quinta-feira, 9 de junho de 2011

ENTRAR NO CASTELO INTERIOR.

Quantas almas experimentaram também a verdade da palavra do salmista que diz: Quando te recordo no meu leito, passo vigílias meditando em ti; pois foste um socorro para mim, e, à sombra de tuas asas, eu grito de alegria (Sl 63,7-8).

A oração contínua, ou de desejo, não deve fazer-nos negligenciar a necessidade vital que temos de um tempo específico e exclusivo para rezar, possivelmente em lugar solitário, como fazia Jesus. Ele nos disse: Quando orares, entra em teu quarto, e, fechando a porta, ora a teu Pai no segredo (Mt 6,6). Há casos em que é preciso tomar ao pé da letra este conselho de Jesus, porque o próprio quarto – depois de fechada a porta e desligado o telefone – tornou-se para muitos, não só leigos, mas também religiosos, o último refúgio de oração neste mundo, em que podemos orar sem ser perturbados. Sem este tempo exclusivo de oração, é uma ilusão aspirar à oração “incessante”, ou do coração.

Quando chega este momento estabelecido para colocar-nos em oração, é preciso interromper decididamente as ocupações e os pensamentos de antes; fazer como Jacó que durante a noite lutou com Deus, atravessou descalço a torrente, deixando na outra margem todas as pessoas que lhe eram caras e todas as coisas (cf. Gn 32,23ss). É preciso entrar no próprio castelo interior, levantando as pontes levadiças. Para usar as palavras de um escritor espiritual da Idade Média, “é preciso que coloques uma nuvem de esquecimento entre ti e todas as criaturas”, para estar em condições de entrar “na nuvem do não-conhecimento” que está sobre ti, entre ti e o teu Deus, isto é, para entrar na contemplação (cf. Anônimo. Nuvem do não conhecimento. 5, Milano: Áncora, 1981, 138s).

É difícil, mas devemos esforçar-nos por fazê-lo, do contrário toda a oração ficará enfraquecida e dificilmente conseguirá elevar-se. É aconselhável dedicar os primeiros momentos deste tempo de oração a purificar o próprio Espírito, confessando as próprias culpas e implorando o perdão de Deus, visto que “nada de contaminado” pode unir-se a Deus (cf. Sb 7,25).



Extraído de: CANTALAMESSA, Raniero. O Espírito Santo na vida de Jesus. 6ª ed. São Paulo: Loyola, 1998, pp. 50-55.



 

por Frei Raniero Cantalamessa, Pregador do Vaticano *
Revista Shalom Maná

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