É provável que sejam raras as pessoas que não se perguntem se os acontecimentos que alegram ou machucam a nossa vida sejam obra do destino, do acaso ou de Deus... Uma tentativa de resposta foi dada pelas duas estórias que passo a apresentar. À primeira vista, elas parecem antagônicas, uma pecando por ingenuidade e a outra por malícia... Mas, para quem se deixa guiar pela sabedoria que vem de Deus, elas se completam e têm muito a ensinar. Ei-las!
Havia uma vez, no alto da montanha, três plantas que passavam horas sonhando o futuro que as aguardava quando crescessem.
A primeira delas, fitando as estrelas, pensava: «Eu quero ser o baú mais precioso do mundo, cheio de tesouros. Para tanto, se for preciso, aceito até mesmo ser cortada em pedaços».
A segunda, olhando para o riacho que corria ao seu lado, suspirava: «Eu adoraria ser um grande navio que transportasse reis e rainhas».
A terceira, fixando o vale que se estendia a seus pés, dizia: «Prefiro ficar aqui, no alto da montanha, para que as pessoas, ao me verem, elevem seu pensamento a Deus».
Muitos anos se passaram. Certo dia, vieram alguns lenhadores e cortaram as três árvores, ansiosas por se transformarem naquilo que sonhavam.
A primeira foi transformada num coxo, para saciar a fome dos animais.
A segunda virou um barco, para carregar pessoas, mercadorias e peixes.
A terceira não viu respeitado seu desejo de permanecer no alto da montanha; acabou cortada em grossas vigas e deixada de lado, num depósito.
Mas, numa noite cheia de luz e de estrelas, com mil melodias enchendo os ares, uma jovem mulher colocou seu bebê num coxo de animais. Foi então que a primeira árvore percebeu que continha o maior tesouro do mundo...
Anos mais tarde, a segunda árvore transportou um homem que, ante uma furiosa tempestade, disse a um grupo de passageiros amedrontados: «Por que sois tão covardes? Onde está a vossa fé?» (Mc 4,40). Num relance, ela entendeu que carregava o Senhor do céu e da terra.
Tempos depois, a terceira árvore espantou-se quando suas vigas foram unidas em forma de cruz e um homem foi pregado nela. Sentiu-se horrível e cruel. Mas, no terceiro dia, o mundo vibrou de alegria e ela percebeu que havia acolhido o Salvador da humanidade. É assim que todos se lembram dela ao olharem para o Crucificado.
Essa, a primeira a estória, válida para as crianças de antigamente (as modernas “amadurecem” cedo demais!). Vejamos, agora, o que nos ensina a outra estória, dirigida a adultos menos inocentes...
Certo dia, na antiga Pérsia, um homem rico e poderoso estava passeando no parque em companhia de um criado. Em dado momento, este soltou um grito e deu um pulo: «Estou vendo a morte, com uma foice na mão, vindo ao meu encontro!».
Chorando desesperado, o funcionário pediu ao patrão que lhe emprestasse o cavalo mais rápido da cocheira, para ser pôr imediatamente a caminho e fugir para Teerã, aonde pretendia chegar antes do anoitecer. Compadecido, o amo lhe deu o cavalo, e o criado partiu a galope.
Voltando para casa, o empresário se deparou com a morte e lhe perguntou: «Por que você assustou e ameaçou o meu criado?». Ela lhe respondeu: «Eu não quis assustá-lo nem ameaçá-lo. Apenas me admirei por vê-lo aqui, pois tenho um encontro marcado com ele hoje à noite, em Teerã!».
A conclusão depende do coração de cada leitor. Os que acreditam no amor e na providência de Deus, constatam que, na primeira estória, cada uma das três árvores viu realizado o seu sonho, mas de forma diferente do que imaginavam. Assim, eles também, quando as coisas não acontecem da maneira como gostariam, não desanimam nem se revoltam, pois sabem que Deus tem um plano melhor para suas vidas.
Pelo contrário, na segunda estória, o ser humano é um joguete do acaso. O seu destino está selado. Não adianta fugir. O empregado do patrão persa pensava salvar-se refugiando-se em Teerã – justamente onde a morte o estava esperando!
É por isso que a sabedoria das sabedorias é viver intensamente o momento presente «buscando antes de tudo o reino de Deus e a sua justiça. O resto vos será dado por acréscimo. Não vos preocupeis com o dia de amanhã: o dia de amanhã terá as suas preocupações. A cada dia bastam as suas dificuldades!» (Mt 6,33-34).
Por: Dom Redovino Rizzardo
Fonte: CNBB
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