sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

O DECLINAR DE UMA JOVEM NAÇÃO: A PROFECIA DE CHESTERTON SOBRE OS ESTADOS UNIDOS.

 
À GUISA DE PRÓLOGO, não sou teólogo. Nem analista político, crítico literário ou adivinho. Tampouco historiador. Como não sou dotado da erudição, autodidatismo ou média acima das médias de um bom número de senhores e senhoras que plantam árvores e colocam no (às vezes retiram do) mundo filhos e filhas, para, ao fim e ao cabo, deixarem suas pegadas nas linhas que se perpetuam pelas bibliotecas, livrarias e internet mundo afora. Alguns merecedores do nosso mais profundo respeito e ouvidos, outros nem tanto, e outros ainda somente com “um pé lá, outro cá”. Se alguma virtude há, esta é a de reconhecer a grandiosidade da minha pequenez, daí que o que siga primeiro se revista do mais comuns dos sentidos, o sentido comum, para logo poder dar voz a quem a merece. Uma e outra coisa, porém, carentes de mérito próprio. E vamos ao que interessa.
 
Dias atrás vi um vídeo no qual se falava sobre as clarividências de um senhor por nome Edgar Cayce (foto), cuja passagem por nosso mundo se deu entre 1877 e 1945 e do qual ainda não ouvira falar graças, também, à condição acima apontada. Era este senhor – ao que parece pessoa de boas intenções – norte-americano. Chamou-me a atenção o fato de uma de suas previsões situar o fim de seu país, os Estados Unidos da América, no momento em que o seu 44º presidente, que seria negro, assumisse o poder. Também – sou obrigado a confessar – chamou-me a atenção uma previsão destas proporções sobre esse país por nele viver minha irmã mais nova e sua família. A profecia, que já teve uma de suas duas faces devidamente desveladas (sobre a cor de seu 44º presidente), ao que consta veio novamente à tona pelo fato de aquele país acabar de eleger um novo presidente branco, após o negro, às portas, portanto, de concluir o que seria o período destinado à validade profética sem que a outra face fosse devidamente descoberta, inserindo assim a profecia do sr. Cayce no rol das falsificadas, que são a maioria. Entretanto, em um outro vídeo havia uma plausível defesa à veracidade desse vaticínio, e não era nada ligado ao assassinato do novo presidente, à eclosão da terceira guerra ou às tão badaladas catástrofes naturais vindas do exterior, mas do planeta. A coisa se explicava de forma muito mais simples, concreta e verossímil. E é que os Estados Unidos podem, sim, estar na iminência do fim. Ao menos tal como o conhecemos. O motivo é o mesmo que antes cavalgou sobre este país e que passou aos livros de história como Movimento Separatista. Os EUA, segundo gente competente, estão às portas de concretizar também ele o seu cisma, liderados por um dos Estados membros, a Califórnia[1]. E, pelo andar da carruagem, pode ser que se concretize antes mesmo de o novo presidente de direito assumir de fato, dando por isso cumprimento à segunda parte desta clarividência, então íntegramente clara e desvelada para que se queira provar o contrário.

Entretanto, para não ser acusado de vender gato por lebre – comércio em clara ascensão na atualidade – o que interessará, mais que o supracitado vaticínio, será uma outra profecia oriunda não de um profeta ou místico visionário (ao menos em sentido stricto), mas de um jornalista. Ainda que, a bem da verdade, já quase um candidato aos Altares, o que nos daria o primeiro santo jornalista da História. Como dito em outro lugar[2], algo providencial considerando esses tempos carregados de pecados jornalísticos. Em um trecho de "Hereges"[3], o inglês Gilbert Keith Chesterton nos brinda com outra de suas abrangentes análises em que antecipa décadas e mesmo séculos de acontecimentos humanos em suas mais variáveis facetas e campos de batalha. Não sem espanto – aos que desconhecem ou não o autor – encontramos uma fina lógica nesta análise, fruto e resultado das grandes mentes com que a Providência, a exemplo dos luzeiros proféticos[4], nos alumia em noite escura. Tal análise não pode ocorrer sem uma visão sincrônica e diacrônica amplas, acrescida da perspicácia conjuntural de um enxadrista exímio. Ambas não faltaram a ele, capaz de ver o macro através do micro, o que neste caso será o mesmo que entender o mundo através do quintal de sua casa. Mas como a intenção é dar e não ser voz, ei-lo escrevendo, em 1905, sobre o futuro do “jovem” país dos Estados Unidos da América (aqui como metáfora, mas sem eufemismo ou hipérbole, poderíamos mesmo ver um pai escrevendo sobre um filho):

(...) Ao tocar nas colônias britânicas, não desejo ser mal-entendido. Não estou dizendo que as colônias ou os Estados Unidos não têm um futuro, ou que não serão grandes nações. Simplesmente nego todo o conjunto moderno de noções consagradas a respeito disso. Nego que estejam 'destinadas' ao futuro. Nego que estejam 'destinadas' a ser grandes nações. Nego (é claro) que qualquer coisa humana esteja destinada a ser qualquer coisa. Todas as absurdas metáforas físicas, tais como juventude e velhice, vida e morte, são, quando aplicadas a nações, nada além de tentativas pseudocientíficas de ocultar dos homens a terrível liberdade de suas almas solitárias.

No caso dos Estados Unidos, por certo, um alerta desse tipo é urgente e essencial. Os Estados Unidos, como qualquer outro empreendimento humano, podem certamente, no sentido espiritual, viver ou morrer da forma que escolherem. Mas, no presente momento, a questão que os Estados Unidos têm de considerar muito seriamente não é quão perto estão do nascimento e do início, mas quão perto podem estar do fim... Que evidência verídica temos de que os Estados Unidos são uma força viçosa e não decadente? Possuem uma grande população como a China; têm muito dinheiro, como a vencida Cartago ou a moribunda Veneza. Estão cheios de agitação e irritabilidade, como Atenas antes da ruína, e todas as cidades gregas ao declinar... Tudo isso é perfeitamente compatível com tédio e declínio. Há três formas ou símbolos principais com que uma nação se pode mostrar essencialmente grande e satisfeita – pelo heroísmo no governo, pelo heroísmo nas armas e pelo heroísmo nas artes...

Submetidos a tais testes eternos, os Estados Unidos não parecem, de modo algum, puros e intocados. Aparecem com todas as fraquezas e desgastes da moderna Inglaterra ou de qualquer potência ocidental. Na política, estão divididos como a Inglaterra, entre o selvagem oportunismo e a insinceridade. Na guerra e no posicionamento nacional frente à guerra, as similaridades com a Inglaterra são ainda mais manifestas e deprimentes. Podemos dizer, com razoável precisão, que há três estágios na vida de um povo forte. No princípio, é uma pequena potência e luta com pequenas potências. Em seguida, se torna uma grande potência e luta contra grandes potências. Então é uma grande potência e luta contra pequenas potências, mas finge que são grandes potências, para reacender as cinzas da antiga emoção e vaidade. Depois disso, o próximo passo é se tornar uma pequena potência...

Mas ao chegarmos ao último teste da nacionalidade, o teste da arte e das letras, o caso é quase terrível. As colônias britânicas não produziram nenhum grande artista... Mas os Estados Unidos produziram grandes artistas. E esse fato certamente prova que estão repletos de uma boa futilidade e do fim de todas as coisas... As colônias não falaram, e estão a salvo. O silêncio delas pode ser o silêncio de um nascituro. Mas, dos Estados Unidos, vem um lamento doce e assustador, tão inequívoco quanto o lamento de um moribundo.

Em um conciso e nada abalizado resumo, cujas vistas terão o direito e mesmo o dever de refutar, permitam-me apenas uma pequena digressão sobre o heroísmo dos governos, das armas e das artes acima mencionados, à guisa de epílogo:

No tocante ao primeiro, parece-me fato que a política americana tenha já logrado o renascimento da panis et circenses romana. Muito pouco neste país se leva a sério neste sentido, a começar pelos próprios protagonistas políticos. Há uma sensação de fast food e não só entre os alimentos. Mas, para ficar nesta metáfora, a impressão de comida congelada soa tão palatável que mesmo o profissional de jornalismo já não mais a disfarça tão profissionalmente. Pareceria mesmo que de um tempo para cá se permita colocar fim aos disfarces. Coisas que acontecem entre cardápios congelados com prazo de validade, salvo se ocorrer imprevistos. Mas estes são, via de regra, exceção. Se não, entram para a categoria daqueles imprevistos previsíveis. Poderíamos aqui esperar o descongelamento completo para ver se o prazo não espirou ou se não falsificaram a validade. De toda forma ainda há um cheiro de azedo no ar...

No tangente às segundas vejo, não obstante a miopia e o astigmatismo que me são característicos, assim: veio a primeira fase em que os EUA, por exemplo, engordaram à base de proteicas terras mexicanas ainda como potência de shorts; em seguida veio a segunda fase, com a Segunda Guerra, agora lutando a grande potência de calças compridas; então, de um tempo esfriando a marmita com a Guerra Fria, ainda que os fornos nucleares continuassem a todo vapor, reascendem-se as emotivas cinzas da “vaidades das vaidades” às custas de poderosos e ameaçadores inimigos como o Vietnã, o Afeganistão e o Iraque. Certamente pudéssemos incluir a Colômbia, mas me parece que ali tenha sido suficiente o Rambo com sua equipe. Agora... bem, agora desconfio que é se preparar para encolher, porque se se descongela a torta atômica, não sei não.

Por fim, quanto às terceiras, basta lembrar o recente Nobel de literatura ao senhor Dylan e não será o caso de precisarmos de Cayce ou de Chesterton: o essencial já é visível aos olhos.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

Aos 30 de novembro do ano da graça de Nosso Senhor Jesus Cristo de 2016
Frei Zaqueu
__________
1.
http://www.cartacapital.com.br/internacional/calexit-movimento-tenta-independencia-da-california

2. Frei Zaqueu: O Casamento Tem Cura. Em:  http://www.ofielcatolico.com.br/2006/11/o-casamento-tem-cura.html

3. CHESTERTON, G.K. Hereges. 3ª ed. Ecclesiae: Campinas, 2014, pp. 251-254.

4. Cf. 2 Pe I,19.
www.ofielcatolico.com.br

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