quinta-feira, 30 de junho de 2011

A FORÇA DO PERDÃO.

Toda vez que ouço o trecho do Evangelho no qual Jesus diz que devemos perdoar setenta vezes sete fico pensando no que significa perdoar sempre. É algo muito mais profundo do que simplesmente perdoar. Dizer a um cego de nascença como é o vermelho é muito difícil, ele nunca teve uma experiência de cores. Podemos fazer comparações com coisas que ele já tocou e sentiu, mas nunca poderá ter uma idéia exata da cor vermelha até que a experimente. Penso que assim é com o perdão. Posso ler e ouvir muitas coisas bonitas sobre o perdão, testemunhos comoventes, mas, enquanto eu não sentir na minha pele o que é perdoar, e perdoar de todo o coração, não saberei o que ele significa.
Olhando para Jesus, percebemos uma ternura muito grande para com todos que dele se aproximavam. Desde os pobres, doentes, pecadores, até os ricos, fariseus, funcionários romanos, enfim, todos encontravam no Mestre de Nazaré um oceano de ternura e atenção. “De tão humano só podia ser divino”, já disse alguém. Com Santa Teresa de Jesus, que viveu na Espanha do século XVI, vemos um despertar para um aprofundamento na humanidade de Cristo. Teresa soube, como ninguém, penetrar nos mistérios da sacratíssima humanidade de Jesus Cristo e, com sua sensibilidade feminina, nos descortina horizontes novos na interpretação do Novo Testamento. Vejamos apenas um exemplo: “Vede como o Senhor respondeu por Madalena na casa do fariseu e quando a sua própria irmã a culpava (Lc 7,36-40; 10,38). Ele não vos tratará com tanto rigor quanto tratou a si próprio, pois, quando teve um ladrão como Seu defensor, Ele já estava na cruz; assim, Sua Majestade fará que alguém vos defenda e, quando não o fizer, é que não será necessário” (Caminho 15,7).
Ao contemplarmos, com atenta sensibilidade, as palavras e gestos de Jesus, chegamos à conclusão que o perdão era para ele o seu “lugar”, o seu “habitat”, pois Ele mesmo disse: “a boca fala da abundância do coração” e “pelos frutos se conhece a árvore”. Um homem “todo amor” só podia espalhar perdão ao seu redor. Sem o amor é impossível perdoar. Ao morrer na cruz perdoando seus algozes, Jesus deu a máxima lição de amor e de misericórdia e desvendou-nos o segredo do perdão. “Eles não sabem o que fazem...” Estas palavras manifestam uma grande compaixão do Mestre por aqueles que lhe queriam tirar a vida. Não, eles não sabem o que fazem, pois se soubessem não o crucificariam. Também quem nos ofende, nos magoa, nos faz algum mal não sabe o que faz. Não percebe toda a extensão e consequência de seu mal. Mas, afinal, o que é perdoar? Por que perdoar?
Perdoar é divino
A palavra “perdão” significa, segundo o Dicionário Aurélio, remissão de pena, desculpa, indulto. Na ética: Renúncia de pessoa ou instituição à adesão às conseqüências punitivas que seriam justificáveis em face de uma ação que, em níveis diversos, transgride preceitos jurídicos, religiosos, morais ou afetivos vigentes.
Em outras palavras, é não querer punir o culpado, é a libertação do prisioneiro que está preso no próprio erro, através de um gesto não comum. “Errar é humano, perdoar é divino”, diz um ditado popular. Realmente, “perdoar é divino”, entretanto Deus nos capacita a fazê-lo. Não significa negar o erro de alguém, mas deixar de castigá-lo por tal erro, ou seja, é um ato da vontade que se faz senhora da situação, perdoando. Quem perdoa não fica diminuído, pelo contrário, cresce porque é capaz de renunciar a si mesmo, àquilo que parece ser seu direito, em favor de alguém. Mas, ao contrário das aparências, o grande favorecido é quem perdoou, porque quem perdoa está conquistando a própria paz interior.
Se fizéssemos uma análise sumária da situação mundial, poderíamos dizer que vivemos numa contínua tensão bélica. Às vezes fico pensando: qual será a próxima vítima das grandes organizações de traficantes e terroristas? Ou até dos que fazem o mal “fortuitamente”, porque aparece ocasião para roubar, matar, etc., nas pequenas e grandes cidades? Bastaria o perdão para que o mal desaparecesse do mundo e, sem o mal, viveríamos num paraíso terreno, como nos apresenta o Gênesis (Gn 1).



Irmã Maria Elizabeth da Trindade, ocd


por
Revista Shalom Maná

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