Uma das formas grave de superstição é um certo fanatismo religioso
A palavra “superstição” vem do latim superstitionem,
vocábulo cuja origem até hoje é controvertida, embora seja consenso de
que o prefixo super (acima) refira-se aos poderes que estão acima dos
homens. Superstição poderia ser então acreditar em forças que estão
acima da natureza e, nesse conceito, a religião seria uma forma de
superstição. No entanto, superstição significa acreditar em forças e
realidades mágicas, sem qualquer fundamento racional. Dessa forma, fé e
superstição, embora sejam realidades aparentemente próximas, são bem
distintas. A confusão é grande, por isso o Catecismo da Igreja Católica
coloca a superstição como um pecado contra a fé, “um excesso perverso
contra a religião” (CIC 2110).
Crer significa acreditar em algo que minha razão mesmo não observou,
mas, que pela palavra de alguém fidedigno, eu acredito. Crer não
significa dar razão a algo irracional, mas a algo que, embora minha
razão não tenha alcançado por si mesma, é coerente com a razão.
A fé sobrenatural, dom de Deus, capacita-nos a acreditar e viver as
realidades sobrenaturais, que por serem espirituais, não deixam de ser
reais. O cristão tem fé, porque “crê em Deus, em tudo o que Ele disse e
nos revelou” (CIC 1814).
Na superstição, ao contrário, a pessoa acredita em objetos, gestos e rituais mágicos.
Não é adesão a uma autoridade superior (Deus) e Sua revelação, mas a
“crendices” surgidas no meio povo, como sair de casa com pé direito para
ter sorte, nunca passar debaixo de uma escada, não ter espelho quebrado
em casa, porque dá azar etc. Geralmente, essas crendices supersticiosas
expressam medos e inseguranças corriqueiras, mas, às vezes, tomam forma
de ocultismo como na magia, adivinhação e feitiçaria, proibidos pela
Sagrada Escritura (cf. 2Rs 21,6; Is 2,6), e de astrologia, prática
também abominada por Deus (cf. Dt 4,19).
Uma forma grave de superstição é um certo fanatismo religioso; e nós,
católicos, tantas vezes caímos nessa tentação. Os sacramentos e
sacramentais, por usarem de sinais sensíveis como gestos, objetos (água,
óleo, imagens, medalhas etc) e ritos, são muitas vezes confundidos e
explorados de forma supersticiosa. O Catecismo, no parágrafo 2111,
explica que atribuir eficácia sobrenatural aos materiais e sinais,
independentemente da disposição do fiel, é superstição. Ou seja, se o
fiel atribui um poder mágico a imagem ou a medalha, por exemplo, como se
ela fosse fonte de graça e poder, independente de Deus e da fé da
pessoa, isso configura uma superstição.
E por que a superstição é tão ruim? Primeiro, porque “é um desvio do
sentimento religioso e das práticas que se lhe impõem” (CIC 2111). Ou
seja, a superstição gera na pessoa uma religiosidade deformada. Outro
problema é que muitas vezes leva a uma nociva dependência psicológica e
social de coisas efêmeras, firmando na pessoa fragilidades psicológicas
como o medo e a insegurança.
O mais grave é que a superstição é uma forma de idolatria,
conforme nos indica o Catecismo no parágrafo 2138. Idolatria consiste
em divinizar o que não é Deus. É quando o homem presta honra e veneração
a uma criatura no lugar de Deus (cf. CIC 2113). A idolatria é uma
pecado que fere gravemente o primeiro mandamento, que é “ Amarás o
Senhor teu Deus de todo o coração, de toda a tua alma, e de todo o teu
entendimento”. A idolatria é fortemente combatida em vários textos da
Escritura como ICor 6,9; ICor 10,7; Ef 5,5; Ap 21,8. Sem dúvida, a
idolatria é uma porta aberta para a ação do maligno na vida de uma
pessoa, sendo muitas vezes causa de opressões, obsessões e até
possessões do demônio.
A verdade é que o cristão não precisa de amuletos, astros e mágicas.
“Quem nos condenará?” – provoca o Apóstolo, “ Cristo Jesus, que morreu,
ou melhor, que ressuscitou, que está à direita de Deus, é quem intercede
por nós” (Rm 8, 34). Quem verdadeiramente crê em Cristo tem tudo de que
necessita para ser feliz.
André L. Botelho
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