O Criador faz depender do consentimento de uma criatura a execução de todo o plano de sua Providência.
O mistério da natividade do Senhor, que estamos prestes a celebrar,
está indissociavelmente ligado à maternidade divina de Maria, como Padre Paulo Ricardo explicou na homilia do último domingo.
Os santos da Igreja bem o sabiam e, por isso, sempre que se dirigiam a
Deus em agradecimento pela Encarnação do Verbo, cantavam ação de graças
igualmente pelas maravilhas que o Todo-Poderoso operou em Maria. Foi por
meio de seu "sim", afinal, que Ele escolheu vir ao mundo e salvar o
gênero humano; o Criador faz depender do consentimento de uma criatura a execução de todo o plano de sua Providência.
Às vésperas do Natal, nada mais útil para nossa vida interior que
meditar sobre essas verdades da nossa fé. A seguir, deixamos a você uma
preciosa reflexão, da boca de São Bernardo de Claraval, em que ele
descreve com belos detalhes a espera do mundo inteiro pela resposta de
Maria, durante o episódio da Anunciação. Para um estudo teológico mais
profundo a esse respeito, recomendamos a todos os nossos alunos e
internautas que consultem a questão 30 da terceira parte da Suma Teológica, de Santo Tomás de Aquino, que é também de grande riqueza.
Essa meditação de São Bernardo faz parte do Ofício das Leituras de ontem, dia 20 de dezembro.
Das Homilias em louvor da Virgem Mãe, de São Bernardo, abade
(Hom. 4,8-9: Opera omnia, Edit. Cisterc. 4, [1966], 53-54)
O mundo inteiro espera a resposta de Maria
Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem — tu ouviste — mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta: já é tempo de voltar para Deus que o enviou. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia.
Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres. Todos fomos criados pelo Verbo eterno, mas caímos na morte; com uma breve resposta tua seremos recriados e novamente chamados à vida.
Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prostrado a teus pés.
E não é sem razão, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça.
Apressa-te, ó Virgem, em dar a tua resposta; responde sem demora ao Anjo, ou melhor, responde ao Senhor por meio do Anjo. Pronuncia uma palavra e recebe a Palavra; profere a tua palavra e concebe a Palavra de Deus; dize uma palavra passageira e abraça a Palavra eterna.
Por que demoras? Por que hesitas? Crê, consente, recebe. Que tua humildade se encha de coragem, tua modéstia de confiança. De modo algum convém que tua simplicidade virginal esqueça a prudência. Neste encontro único, porém, Virgem prudente, não temas a presunção. Pois, se tua modéstia no silêncio foi agradável a Deus, mais necessário é agora mostrar tua piedade pela palavra.
Abre, ó Virgem santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Eis que o Desejado de todas as nações bate à tua porta. Ah! se tardas e ele passa, começarás novamente a procurar com lágrimas aquele que teu coração ama! Levanta-te, corre, abre. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. Eis aqui, diz a Virgem, a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra (Lc 1, 38).
Por Equipe Christo Nihil Praeponere
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