quarta-feira, 15 de junho de 2011

O VALE DA SOMBRA DA MORTE.



O Salmo 23, talvez o mais conhecido dos Salmos, fascina muitas pessoas. É muito comum vê-lo como nome de fantasia em alguns comércios. Ex. Oficina Salmo 23, panificadora Salmo 23 e etc.
Também não é incomum encontrar nas estantes das casas, Bíblias abertas com a página deste Salmo. Às vezes até empoeiradas pelo desuso, mas lá estão.

Frases expostas através de um quadro na parede então nem se fala, tem aos milhares, principalmente com o versículo onde o salmista diz: “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará”.

É realmente um salmo de esperanças com pastos verdejantes, águas tranquilas, alma refrigerada, um guia nas veredas da justiça, um cajado que consola, uma mesa preparada na presença de inimigos, um cálice transbordante, bondade e misericórdia que o seguem até habitar na casa do Senhor por longos dias. Tudo muito lindo. O grande problema se dar quando lemos “ainda que andemos pelo vale da sombra da morte”, e não sabemos que um dia, aquele quando menos esperamos, somos tomado e lançado dentro dele. E quando vemos, inserido estamos. O vale é imprevisível. O “dia mal” descrito por Paulo.
É o relato.

Eis a tão temível “noite escura”. Uma abertura para a perca das três virtudes teologais. O declínio da fé, o desvio de uma rota. O caminho para a segunda morte. (destino daqueles que não tiverem seus nomes inclusos no livro da vida. Ap 20,11-15)

Momento que a luz da verdade começa a ser ofuscada perdendo seu brilho e sua intensidade, tornando o homem vulnerável, fraco e cego não enxergando mais essa verdade que o libertaria.
Sua mente sofre um terrível eclipse. Dor, medo, insegurança, sofrimento e perda do sentimento presente na alma. É o vale da sombra da morte ou vale tenebroso como consta algumas traduções.

Davi por várias vezes por ele passou com seu rebanho. O vale realmente existe em Israel. É um desfiladeiro íngreme, estreito e profundo. Inspiração do salmista para descrever as agruras que sobrevêm ao homem.
Josué menciona o vale da calamidade. Por Oséias, vale da aflição. Vale das lágrimas pelo Salmo 84. A verdade é que, uma vez que se encontre dentro desse vale, só restará escuridão, medo e dor. O vale da sombra, é o momento de maior aflição vivenciada pelo homem. Pode está na descoberta de uma doença grave, o desequilíbrio de uma família, na dor da perda ou no desvio dos retos caminhos do senhor.
O desejo de gritar por Deus, clamando por sua misericórdia foi confundido, e mesmo diante do seu esforço, a verdade aprendida, foi esquecida. E vem sobre a pobre alma, o terrível sentimento de abandono.

Sozinho, resta o desespero. O desejo de cada vez aprofundar-se na escuridão. Com ele, os mais variados tipos de tentações todas com muita intensidade. Uma após outra, vão obscurecendo cada vez mais a luz da verdade que dantes era abundante em seu interior.
Jaz agora um vale de conflitos e de aflições. È morte que nos faz sombra. É o terror do lugar que nos infunde e nos consome.
É o reconhecimneto.

Não se faz necessário dizer o destino dessa pobre alma, que agora desamparada tomaria uma decisão que para ela seria a última. Forçada pelo medo e o opróbrio, ela se reduz a nada.
È o sentimento.

Teria a noite escura, obscurecido toda a verdade conhecida? A sombra tenebrosa, teria dizimado em definitivo as virtudes teologais? Tirado sua fé, acabado com sua esperança, esfriado seu amor?

Por quanto tempo ainda terei que habitar neste vale?
Poderei um dia sair e encontrar refrigério para minha alma com uma mesa posta?
Habitarei ainda na casa do senhor por longos dias?

Uma coisa é certa, as ovelhas conduzidas por Davi, apenas passavam por esse vale, não permaneciam. O vale é temporário, não é um posto de permanência. Assim como a dor, o medo, o sofrimento, o desvio.
"Porque a nossa leve e momentânea tribulação produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação" II Corintios 4,17

“O choro pode durar a noite inteira, mas a alegria vem ao amanhecer”. Sl 30,5

Quando tudo parece perdido, em meio a tanto terror, lembra-se do restante do versículo: “nenhum mal temerei pois junto a mim estais”.

Dentre as muitas frases de Aiden Wilson Tozer, uma tem destaque importante para a pobre alma.

"para fazer em nós a suprema obra de sua graça, Deus vai tirar do nosso coração tudo aquilo que mais amamos. Tudo aquilo que nos leva a confiarmos em nós mesmos. Cinzas amontoadas jazerão onde nossos tesouros mais preciosos costumavam estar".

Não é possível que esteja tudo perdido. “quando estou fraco, então é que sou forte”(II Cor 12,10).

Existe um desígnio de Deus em tudo que acontece ao homem. Mesmo que seja contrário à Sua vontade, mesmo que viva e faça parte desse vale de lágrimas, mesmo que seja uma vida arbitrária, mas em tudo há sua permissão. Permite, pois sabe que deste grande mal ele pode tirar um bem infinitamente maior.

O Homem vive em um mundo cão. Um mundo de espinhos, de dardos inflamadas pelo demônio. Um mundo de guerras injustificadas, de fome, de violência e de morte. Um mundo de um amor que passa por um resfriamento constante. Um mundo que vive seu vale da sombra. Quem poderá subsistir? Quem poderá permanecer de pé?

Um fator importante e que pode ser esquecido pela leitura do salmo, é que, o vale existente em Israel, somente recebe a luz do sol em sua base, quando este atinge o meio dia. è quando a luz excede por completo ao vale atingindo seu interior.

É nesse momento que se pode fazer do vale, um grande testemunho. É quando se deve crer que mesmo em meio ao abandono, mesmo entregue a mais densa escuridão, existe um fio de esperança. É quando lemos “pois junto a mim estais”. É quando recordamos o profeta que diz: "Quando passares pelas águas, Eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti" Isaías 43,2

Não sei qual é o seu vale hoje, sei qual é o meu. Seja qual for, não estamos sozinhos na travessia. Mesmo que se sinta no mais completo abandono, mesmo que tenha sido objeto de escárnio por três ou quatro línguas puritanas escondidas por trás das paredes de concreto de sua congregação religiosa e que, reunidos atraem sobre si, o peso do seu próprio julgamento, mesmo que pra onde olhe não veja saída porque só enxerga sombras, lembre-se de olhar pra cima, espere o seu meio dia, e a luz da verdade que um dia brilhou dentro de si, resplandecerá com maior intensidade que antes, deixando confundidos todos os ensimesmados que se vangloriam por ainda acreditarem que o suficiente é permanecer escondido entre as paredes e performances exteriorizadas do seu movimento religioso , falando do evangelho que os aproximam somente pelos lábios, mas que seus corações voltam-se precisos na emissão de juízos.

É a conclusão.


 


Por
Wellington Dantas





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