O Mestre divino após ter solenemente promulgado o mandamento novo ( Jo 13,34), renovou esta doutrina do amor que chamou o seu preceito: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo 15,12). Isto porque a caridade é a essência mesma de sua religião. Ao determinar isto a seus seguidores Jesus oferecia a perene solução para todos os problemas sociais, políticos e econômicos.
Apareceriam as maravilhas de toda esta imensa seara de bens que honra a civilização cristã. Multiplicar-se-iam as entidades caritativas, os gestos de afeto, a ajuda oportuna, o consolo ao sofredor, o lenitivo aos clamores dos deserdados, o amparo aos excluídos da sociedade. Creches, asilos, lares dos anciãos, obras sociais, tudo resultado deste amor inspirado no Cenáculo. É este amor que vaporiza lágrimas amargas com palavras oportunas.
Arranca espinhos dos corações feridos. Dulcifica a dor que despedaça o irmão aflito. Alivia a fome, a sede de quem padece tais males. Esta dileção torna quem a possuir âncora, farol, tábua de salvação para o próximo. Esta caridade transparece não apenas num gesto caritativo, numa esmola eventualmente dada, em atitudes episódicas.
É um modo de ser e de agir que impregna as minudências do relacionamento com os outros, impregnando de brandura os encontros cotidianos. Multiplica atenções, instaurando uma cadeia de ações em prol dos mais necessitados. Preluz a cada instante na pronta ajuda a qualquer pessoa, na delicadeza do trato mútuo, no respeito diuturno, na boa palavra, no interesse constante, nas solícitas atenções. Penetra e encanta, perfuma e enternece as mentes mais agressivas, dado que ela desarma os espíritos e irradia inebriante serenidade.
Leva à compreensão dos conflitos existenciais do outro, o qual, cativo por ela, repensa suas atitudes e acerta os passos de sua turbulência, deparando então a ordem interna. Fecundante e infatigável até à heroicidade esta dileção cristã opera assim maravilhas. Na História da Igreja monumentos mais grandiosos foram sempre os edificados e cinzelados pelo amor fraterno. Extraordinários os heróis por ele plasmados. Cosme e Damião a se dedicaram aos enfermos, curando as enfermidades mais rebeldes.
Pedro Claver entre pobres africanos, transportados para a América, passa sua vida amando e instruindo estas vítimas da ignóbil escravidão. Luís Gonzaga que na flor dos anos morre de uma enfermidade haurida no amparo às vítimas de terrível epidemia. Roque, senhor de grande riqueza, que se faz mendigo entre os mendigos. Francisco de Assis a abandonar seus bens e a se fazer semelhante aos deserdados da fortuna a eles se dedicando com grande amor.
Vicente de Paulo a maior figura do século XVIII que se torna o mais ilustre entre os ilustres de seu tempo pela sua dedicação aos pobres. João de Deus, o fundador dos Irmãos hospitaleiros, ordem admirável a socorrer os doentes. Luiza de Marillac, cuja única preocupação era servir os mais humildes. Catarina, rainha da Suécia, a visitar todos os dias os hospitais, cuidando pessoalmente dos que sofriam graves moléstias. Gotrão, rei de Borgonha, especialista em dar esmolas, dizendo sempre que esta é uma das maneiras para expiar pecados. Camilo de Lelis, que se fez o modelo dos enfermeiros pela dedicação aos sofredores nos hospitais.
Estes, alguns entre milhares, descendentes de uma geração gloriosa formado à luz do mandamento do amor e que tinha insculpido no frontispício das primeiras Igrejas o grande lema dileção fraterna: cor unum et anima una – um só coração e uma só alma. Geração que se prolongaria através dos séculos na maravilhosa História desta Igreja a qual conciliaria sempre a máxima grandeza individual da personalidade humana com o máximo de sua eficiência social.
Neste preceito de Jesus se firma para sempre a superioridade social do cristianismo. Entreabre-se um campo ilimitado ao amor e à dedicação sobretudo aos excluídos. Alicerça-se, sólida e admiravelmente, a genuína solidariedade. A caridade é obra prima do gênero humano regenerado pelo sangue de um Deus.
É o que há de mais nobre nas elucubrações da inteligência e o que existe de mais glorioso nos eflúvios do coração. O modelo é o próprio Cristo: “Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”. Ele nos amou até o fim lá no Calvário consagrou admiravelmente seu mandamento supremo.
Côn. José Geraldo Vidigal de Carvalho
por
Arquidiocese de Mariana/MG
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