“Não excluo que, no ânimo do papa, apesar da tranquilidade que transparece do lado de fora, haja aquele sentimento que Jesus também explicitou: o desprezo“.
São quase três da tarde quando o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, sai ofegante dos pavilhões da Feira Milanocity, onde proferiu o discurso inicial do Congresso Teológico Pastoral, que nessa quarta-feira, 30, abriu o VII Encontro Mundial das Famílias, para depois conceder uma coletiva de imprensa e, por fim, responder a inúmeras entrevistas individuais.
“Jesus conhece as ansiedades e as tensões das famílias, também as dos filhos difíceis de comportamentos inexplicáveis”, lembrou, na palestra da manhã.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 31-05-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Eminência, o papa falou do caso Vatileaks e disse que os acontecimentos dos últimos dias o entristeceram…
Sim, mas ele também reiterou a certeza do apoio que vem de Deus à sua Igreja.
No fundo, o que aconteceu com a prisão do ajudante de quarto afetou também a “família” pontifícia, a família do papa.
A família representa um componente fundamental da religião, é um modelo que define a própria Igreja. Sob essa luz, podemos entender como o esplendor e a miséria humana, que emergem na história da família, também estão presentes na família da Igreja.
Falemos da Cúria: os documentos publicados e o que aconteceu na semana passada fazem-na aparecer atravessada por grandes tensões. É isso?
Seguramente, há problemas, não o nego. Além disso, na historicidade, nós nos “empoeiramos”, sem dúvida. Às vezes, pode-se caminhar na lama, sempre foi assim, em certa medida é inevitável. Além disso, na própria experiência de Jesus, houve uma traição clamorosa por parte de uma pessoa que ele tinha por perto, e estamos falando de algo mais grave, parece-me, do que as notícias destes dias. Dito isso, houve e continua havendo uma ênfase excessiva que acaba veiculando uma imagem da Santa Sé não correspondente à realidade.
O papa falou de “ilações gratuitas”…
Infelizmente, o método normal da comunicação é totalmente centrado no excesso. Existe uma mitização dos fenômenos. Viajando pelo mundo, e falando com tantos jovens, mesmo com não crentes, ao invés, encontrei atenção e disponibilidade ao diálogo e pude assim redescobrir que existe uma mitização sobre a Igreja que não se verifica na realidade.
Como Bento XVI está reagindo diante dessas dificuldades?
Devo dizer que a sua atitude sinceramente me impressiona. Eu o vi há pouco. Ele parece estar sereno, tranquilo, e eu sempre o conheci assim, ao contrário de alguns clichês midiáticos. Mas não excluo que, no seu ânimo, também haja aquele sentimento que o próprio Jesus explicitou, o desprezo. Que não é a ira nem a cólera. Essa é uma interpretação minha, o papa nunca transpareceu isso. Todos reconhecem que ele está sereno. Mas a sua serenidade não é a de alguém que ignora o mal. Indubitavelmente, ele conhece as coisas e tem um senso moral muito forte.
“Jesus conhece as ansiedades e as tensões das famílias, também as dos filhos difíceis de comportamentos inexplicáveis”, lembrou, na palestra da manhã.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 31-05-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Eminência, o papa falou do caso Vatileaks e disse que os acontecimentos dos últimos dias o entristeceram…
Sim, mas ele também reiterou a certeza do apoio que vem de Deus à sua Igreja.
No fundo, o que aconteceu com a prisão do ajudante de quarto afetou também a “família” pontifícia, a família do papa.
A família representa um componente fundamental da religião, é um modelo que define a própria Igreja. Sob essa luz, podemos entender como o esplendor e a miséria humana, que emergem na história da família, também estão presentes na família da Igreja.
Falemos da Cúria: os documentos publicados e o que aconteceu na semana passada fazem-na aparecer atravessada por grandes tensões. É isso?
Seguramente, há problemas, não o nego. Além disso, na historicidade, nós nos “empoeiramos”, sem dúvida. Às vezes, pode-se caminhar na lama, sempre foi assim, em certa medida é inevitável. Além disso, na própria experiência de Jesus, houve uma traição clamorosa por parte de uma pessoa que ele tinha por perto, e estamos falando de algo mais grave, parece-me, do que as notícias destes dias. Dito isso, houve e continua havendo uma ênfase excessiva que acaba veiculando uma imagem da Santa Sé não correspondente à realidade.
O papa falou de “ilações gratuitas”…
Infelizmente, o método normal da comunicação é totalmente centrado no excesso. Existe uma mitização dos fenômenos. Viajando pelo mundo, e falando com tantos jovens, mesmo com não crentes, ao invés, encontrei atenção e disponibilidade ao diálogo e pude assim redescobrir que existe uma mitização sobre a Igreja que não se verifica na realidade.
Como Bento XVI está reagindo diante dessas dificuldades?
Devo dizer que a sua atitude sinceramente me impressiona. Eu o vi há pouco. Ele parece estar sereno, tranquilo, e eu sempre o conheci assim, ao contrário de alguns clichês midiáticos. Mas não excluo que, no seu ânimo, também haja aquele sentimento que o próprio Jesus explicitou, o desprezo. Que não é a ira nem a cólera. Essa é uma interpretação minha, o papa nunca transpareceu isso. Todos reconhecem que ele está sereno. Mas a sua serenidade não é a de alguém que ignora o mal. Indubitavelmente, ele conhece as coisas e tem um senso moral muito forte.
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