sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

A IMPORTÂNCIA DE REZAR ANTES DAS REFEIÇÕES

Você sabia que há uma ligação entre seu filho esperar para rezar antes das refeições e a capacidade dele de evitar, no futuro, o sexo antes do casamento?

"Saying Grace" (1951), de Norman Rockwell.
Você sabia que há uma ligação entre seu filho esperar para rezar antes das refeições e a capacidade de ele evitar, no futuro, o sexo antes do casamento?
Isso tem a ver com esperar para ser recompensado. Quando nos sentamos à mesa, é justo e correto que primeiro agradeçamos a Deus e peçamos a sua bênção sobre o alimento de que estamos prestes a desfrutar. Só então pegamos em nossos garfos para comer.
Nas poucas famílias em que ainda se come à mesa, as crianças pequenas são normalmente tentadas a beliscar um pouquinho da comida de seus pratos enquanto suas mães se voltam para buscar o último prato para a refeição. É dever dos pais impedir que os filhos façam isso. Os filhos devem aprender a esperar. E por quê?
Bem, um dia os apetites deles vão incluir não só a comida para a preservação do corpo humano, mas eles terão também um apetite intenso para a preservação da raça humana. Se eles são autorizados a lambiscar um pouco aqui e ali antes da bênção, basta seguir a analogia:
Criança com fome → Bênção da refeição → Satisfação do apetite da fome
Pessoa jovem → Bênção matrimonial → Satisfação do apetite sexual
Veja, se meu filho aprende que pode comer antes de a família se reunir e o seu pai presidir à benção religiosa, então, do mesmo modo, ele provavelmente não vai esperar, para ter sexo, que a sua família se reúna na igreja e o padre pronuncie a bênção religiosa sobre ele e sua noiva no altar.
Isso tem a ver não só com refeições em família, mas com tudo: escola, trabalho, Advento, Quaresma, jejum eucarístico, abstinências às sextas-feiras, penitência, preparação sacramental, gravidez, educação dos filhos, doença, morte natural, e assim por diante.
O catolicismo é a religião da "recompensa demorada" (delayed gratification). Essa vida é um teste para determinar a nossa recompensa eterna. Se vivermos apenas para ter prazer no agora, não teremos a bem-aventurança no futuro. Cristo instituiu sua Igreja Católica para nos prover pequenos desafios e provações todos os dias. O jejum eucarístico é um exemplo óbvio. Humilhar-se a si mesmo no confessionário antes de receber a Sagrada Comunhão é outro. Significa aprender a fazer algo difícil ou inconveniente tendo em vista um bem maior.
Mas voltemos ao meu filho. Se ele aprende a violar o jejum eucarístico ou a quebrar suas resoluções quaresmais, o que fará ele em outras áreas de sua vida? Ele certamente vai explorar seus limites, mas vai terminar fracassando no final, por não entender que todo sucesso provém de sabermos esperar — seja o sucesso temporal, seja o eterno.
Observe, por exemplo, todos esses hipsters nos Estados Unidos [1]: eles têm cursos universitários, votam, são um pouco inteligentes e até possuem uma coleção interessante de discos de vinil. No entanto, eles não têm trabalho. As notícias dizem agora que nossos hipsters, formados na universidade, estão se tornando dependentes de subsídios estatais. Eles gastam todo o seu tempo em cafeterias discutindo Renoir, Radiohead e Rousseau, mas compram sua comida com vale alimentação! Parece que caíram na armadilha de hipster.
O que está acontecendo é que esses jovens foram educados para rejeitar recompensas demoradas. São produtos da sociedade que glorificam a recompensa imediata. Querem trabalhos significativos… agora. Querem ser diretores de galerias de arte, professores, CEOs, diretores de ONGs, de cinema, criadores de Facebook, autores, atores e poetas. O que eles não percebem é que demanda uma porção de trabalho árduo ascender a essas profissões, a qualquer profissão, para dizer a verdade.
É por isso que temos que nos dar conta do valor do catolicismo para a nossa cultura. A fé católica, nesse sentido, nos ajuda de duas formas: a primeira é sobrenatural e a segunda, natural, temporal e social.
Primeiro, a teologia católica de esperar confirma que as honras e glórias deste mundo são vaidade das vaidades. Foi a fé o que levou o Imperador Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico, a abdicar do trono e viver os seus últimos dias em um obscuro monastério. Os pequenos e naturais prazeres desta vida não são dignos de ser trocados pela enorme bem-aventurança sobrenatural a ser alcançada na vida futura. Essa vida em si mesma é uma prolongada espera por algo melhor e além.
Segundo, a teologia de esperar, ou da "recompensa demorada", como a chamamos, não é de passividade. Você está ativo e esperando. Ao contrário da ideologia de hipsters fumando cigarros enrolados à mão e reclamando daquelas camisas sem graça pertencentes ao "um por cento", a teologia de esperar pede o sacrifício de agora para algo melhor depois. Por isso, se você deseja um trabalho significativo, ponha-se de pé e produza alguma coisa. Contribua. Ninguém se importa com o que você pensa ou sente, a menos que contribua com alguma coisa. Se for um artista, pode levar a você 20 anos para realmente vender algo. Se não é capaz de aceitar isso, não faça birra nem fique reclamando do mundo. Aprenda um pouco a esperar pela recompensa. Escreva as suas metas e conforme-se que é necessário um longo tempo para atingir objetivos importantes.
A contracepção exemplifica perfeitamente o desejo de nossa sociedade por gratificação imediata. Trata-se da ideia de que você pode ter descargas e mais descargas de prazer sem comprometer-se nem com uma pessoa (um ato de sacrifício), nem com uma gravidez (um ato maior de sacrifício), nem com educar uma pessoa humana por dezoito anos (um ato de imenso sacrifício).
De volta ao meu filho pela última vez. Desde o momento em que ele nasceu, ele vai mantendo o seu "limite de espera". Ele vai observar o "limite de espera" dos seus pais. Será que vivem de modo extravagante? Entram em dívidas para ter divertimentos agora? Fazem penitência? São hipócritas religiosos? Então ele começará a ver como o padrão do "limite de espera" se aplica a ele. Ele é autorizado a fazer birra quando não é imediatamente atendido? Vai perseverar nas tarefas domésticas? Vai concluir seu dever de casa? Vai manter o jejum eucarístico ou vai roubar um biscoito antes da Missa? Vai manter costumes simples, tais como não comer antes de rezar? Enfim, vocês captaram a ideia.
Se meu filho não aprender esse princípio católico da "recompensa demorada", então ele se vai transformar em quê? Vai se tornar um hipster dado à contracepção com um diploma de bacharel, esperando que um trabalho de 60 mil por ano lhe caia no colo. Infelizmente, ele vai ser um nada. Pior de tudo, ele não vai viver a vida abundante prometida por Cristo a quem tomar a sua cruz e O seguir.
É claro que não é fácil assumir essa teologia de esperar. É o ensinamento mais difícil do catolicismo. Como a bem-aventurada Virgem Maria disse a Santa Bernadette: "Não prometo fazer-te feliz neste mundo, mas sim no próximo". Essas palavras podem parecer terríveis, mas são uma promessa real. Ninguém de nós será perfeitamente feliz nesta vida. Simplesmente não vai acontecer.
C. S. Lewis disse certa vez que, se Deus nos desse a felicidade perfeita nesta vida, seria injusto já que, assim, deixaríamos de procurar o próprio Deus. Santo Tomás de Aquino diria que é impossível encontrar felicidade de outro modo, já que nosso Summum Bonum não é outro senão o próprio Deus.
Por isso, não fique chateado porque as recompensas não lhe vêm de maneira imediata. Elas demoram, mas chegam. A vida não será perfeita. Abrace essa verdade. Ela é libertadora. Há alegria quando nos damos conta disso. Eis o versículo que resume muito bem tudo isso: "Pelo contrário, alegrai-vos por participar dos sofrimentos de Cristo, para que possais exultar de alegria quando se revelar a sua glória" (1Pd 4, 13). E outro: "Mas quem perseverar até o fim, esse será salvo" (Mt 24, 13). 








Por Taylor Marshall | Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere

Notas

  1. O autor fala de um fenômeno particular da sociedade norte-americana. A descrição que ele faz, no entanto, se aplica com muita precisão, por exemplo, à nossa classe de jovens universitários, mutatis mutandis.

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