Como é maravilhoso o primeiro amor. O início da conversão onde tudo é novo, a preocupação zelosa com as coisas de Deus, em manter-se limpo, em não desperdiçar tempo com coisas fúteis, em dedicar-se a leitura e meditação da palavra. É como o amor de uma criança que acaba de conhecer seu pai. Ele tem apenas 4 ou 5 anos. Seu pai é um herói, tudo que ele fala é verdadeiro, sabe tudo, tem todas as respostas, não existe o que questionar. Ele confia e se entrega por completo. Não há maldades porque não se tem conhecimento que exista, não há dúvidas ou medos.
Lembro-me dos primeiros louvores ao chegar em um Grupo de Oração pela primeira vez, dos primeiro pregadores, das primeira missões, dos primeiros irmãos. Saudades! Nada pode substituir o primeiro amor. Tudo passa. O tempo, o namoro, o casamento, os irmãos, a Igreja, dinheiro, poder, riquezas, tristezas, alegrias, sentimentos, problemas, vitórias, derrotas, conquistas... nunca o primeiro amor.
E este por ser tão lindo e tão especial, necessita de uma vigilância, uma segurança dobrada. Deve ser alimentado todos os dias, para seu crescimento contínuo. O neófito necessita de cultivar a todo instante esse tesouro. Quando há falhas nesse sistema de segurança, quando já não existe o mesmo zelo, a queda é gradativa, progressiva e real.
E onde antes não existiam erros e sim medo de errar, onde antes não existia orgulho e sim o temor a Deus, onde existia o medo de pecar... hoje habita o pecado.
Onde a palavra de Deus era fecunda, viva e eficaz, hoje quase não é lembrada. Um coração de terra árida, improdutiva. Onde um dia habitou vida, reside hoje destruição e morte. Um mundo sombrio, construído sobre o alicerce de falsos sonhos. Um mundo de Ilusão. Uma “terra do nunca”.
Um saber antes usado para a edificação de si mesmo e disposto ao serviço, hoje acumula poeira, está acinzentado, amarelado. Facilmente o que pode ser lembrado, é aplicado em sua forma destorcida, invertida sua verdade, manipulada em benefício próprio, ou ainda, para contrariar os menos esclarecidos. È bem verdade quando a palavra ensina que “a letra mata e o espírito vivifica” (2Cor 3,6). O conhecimento muitas vezes não é suficiente. Aquela criança que antes via o pai como modelo de perfeição, sem erros e que confiava tudo a ele, esta criança cresce e ao passo com que absorve o conhecimento, seu pai deixa de ser herói. As atitudes e conselhos logo encontra o contraditório. Seus defeitos que antes não existia, tornam-se visíveis. Assim foi o início. Ao passo que se conhecia, a vigilância perdia forças. A oração iniciava seu processo de resfriamento. Perdia a humildade e abria frestas para alojar o orgulho.
A falta de policiamento te leva a terras distantes, seca, onde a vontade de Deus não tem espaço para ser cultivada. Terra de fome e sede do alimento verdadeiro.
Há dias que a saudade dessa boa comida, da sombra e da água fresca, penetra no mais profundo de sua alma de forma que a dilacera e te faz sentir-se a escória do mundo.
A comida é estragada. Os primeiros amigos perdidos na lembrança, dão lugar a porcos que se misturam na comida. A comida não parece em nada com a de antes. Está estragada, mas mesmo assim, se come, mesmo sabendo que não presta e de tanto comer até acaba se parecendo com eles nos atos praticados.
E as lembranças são constantes.
Das muitas vezes que falei em nome de Deus. Muitas também, foram as vezes em que falei como um discípulo àqueles que andavam abatidos, desesperançados e caídos.
Lembro-me quando fui chamado por Deus para assim proceder. Lembro-me de quando me abriu os ouvidos e de como não resisti e nem recuei na árdua e difícil missão que a mim foi confiada.
Lembro ainda de como fui destemido no cumprimento, de como não desviei meu rosto dos que me escarneciam e de como não fiquei envergonhado de ser aquele zeloso arauto, pois em todos os momentos Deus vinha em meu auxílio e em nenhuma situação acreditei que seria confundido.
Como um valente, preguei em vários lugares, fui mensageiro de uma paz que o mundo ainda desconhece. Pela ação do Espírito Santo, fui levado a desbravar a janela do conhecimento e com muita sede, mergulhei nas águas da sabedoria do Senhor constantes nos escritos já revelados. (Rm 1,19).
Não diplomado em teologia, mas outorgado pela doutrina Católica que se dispõe a todo aquele que nela deseja aprofundar-se, aprofundei-me não somente em seu Catecismo, mas também fui conferir a riqueza e a profundidade dos seus documentos. Zeloso e guardador de tão valioso tesouro, decidi partilhar desse conhecer, levando em conta a confissão preocupante do profeta Oséias de que “meu povo se perde por falta de conhecimento”(Os 4,6).
Qualificava-me na formação e atenciosamente repassava as verdades do Cristianismo alicerçadas pela intrépida doutrina do catolicismo.
Diante de tão belo seguimento, o que poderia levar esse expoente a desviar-se? Como entender o porquê de todo declínio?
Teria me desviado por que alimentei em meus lábios as palavras duras que suscita a ira?(Pv 15,1)
Teria me desviado por que me assentei junto aos escarnecedores? (Sl 1,1).
Seria pelo fato de ter sido entregue a vaidade?
Teria então me aproximado do caminho dos ímpios, por está nos caminhos de Deus apenas por temor? Ou será que teria sido por ter perdido o temor do Senhor me deixando ser tomado pela falta de sabedoria?
Será que a ausência da meditação na lei do Senhor, causou efeito imediato para me aproximar das palavras insanas?
Será ainda que, apenas aceitei Jesus, mas não entreguei minha vida para ele? Me convenci, mas não me converti?
São muitas as perguntas, mas somente uma certeza é absoluta. Somente uma resposta pode ser encontrada.
Continua...
Por
Wellington
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