito poucos”. O único consultado pelo papa nesse
sábado, o cardeal Camillo Ruini, está aposentado. Assim, ao menos duas coisas
parecem certas: o próximo secretário de Estado não será italiano e será um
diplomata.
Também se falou e se falará disso nas “consultas” iniciadas por
Bento XVI: do Vaticano, surge que a decisão de substituir o cardeal Tarcisio
Bertone já está substancialmente tomada. Fala-se de uma mudança em outubro. O
secretário de Estado completa 78 anos no dia 2 de dezembro, embora, por si
mesmo, não haja uma “idade de aposentadoria” para o seu papel.
Desde a sua nomeação em 2006, o cardeal Tarcisio Bertone, um
estudioso de direito canônico, além disso, foi considerado como uma espécie de
corpo estranho pela “ala diplomática” que, no Vaticano, sempre expressou o
secretário de Estado. No verão de 2009, depois das polêmicas sobre a remissão da
excomunhão aos lefebvrianos e a gestão do caso do bispo antissemita e
negacionista Richard Williamson, houve um encontro em Castel Gandolfo em que
cardeais como Ruini – chamado novamente nesse sábado –, Bagnasco, Scola e o
austríaco Christoph Schönborn sugeriram a substituição do secretário de
Estado.
Diz-se que o pontífice havia sido direto: “Der Mann bleibt wo er
ist, und basta”, “o homem permanece onde está e chega”. E agora Bento XVI sempre
confirmou o seu colaborador de confiança desde os tempos do ex-Santo Ofício: por
último, quando as polêmicas investiram tanto contra Bertone quanto contra Mons.
Georg Gänswein, e ele, no fim de maio, “renovou” publicamente a sua “confiança”
nos “meus mais estreitos colaboradores”.
Mas, agora, apesar da “confiança”, a situação torna-se cada vez
mais difícil. É significativo, dentre outras coisas, que a Santa Sé decidiu se
dotar de um “assessor para a comunicação” na Secretaria de Estado. Poucos dias
atrás, o próprio cardeal Bertone denunciou “a tentativa obstinada e repetida de
separar, de criar divisão entre o Santo Padre e os seus colaboradores”, atacando
particularmente os jornalistas “que brincam de imitar Dan Brown”.
As “reflexões” do papa sobre a “situação que se criou após a
difusão de documentos confidenciais”, com a convocação dos cinco cardeais,
mostram, porém, que o problema não é considerado apenas midiático. Mesmo aqueles
que no Vaticano diziam que Bento XVI certamente queria manter o seu secretário
de Estado “por toda a vida” não estão mais tão seguros assim e dizem que, no
máximo, “por mais um ano ou dois”.
Mas a questão se tornou urgente, e tenta-se resolvê-la antes e
sem traumas. Não se deve esquecer que Bertone também é e continuará sendo o
Camerlengo da Igreja, isto é, o cardeal que tem a tarefa de guiar a “sede
vacante” depois da morte do pontífice e até a eleição do sucessor.
No Colégio Cardinalício, o ingresso maciço de italianos está
destinado a ser compensado no próximo consistório. E o mesmo vale para a Cúria,
destinada a se tornar cada vez mais internacional. Nas “consultas”, o papa irá
avaliar também o nome do futuro secretário de Estado. O perfil de um “diplomata
não italiano” exclui possíveis candidatos como o cardeal Mauro Piacenza.
Um candidato “natural” à sucessão de Bertone é o arcebispo
francês Dominique Mamberti, atual vice de Bertone como secretário para as
Relações com os Estados, ou seja, “ministro das Relações Exteriores” da Santa
Sé: o mesmo papel desempenhado por Angelo Sodano antes de se tornar secretário
de Estado. Veremos.
Enquanto isso, todos esperam as palavras do papa para o dia 29
de junho, na festa dos santos Pedro e Paulo.
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OBS> Como se vê, trata-se de realmente substituir Bertone que
é o segundo na escala. Ora este cargo é ambicionado pela besta, porque se o Papa
sair do Vaticano, quem assume é o Secretário de estado. A trama está dentro da
Curia Romana, mas se percebe que os cardeais do mundo inteiro estão revoltados
com os italianos, porque dos 30 cardeais deste grupo, apenas cinco são
estrageiros. Também não se entende por que a Itália tem que ter tantos cardeais.
Eis a guerra armada.
Aqui eles mencionam o arcebispo frances, Dominique Mamberti como
possível candidato, e até me arrepio em ouvir este nome. Seja quem for nomeado,
tem tudo para ser ele o servo da besta. Mas a coisa pode ser feita diferente e
devemos deixar Deus agir e dar tempo, porque será quando e como Ele
quer.
Aarão
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