Iniciamos a segunda semana de
Advento, preparando-nos não só para o Natal, mas também para a vinda
gloriosa de Cristo no final da história, quando então ele virá nos coroar com a
plenitude dos bens prometidos e que hoje, vigilantes, esperamos (Prefácio do Advento
I)
A Eucaristia nos apresenta uma das características essenciais desse
Tempo do Advento: a conversão. João Batista que nos chama à mudança de
pensamento e de atitude. A voz que clama no deserto é a voz do Evangelho, é a
voz dos sofredores, é a voz dos que pedem mais dignidade, é a voz de nossa
consciência. O que importa é que a mudança de vida, à qual somos chamados,
comece em nosso interior e tenha sinais exteriores. João Batista sai do seu
lugar e vai para o deserto.
Sair de nossas velhas práticas e costumes e assumir
o novo jeito de ser de Deus é ouvir a voz de quem clama: Convertam-se. A segunda vela que acendemos na coroa de
Advento nos ilumina e nos ajuda a perceber que estamos a caminho, peregrinos
rumo a um futuro bom que nos espera. Mas, até lá, temos ainda muito o que fazer
em parceria com nosso Deus.
Estamos a caminho em meio a um mundo de tantas contradições, com
poderosos achando-se os donos do mundo e fazendo da vida humana um desterro sem
destino: quanta injustiça gerando mortes!
Deus acabou de falar-nos na proclamação das Sagradas Escrituras.
Vejamos um pouco o que de fato ele está a nos dizer: A figura de João Batista trazia à lembrança o que o profeta Isaías já
havia anunciado sobre ele há muito tempo: “Esta é a voz daquele que grita no
deserto: preparem o caminho do Senhor, endireitem suas veredas!” (Mt 3,3). Seu
próprio estilo despojado de viver dizia ser ele, João, um autêntico e
respeitável profeta: “usava uma roupa feita de pelos de camelo e um cinturão de
couro; comia gafanhotos e mel do campo” (v.4).
Hoje, o profeta João Batista vem e grita no deserto da nossa
existência, no sentido de endireitar a estrada humana, para que nela passe o
Salvador.
“O que significaria hoje esse ‘endireitar a estrada humana’? A estrada
humana somos nós mesmos, são nossas atitudes, a nossa vida, o nosso dia a dia.
Olhando para dentro de nós e para o mundo que nos cerca, descobrimos uma
infinidade de coisas que não andam direito. O que não anda direito hoje? O que
anda enchendo de desvios e, até mesmo, ‘esburacando’ a estrada se nossa vida?
Se o Senhor viesse hoje para passar por ela, Ele encontraria a estrada de nossa
vida preparada, endireitada? Ou há razão para desconfiar que Ele escolheria um
outro caminho, porque o nosso está impedido e intransitável? Está na hora de
limpar o leito de nossa estrada do egoísmo, do amor próprio, da vontade de
humilhar os outros e de progredir na vida à custa dos que não tem voz nem vez”
Para endireitar a estrada humana, João Batista nos chama a produzir
verdadeiros frutos de conversão. “Não basta procurar somente o rito do batismo,
como fizeram os fariseus e saduceus. Não basta ser apenas católicos de nome ou
de batismo, para cruzar os braços, acomodando-nos e pensando que a salvação nos
virá através de títulos e ritos.
Ser-nos-á necessário um empenho constante, através do arrependimento e
da conversão. Não basta lamentar os erros do passado dentro ou fora do
confessionário. Precisa entrar por caminhos novos. Aqueles caminhos que João
Batista e Jesus Cristo nos mostraram. Estes caminhos nos libertam de nosso
isolamento e nos levam aos irmãos”. Isso mesmo: diminuir as distâncias que nos
separam uns dos outros, é o desafio lançado. É na busca do outro, fazendo-nos
irmãos compassivos de todos, que começa o processo da salvação, que terá seu
ponto alto no encontro com Cristo.
E esta conversão “deve continuar sempre. Comporta dois momentos:
1) O
momento de a consciência reconhecer o que está errado, conceber o propósito de
mudar e pedir perdão. Assim faziam os que recebiam o batismo de João ‘para a
conversão’ (Mt 3, 11). Hoje, podemos fazer isso, com a garantia da Igreja, no
sacramento da reconciliação;
2) O momento da prática. A verdadeira conversão se
comprova na prática: viver a vida que Jesus nos ensina por sua palavra e
exemplo, assumir-nos mutuamente no amor fraterno, como o Messias assume a causa
dos fracos. Essa prática será o fruto que comprova nossa conversão e um ato de
louvor a Deus que nos enviou seu Filho como Messias”
Em uma palavra, celebrar a proximidade do Reino dos Céus, como fazemos
no Advento, “implica reacender nossa caridade. Quando uma família espera a
visita de uma pessoa querida, seus membros começam a melhorar seus
relacionamentos. Mas talvez falte a consciência desta proximidade.
Precisamos de uma voz profética, como a do Batista, para proclamar que
o Messias e o Reino estão próximos, pois Jesus nos convida cada dia a assumir a
sua causa. Converter-se a Jesus continua sendo necessário também para o ‘bom
católico’. Sempre de novo devemos abandonar nossa vida egoísta, para viver a
justiça e a caridade que Jesus-Messias veio ensinar e mostrar” (Idem).
Que a Palavra de Deus que ouvimos e a Eucaristia que celebramos nos
encorajem a abrir caminhos sempre novos, caminhos de justiça e caridade,
caminhos de reconciliação e de paz, caminhos do Reino dos Céus anunciado por
João Batista e encarnado na pessoa de Jesus em prol dos fracos e oprimidos.
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