sábado, 4 de junho de 2011

A FÉ SEM A RAZÃO E A RAZÃO SEM A FÉ.

Pedro Ravazzano
 
O alvorecer da mentalidade moderna remonta ao rompimento da relação da fé com a razão. A derrocada da Civilização Ocidental, ainda que esteja marcada por eventos revolucionários, tais como a Reforma Protestante e a Revolução Francesa, deve os seus pressupostos filosóficos ao que Descartes inaugurou ao arvorar o triunfo da razão.

A razão se liga a Deus, o seu criador, e encaminha o homem ao conhecimento da realidade que o permeia. O conhecimento das coisas-em-si se dá por um esforço intelectual totalmente possível ao individuo dotado dos potenciais da sua racionalidade. Não obstante, a razão separada da fé, ao colocar Deus como mais um objeto da reflexão, abre-se à sua própria segmentação.
O racionalismo admite o conhecimento racional, porém desvinculado da experiência, totalmente independente da objetividade do mundo, o que deu margem ao distanciamento tipicamente positivista.

O empirismo, por sua vez, nega a possibilidade do conhecimento universal e verdadeiro – incluí-se os princípios morais, a religião etc – e fundamenta o conhecimento numa impressão puramente subjetiva baseada no mundo sensível.

Assim como a razão se dividira a fé, separada da razão com o protestantismo, também se fragmentara em diversas denominações baseadas em centenas de impressões. A Sola fide de Martinho Lutero fora a versão religiosa da cisão que ocorrera no saber engendrada por Descartes, Hume, Kant etc.

A aversão da Reforma Protestante à razão criou um cenário muito propício às críticas infundadas dos racionalistas que taxavam a crença como um produção da irracionalidade do homem. Essa distinção entre fé e razão deu forma às filosofias que colocaram Deus como alvo da reflexão ou simplesmente negaram qualquer possibilidade de conhecimento por ser – caso o fosse – uma coisa que extrapola os limites da empiria. Os frutos do protestantismo endossaram essa leitura restrita da religião ao romper com a razão e ao fazer brotar confissões baseadas no sentimento, no fideísmo e na compreensão do saber racional como um sustentáculo externo à própria experiência religiosa.

A reconciliação entre fé e razão, como colocada pela Fides et Ratio, vai reestruturar não apenas a ordem como possibilitar o conhecimento pleno do homem e de sua relação com Deus. Nesse sentido, o saber fenomenológico, como pensado por Edith Stein, ao propor uma reflexão aberta em relação ao fenômeno religioso, possibilitara à filosofia a retomada de uma visão ampla e livre do dogmatismo racionalista e do subjetivismo empirista.

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