sexta-feira, 10 de junho de 2011

CAMINHO PARA A TRANSFORMAÇÃO.

Mat 6,24-34

O maior exemplo de desapego vem das abelhas. Após construírem a colméia, abandonam-na. E não a deixam morta, em ruínas, mas viva e repleta de alimento.
Todo o mel que fabricaram além do que necessitavam é deixado sem preocupação com o destino que terá.

Batem asas para a próxima morada sem olhar para trás.
A vida das abelhas nos oferece uma grande lição. Em geral o homem constrói para si, pensa no valor da propriedade, tem ambição de conseguir mais bens, sofre a briga quando na iminência de perder o que lutou para adquirir.

Onde estiver nosso coração, ali estará nossos tesouros... Assim, não pode haver paz uma vez que pensamentos e sentimentos formem uma teia prendendo o ser ao que ele julga sua propriedade. Essa teia não o deixa alçar vôo para novas moradas.

E tal impedimento ocorre em vida ou mesmo após a morte, quando um simples pensamento como para quem vai ficar a minha casa? é capaz de retê-lo em uma etapa que já podia estar superada. Ele fica aprisionado a um plano denso; perde oportunidades de experiências superiores.

Para o homem, tirar a vida de animais a usá-las como alimento é normal. Derrubar árvores para fazer conservas de seu miolo, também. Costuma comprar o que está pronto e adquirir mais do que necessita. Mas as abelhas fabricam o próprio alimento sem destruir nada e, ainda, doam a maior parte dele.

A lição das abelhas vem do seu espírito de doação. Num ato incomum de desapego, abandonam tudo o que levaram a vida para construir. Simplesmente o soltam, sem preocupação se vai para um ou para outro. Deixam o melhor que tem, seja para quem for , o que é muito diferente de doar o que não tem valor ou dirigir a doação para alguém de nossa preferência.

Se queremos ser livres, se queremos parar de sofrer pelo que temos e pelo que não temos, devemos abrigar em nós um único desejo: o de nos transformar. O exercício é ter sempre em mente que nada nem ninguém nos pertence, que não viemos ao mundo para possuir coisas ou pessoas, a que devemos soltá-las.

Assim, quando alguém ou algo tem de sair de nossa vida, não alimentamos a ilusão de perda.
Adquiremos visão mais ampla.

O sofrimento vem quando nos fixamos a algo ou a alguém. O apego embaça o que deveria estar claro: por trás de uma pretensa perda está o ensinamento de que algo melhor para nosso crescimento precisa entrar. E se não abrirmos mão do velho, como pode haver espaço para o novo?

Já para quem tem apego a pessoas, a um grande amor, ofereço este texto para reflexão: “Se você ama alguém, deixe-o livre. Se voltar, é teu. Se não voltar, nunca foi”. (São João da Cruz)

Adeus, alma querida, se no caminho do teu saara, encontrares uma alma que te queira bem, aceita em silêncio o suave ardor da sua benquerença - mas não lhe peças coisa alguma, não exijas, não reclames nada do ente querido. Recebe com amor o que com amor te é dado - e continua a servir com perfeita humildade e despretensão.

Quanto mais querida te for uma alma, tanto menos a explores, tanto mais lhe serve, sem nada esperar em retribuição. No dia e na hora em que uma alma impuser a outra alma um dever, uma obrigação, começa a agonia do amor, da amizade. Só num clima de absoluta espontaneidade pode viver esta plantinha delicada. E quando então essa alma que te foi querida se afastar de ti - não a retenhas.

Deixa que se vá a plena liberdade. Faz acompanhá-la dos anjos tutelares das tuas preces e saudades, para que em níveas asas a envolvam e de todo mal a defendam - mas não lhe peça que fique contigo. Mais amiga ti será ela, em espontânea liberdade, longe de ti – do que em forçada escravidão, perto de ti. Deixa que ela siga os seus caminhos - ainda que esses caminhos a conduzam aos confins do universo, a mais extrema distância do teu habitáculo corpóreo. Se entre essa alma e a tua existir afinidade espiritual, não há distância, não há em todo universo espaço bastante grande que de ti possa alhear essa alma.

Ainda que ela erguesse vôo e fixasse o seu tabernáculo para além das últimas praias do Sírio, para além das derradeiras fosforescências da Via-láctea, para além das mais longínquas nebulosas de mundos em formação - contigo estaria essa alma querida. Mas, se não vigorar afinidade espiritual entre ti e ela, poderá essa alma viver contigo sob o mesmo teto e contigo sentar-se a mesma mesa – não será tua, nem haverá entre vós verdadeira união e felicidade.

Para o espírito a proximidade espiritual é tudo - a distância material não é nada. Compreende, ó homem - e vai para onde quiseres! Ama - e estarás sempre perto do ente amado... Em todo o universo...dentro de ti mesmo...”Se você ama alguém, deixe-o livre. Se voltar, é teu. Se não voltar, nunca foi”.





Com minha benção
Pe.Emílio Carlos+

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