quarta-feira, 29 de junho de 2011

ARRUMAR AS MALAS.


Como estou longe do Brasil há mais de dois anos não sei quais são as palavras e expressões de modismo que estão na boca das pessoas, de modo geral, mas sei de uma que é cada vez mais freqüente nas canções católicas e que virou marca registrada do Missionário Shalom. Primeiro eles cantaram que eram “estrangeiros aqui” e agora que estão de “malas prontas”, para onde? Para o Céu! O Céu tem se tornado um bendito modismo.
Se pensássemos mais no Céu relativizaríamos mais o que é passageiro e nos prepararíamos com mais leveza e melhor para voltar para lá, de onde viemos. Nossa vida é tão curtinha se pensarmos na eternidade e no que nos espera do lado de lá! Mais que um lugar monótono – quando eu era criança, confesso, eu ficava pensando como seria passar todo o tempo louvando a Santíssima Trindade, e temia que fosse a coisa mais chata do mundo – pelo que o livro do Apocalipse fala, no Céu usufruiremos em plenitude da presença de Deus, e nele tudo é absoluto, principalmente o Amor, e neste Amor está toda a liberdade, a paz, a beleza, a realização. Não haverá mais dor, sofrimento, tristeza e limite de qualquer espécie! Cristo será tudo em todos, diz a Palavra de Deus! Vida em abundância! Comunhão total com Deus!
Quem já teve alguma experiência espiritual por conta do toque da Graça, que é o Espírito Santo, e conheceu na alma a presença de Jesus Ressuscitado, passando a se relacionar com Ele cada vez mais intimamente, pessoalmente, diariamente, pela oração, pela Palavra e acima de tudo pela Eucaristia, sabe do que eu estou falando. E estas são pequeníssimas labaredas de amor que nos tocam e nos curam, plenificam, muitas vezes nos inundam de lágrimas e paz, imagine quando não houver mais nenhum véu, nenhuma barreira e será todo o Amor e todo o Fogo? Esta imagem é tão cara a São João da Cruz... Por isso, quando alguém que a gente ama morre, principalmente se vivia a vida em Deus se preparando para o Céu, em amor, choramos de saudade, mas deveríamos de fato ficar feliz por ela.
Acho que teremos surpresas quando chegarmos no Céu e penso muito nisso. Não por causa das conversões espetaculares que acontecem e que só Jesus mesmo conhece – não foi o caso de quem morria ao seu lado também crucificado? – mas por causa dos santos ordinários de cada dia e que andam ao nosso lado. Claro que vai ser fantástico encontrar uma pessoa que foi um “horror” neste mundo, alcançada pelo amor inequívoco e mais brilhante do que o sol que Deus nos dá em Jesus, no último instante de decisão de sua vida e vontade. Este é um mistério que ninguém sabe como se dá nem quando se dá, pois só morremos uma vez, mas cremos, confiamos e escutamos diariamente que a salvação foi dada a todos, pois o amor de Deus cobriu toda a humanidade: “... este é o cálice do meu sangue, o sangue da nova e eterna aliança que é derramado por vós e por todos os homens para o perdão dos pecados... fazei isso em memória de Mim”. Haverá muitos bons ladrões e boas ladras que nos surpreenderão na eternidade, graças a Deus.
Mas haverá também os santos escondidos, simples, comuns como feijão com arroz e que vivem ao nosso lado na célula, na casa comunitária, na paróquia, na vizinhança, até nas nossas famílias. Grande neles é Deus mesmo que tomou posse da alma, em amor, mas que permaneceu escondido no cotidiano e nos limites ordinários da humanidade de cada um. Deve ter sido assim a surpresa das irmãs do Carmelo de Lisieux que morreram antes dela, que a conheceram e que, ainda no purgatório, felicíssimas por se prepararem para o banquete do grande Rei, como acontece na parábola do Filho Pródigo, se dão conta que Teresinha tinha ido direto para Céu, santíssima, transfigurada, porque totalmente tomada e unida a Jesus, o Amado de sua vida. Pense na cena! Como pode, uma pessoa tão comum, tão simples, que fazia tudo igual a todo mundo ir para direto para o Céu? Mas é exatamente esta adesão e este amor à vontade de Deus, sem resistência, contínua, diária, amando, perdoando, não julgando, se arrependendo, deixando a alma ser grande e livre em Deus, continuamente fixada nas coisas Dele, rezando, rezando, pacientemente dando passos de formiga – quem é da minha idade deve se lembrar da brincadeira de infância que chamava ‘Mamãe posso ir?’ – mas passos determinados. Afinal de contas, Teresinha era filha de Teresa e ambas tinham a determinada determinação de ser o que Deus queria que elas fossem: santas. Essa é a mesma determinação que Deus dá aos que são Shalom!
Este pensamento de Céu e da santidade dos meus irmãos e irmãs de casa, missionários como eu, também os demais que estão no Brasil e no mundo, espalhados, me faz admirar ainda mais a obra do Senhor através do Carisma Shalom em cada um, e me faz querer ir para o Céu junto com eles, em unidade, não por presunção, mas por vocação, pois este é o fim último de nossas vidas e consagração: a vida eterna, o Céu.
Tomara que essa moda pegue, querer ir para o Céu e, enquanto vivemos por aqui, ajudemos uns aos outros a arrumar as malas.

por
Elena Arreguy Sala, Missionária da Comunidade Shalom
Comunidade Shalom

Nenhum comentário: