Já nos primórdios da Igreja começaram a
compreender os Sacramentos instituídos por Jesus, uma vez que eles têm
clara fundamentação nos Evangelhos e Cartas dos Apóstolos: Batismo (Mt
28,19), Crisma (At 8,14-17), Eucaristia (Lc 22,19-20; Mt 26,26-30; Mc
14, 22-26; 1 Cor 11,23-25), Confissão (Jo 20,22-23), Ordem (Lc 22,19),
Unção dos enfermos (Tg 5,13-15) e Matrimônio (Mt 19,3-9), e aos poucos
foram entendendo o seu significado. A celebração da Eucaristia foi
celebrada desde o início aos domingos. São Justino, mártir (†165)
escreveu:
“Reunimo-nos todos no dia do sol, porque
é o primeiro dia após o Sábado dos judeus, mas também o primeiro dia em
que Deus, extraindo a matéria das trevas, criou o mundo e, neste mesmo
dia, Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dentre os mortos”
(Apologia 1,67).
Santo Inácio de Antioquia, mártir (†107) disse:
“Aqueles
que vivem segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova
esperança, não mais observando o Sábado, mas sim o Dia do Senhor, no
qual a nossa vida é abençoada por Ele e por sua morte” (Carta aos
Magnésios 9,1).
“Cuidai, pois, de reunir-vos com mais
frequência, para dar a Deus ação de graças e louvor. Pois, quando vos
reunis com frequência, abatem-se as forças de Satanás e desfaz-se o
malefício, pela vossa união na fé. Nada melhor que a paz que aniquila
toda guerra de poderes terrestres e celestes” (Carta aos Efésios,
13,1-2; p. 45).
“Sede solícitos em tomar parte numa só
Eucaristia, porquanto uma é a carne de Nosso Senhor Jesus Cristo, um o
cálice para a união com Seu Sangue, um o altar, assim como um é Bispo,
junto com seu presbitério e diáconos […]” (Carta aos Filadélfios, 4,1,
p. 72).
Vários documentos do primeiro século nos
ajudam a conhecer a vida dos primeiros cristãos neste tempo. Um deles é
a Didaquè, ou também chamada Doutrina dos Doze Apóstolos; é como um
antigo manual da fé cristã que deve ter sido escrita entre os anos 90 e
100, na Síria, ou na Palestina ou em Antioquia. Os antigos Padres
falavam muito da Didaquè, o que lhe dá um valor especial. Trata-se de um
pequeno tratado moral para os catecúmenos, um antigo ritual litúrgico,
que traz instruções relativas à vida comunitária.
A Didaquè foi encontrada em 1873 com
duas cartas do Papa São Clemente Romano e a Epístola de Barnabé, na
biblioteca do Hospital do Santo Sepulcro em Constantinopla, pelo
arcebispo grego Filoteo Briennios. Fala sobre o Batismo, a Eucaristia, o
Domingo, a escolha de bispos, presbíteros e diáconos, já no primeiro
século:
“Quanto ao Batismo, batizai assim:
depois de terdes ensinado o que precede, batizai em nome do Pai, e do
Filho e do Espírito Santo, em água corrente; se não existe água
corrente, batize-se em outra água. Se não puder ser em água fria, faze
em água quente. Se não tens bastante, de uma ou de outra, derrama água
três vezes sobre a cabeça, em nome do Pai, e do Filho e do Espírito
Santo. Antes do Batismo, jejuem: o que batiza, o que é batizado e outras
pessoas” (7,1-14; p. 30).
Esta é a tradição que a Igreja recebeu
dos Apóstolos; por isso pode batizar por derramamento de água e não por
imersão. A Didaquè nos mostra como já era celebrada a sagrada
Eucaristia:
“Celebre a Eucaristia assim: Diga
primeiro sobre o cálice: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por causa da
santa vinha do teu servo Davi, que nos revelaste através do teu servo
Jesus. A ti, glória para sempre”.
Depois diga sobre o pão partido: “Nós te agradecemos, Pai nosso, por
causa da vida e do conhecimento que nos revelaste através do teu servo
Jesus. A ti, glória para sempre […]”.
Que ninguém coma nem beba da Eucaristia
sem antes ter sido batizado em nome do Senhor pois sobre isso o Senhor
disse: “Não deem as coisas santas aos cães” (9,1-5, p. 32).
“Reúna-se no dia do Senhor para partir o
pão e agradecer após ter confessado seus pecados, para que o sacrifício
seja puro […]. Esse é o sacrifício do qual o Senhor disse: “Em todo
lugar e em todo tempo, seja oferecido um sacrifício puro porque sou um
grande rei – diz o Senhor – e o meu nome é admirável entre as nações”
(14,1-3; p. 39).
A Eucaristia sempre foi o ponto alto da
fé dos cristãos; reproduz a Santa Ceia tomada por Jesus com seus
Apóstolos e que lhes ordenou: Fazei isto em memória de mim, e que os
discípulos chamavam de ‘fração do pão’ (cf. At 2,42; 20,11), celebrada
especialmente no domingo. Logo eles foram entendendo a palavra de Jesus:
Isto é o meu corpo; este é o meu sangue. Logo se firmou esse sentido
místico da Eucaristia. São Paulo escreveu: “O cálice de bênção que
consagramos não é o sangue de Cristo? E o pão que partimos não é a
comunhão com o sangue de Cristo?” (1Cor 10,16). Jamais os cristãos
deixaram de ter essa certeza. Já no começo do século II, Santo Inácio de
Antioquia (†107) escreveu:
“A Eucaristia é a carne de Nosso Senhor
Jesus Cristo, a carne que sofreu pelos nossos pecados, a carne que, na
sua bondade, o Pai ressuscitou” (Carta aos Esmirnenses, 7,1).
A Eucaristia, como entendida acima,
constitui uma afirmação dogmática que nenhuma religião atingiu e que por
isso distingue o Cristianismo de todas as outras religiões conhecidas.
Retirado do livro: “História da Igreja – Idade Antiga”. Prof. Felipe Aquino. Ed. Cléofas.
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