Leitura da profecia de Daniel.
12 1 “Naquele tempo, surgirá Miguel, o grande chefe, o
protetor dos filhos do seu povo. Será uma época de tal desolação, como
jamais houve igual desde que as nações existem até aquele momento.
Então, entre os filhos de teu povo, serão salvos todos aqueles que se
acharem inscritos no livro.
2 Muitos daqueles que dormem no pó da terra despertarão, uns para uma vida eterna, outros para a ignomínia, a infâmia eterna.
3 Os que tiverem sido inteligentes fulgirão como o brilho do
firmamento, e os que tiverem introduzido muitos (nos caminhos) da
justiça luzirão como as estrelas, com um perpétuo resplendor”.
Palavra do Senhor.
Guardai-me, ó Deus, porque em vós me refugio!
Ó Senhor, sois minha herança e minha taça,
meu destino está seguro em vossas mãos!
Tenho sempre o Senhor ante meus olhos,
pois, se o tenho a meu lado, não vacilo.
Eis por que meu coração está em festa,
minha alma rejubila de alegria
e até meu corpo no repouso está tranqüilo;
pois não haveis de me deixar entregue à morte
nem vosso amigo conhecer a corrupção.
Vós me ensinais vosso caminho para a vida;
junto a vós, felicidade sem limites,
delícia eterna e alegria ao vosso lado!
Leitura da carta aos Hebreus.
10 11 Enquanto todo sacerdote se ocupa diariamente com o seu
ministério e repete inúmeras vezes os mesmos sacrifícios que, todavia,
não conseguem apagar os pecados,
12 Cristo ofereceu pelos pecados um único sacrifício e logo em seguida tomou lugar para sempre à direita de Deus,
13 onde espera de ora em diante que os seus inimigos sejam postos por escabelo dos seus pés.
14 Por uma só oblação ele realizou a perfeição definitiva daqueles que recebem a santificação.
18 Ora, onde houve plena remissão dos pecados não há por que oferecer sacrifício por eles.
Palavra do Senhor.
Aleluia, aleluia, aleluia.
É preciso vigiar e ficar de prontidão; em que dia o Senhor há de vir, não sabeis, não! (Lc 21,36)
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, 13 24 disse Jesus a seus discípulos: “Naqueles dias, depois dessa tribulação, o sol se escurecerá, a lua não dará o seu resplendor;
25 cairão os astros do céu e as forças que estão no céu serão abaladas.
26 Então verão o Filho do homem voltar sobre as nuvens com grande poder e glória.
27 Ele enviará os anjos, e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, desde a extremidade da terra até a extremidade do céu.
28 Compreendei por uma comparação tirada da figueira. Quando
os seus ramos vão ficando tenros e brotam as folhas, sabeis que está
perto o verão.
29 Assim também quando virdes acontecer estas coisas, sabei que o Filho do homem está próximo, às portas.
30 Em verdade vos digo: não passará esta geração sem que tudo isto aconteça.
31 Passarão o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.
32 A respeito, porém, daquele dia ou daquela hora, ninguém o sabe, nem os anjos do céu nem mesmo o Filho, mas somente o Pai”.
Palavra da Salvação.
Reflexão
As leituras deste domingo são eminentemente escatológicas, pois falam do fim dos tempos. Nesses derradeiros dias do ano litúrgico,a Igreja escolhe o texto do Dies Irae para ser cantado durante a oração da Liturgia das Horas, lembrando a espera dos homens pelo Juiz das nações.
No Evangelho, primeiro, Jesus expõe os sinais que precederão a Sua segunda vinda: “O sol vai se escurecer, e a lua não brilhará mais, as estrelas começarão a cair do céu e as forças do céu serão abaladas” (v. 24-25). Esses abalos cósmicos aqui referidos – bem como os demais sinais descritos alhures – têm como finalidade, diz Santo Tomás de Aquino, preparar os corações humanos para a vinda do Juiz. Trata-se de um ato de misericórdia da parte de Deus, alertando que em breve se esgotará o tempo de Sua paciência.
De fato, o amor de Deus se manifesta, nesta vida, por meio da Sua misericórdia. “O Senhor não tarda a cumprir sua promessa, como alguns interpretam a demora. É que ele está usando de paciência para convosco, pois não deseja que ninguém se perca. Ao contrário, quer que todos venham a converter-se” (2 Pd 3, 9). No fim, porém, Ele exercerá a Sua justiça, e isso justamente por causa de Seu amor, que não pode permitir que bons e malvados se sentem indistintamente à mesa celestial, como se nada tivesse acontecido, ou como se todas as atrocidades que os maus praticaram em vida se tornassem de repente irrelevantes [1]. Não existe seriedade num amor que permite o triunfo do mal. Por isso, no fim dos tempos, uns irão para a vida eterna e outros, para o opróbrio eterno (cf. Dn 12, 2).
A tais sinais se seguirá necessariamente o fim dos tempos? São eles provas inequívocas da volta do Senhor? Evidentemente, não, afirma o Doutor Angélico. Guerras, pestes, terremotos e abalos cósmicos são realidades que acontecem desde a fundação do mundo. Tais sinais constituem, portanto, alertas para todos os homens de Igreja, de todos os tempos e lugares, para que fiquem sempre preparados, dado que, “quanto àquele dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, mas somente o Pai” (v. 32).
Há ainda uma outra chave de leitura para essas palavras do Senhor. Os sinais dos tempos não devem ser lidos apenas na história universal, mas na vida de cada indivíduo. De fato, quantas vezes Nosso Senhor não nos chama a cada um de nós, seja por meio de doenças e provações, seja por meio de crises e desastres! Abalando assim as nossas seguranças terrenas, Ele quer que elevemos a Ele o nosso coração, juntamente com o salmista: “Só ele é meu rochedo e salvação, a fortaleza, onde encontro segurança!” (Sl 61, 3).
São Máximo, o Confessor, diz que os idiotas clamam a misericórdia de Deus o tempo inteiro, mas, quando ela se manifesta, não a reconhecem. É assim porque Deus não nos visita apenas nos bens e consolações desta vida, mas também – e principalmente, poder-se-ia dizer – nas cruzes e sofrimentos que recebemos. Todos esses são “sinais dos tempos” para cada um de nós, em particular. Afinal, pode ser que não presenciemos o fim do mundo, mas o nosso mundo pode muito bem chegar ao fim, a qualquer momento, com a nossa morte.
Jesus conclui o Evangelho dizendo: “Em verdade vos digo, esta geração não passará até que tudo isto aconteça” (v. 30). Como entender as Suas palavras se, até o dia presente, ainda não se cumpriram todas as coisas que Ele prometeu? A resposta está no que os Santos Padres chamam o “tempo da Igreja”. Explica Santo Tomás de Aquino:
“Alguns poderiam crer que essas coisas foram ditas em relação à destruição de Jerusalém, seja porque ela aconteceu, seja porque muitos sobreviveram até aquele tempo, de onde ‘esta geração’ significar os homens que viviam até então. No entanto, tudo o que está sendo dito se refere muito mais que à destruição de Jerusalém. Por isso, o que se quer dizer, ao contrário, é que todos os fiéis são uma geração, como diz o Salmo: ‘Essa é a geração que procura o Senhor’ (23, 6). ‘Esta geração não passará’, significa, pois, que a fé da Igreja não acabará até o fim do mundo, contra aqueles que dizem que ela durará só até um determinado tempo. A isso o Senhor rebate, dizendo: ‘Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos’ (Mt 28, 20).”
https://padrepauloricardo.org
[2]Referências
- Cf. Papa Bento XVI, Carta Encíclica Spe Salvi (30 de novembro de 2007), n. 44-46.
- Santo Tomás de Aquino, Comentário ao Evangelho de São Mateus, 24,
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