Leitura da carta de são Paulo aos Romanos.
13 8 A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, a não ser o amor recíproco; porque aquele que ama o seu próximo cumpriu toda a lei.
9 Pois os preceitos: Não cometerás adultério, não matarás,
não furtarás, não cobiçarás, e ainda outros mandamentos que existam,
eles se resumem nestas palavras: Amarás o teu próximo como a ti mesmo.
10 A caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é o pleno cumprimento da lei.
Palavra do Senhor.
Feliz quem tem piedade e empresta!
Feliz o homem que respeita o Senhor
e que ama com carinho a sua lei!
Sua descendência será forte sobre a terra,
abençoada a geração dos homens retos!
Ele é correto, generoso e compassivo,
como luz brilha nas trevas para os justos.
Feliz o homem caridoso e prestativo,
que resolve seus negócios com justiça.
Ele reparte com os pobres os seus bens,
permanece para sempre o bem que fez,
e crescerão a sua glória e seu poder.
Aleluia, aleluia, aleluia.
Felizes sereis vós se fordes ultrajados por causa de Jesus, pois repousa sobre vós o Espírito de Deus (1Pd 4,14).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Lucas.
14 25 Muito povo acompanhava Jesus. Voltando-se, disse-lhes:
26 "Se alguém vem a mim e não odeia seu pai, sua mãe, sua
mulher, seus filhos, seus irmãos, suas irmãs e até a sua própria vida,
não pode ser meu discípulo.
27 E quem não carrega a sua cruz e me segue, não pode ser meu discípulo.
28 Quem de vós, querendo fazer uma construção, antes não se
senta para calcular os gastos que são necessários, a fim de ver se tem
com que acabá-la?
29 Para que, depois que tiver lançado os alicerces e não puder acabá-la, todos os que o virem não comecem a zombar dele,
30 dizendo: 'Este homem principiou a edificar, mas não pode terminar'.
31 Ou qual é o rei que, estando para guerrear com outro rei,
não se senta primeiro para considerar se com dez mil homens poderá
enfrentar o que vem contra ele com vinte mil?
32 De outra maneira, quando o outro ainda está longe, envia-lhe embaixadores para tratar da paz.
33 Assim, pois, qualquer um de vós que não renuncia a tudo o que possui não pode ser meu discípulo".
Palavra da Salvação.
Reflexão
O tema de hoje está precedido por uma introdução em que vemos grandes
multidões que acompanhavam Jesus. À vista disso, ele terá que determinar
quais são as verdadeiras características dos que querem realmente se
tornar seus discípulos. Temos, pois, duas exigências essenciais para
formar parte do seu discipulado, junto com duas parábolas ou exemplos,
finalizando com uma conclusão que determina toda a matéria, unificando
coerentemente a lógica dos argumentos precedentes.
Jesus está no lugar do próprio Deus, que pede o máximo como criador do
homem. Sua figura como Salvador e Redentor, coloca Jesus no plano divino
do absoluto e transcendente. Cristiano e discípulo de Cristo são
sinônimos de uma radicalização da vida que oferece uma nova visão do
mundo e dos problemas humanos sob a luz da redenção de Cristo. A ele
pertencemos como novas criaturas, resgatadas com um preço de sangue
único e incompatível.
Com a referência às grandes multidões que acompanhavam Jesus, Lucas muda
de tema. Ele passa das narrativas anteriores em torno do tema do
banquete para as narrativas em torno do tema do seguimento de Jesus. Com
algumas sentenças, são apresentadas as condições para este seguimento.
A primeira condição é a liberdade plena em relação às tradições
vinculadas aos laços de parentesco e à própria realização pessoal na
escala de status deste mundo. No ambiente do Primeiro Testamento, essa
desvinculação em relação à família significa uma ruptura com a tradição
hereditária e consangüínea, segregativa e elitista, de “povo eleito”.
A opção do discípulo deve ser radical por Jesus com sua proposta do
Reino, onde é priorizada a vida, plena para todos, sem discriminações ou
privilégios. A segunda condição, o “carregar sua cruz”, tomou forma nas
primeiras comunidades, que viam na cruz de Jesus o modelo do dom total.
O carregar a cruz foi o auge da repressão sofrida por ele, e imposta
pelos poderosos da teocracia sediada em Jerusalém. Assim, o discípulo
deve estar disposto a enfrentar a repressão ao exercer o serviço da
palavra e sua ação libertadora, sem medo da morte.
A seguir vêm duas curtas parábolas que mostram a necessidade de tomar-se
consciência das conseqüências ao decidir-se pelo seguimento de Jesus,
para não vacilar, depois, diante das dificuldades que advirão. O
discípulo é chamado a uma renúncia total. Os que aceitam as condições
são os que, pela Sabedoria, conhecem o projeto de Deus.
Antes de iniciar uma guerra, que pode ser um desastre total, é preciso
pensar seriamente se com o exército disponível podemos vencer um inimigo
superior. Caso contrário, é melhor optar por uma paz, embora seja menos
honrosa. São comparações que podem ser entendidas do ponto de vista
puramente natural pelo homem psychikós que diria Paulo, levado
unicamente de sua razão e sentimentos.
O discipulado de Cristo é um chamado a todos. Mas unicamente serão
verdadeiros discípulos os que estejam dispostos a uma renúncia total a
começar por si mesmos, que é notada externamente pela pobreza de uma
opção aparentemente irracional. Discípulo de um Mestre que teve uma cruz
como fim e uma vida em que o sofrimento era parte essencial,
especialmente o sofrimento da incompreensão e da perseguição.
A cruz não é unicamente um símbolo de quem sofreu por nós, mas uma opção
necessária que deve dirigir nossas vidas de discípulos de Cristo. Não
existe um cristianismo light em que a humilhação, o escárnio e o
sofrimento possam ser referidos unicamente ao Senhor. Os discípulos
devem como ele pediu aos filhos do Zebedeu, optar por beber o cálice
amargo de sua paixão.
Seguir Jesus é continuar o projeto do Pai, experimentando um clima novo
em relação com as pessoas, as coisas materiais e consigo mesmo. Trata-se
de assumir com liberdade e responsabilidade a condição humana sem
superficialismos, conveniências ou egoísmos. Decidir-se por uma
humanidade que Jesus adotou como modelo, em que a renúncia a si mesmo é a
base da entrega a Deus e ao próximo.
Ambas as parábolas explicam as dificuldades e inconvenientes que levarão
muitos a abandonar o caminho empreendido. Por isso, devemos enfrentar o
nosso discipulado com a intenção de total e absoluta renúncia a tudo o
que possuímos.
Pai, reforça minha disposição de ser discípulo de teu Reino, afastando
tudo quanto possa abalar a solidez de minha adesão a ti e a teu Filho
Jesus.
Pe. Bantu Mendonça katchipwi Sayla
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