terça-feira, 7 de junho de 2011

A ADOLESCÊNCIA E O DESAFIO DAS DROGAS.

Educar significa favorecer o desenvolvimento integral do ser humano – onde se contempla de forma essencial, o sentido da vida humana e sua vocação inalienável à transcendência e à vida plena –, para que ele conquiste sua autonomia diante do mundo e nele possa construir sua história, pautada nos valores universais que fundamentam a sua vida. Nesta perspectiva, educar é também ensinar a refletir criticamente sobre o mundo.
Esta postura crítica diante do mundo não se constrói sem o hábito da leitura e sem sintonia com o que pensa o Magistério da Igreja – no caso da educação cristã –, pois esta, como Mãe, procura formar seus filhos para o bem e a felicidade autêntica. Boas livrarias católicas oferecem literatura adequada, além de que, cursos de formação humana cristã oferecidos nas paróquias e nas comunidades novas que caminham em sintonia com seu pároco e bispo podem ajudar muito. Também a oração pessoal, em família e do casal fortalecem nossas escolhas e nos ajudam a alcançar de Deus a sabedoria, o discernimento e a graça necessária para vivermos na sua luz, como família crista.

Para o desenvolvimento integral do ser humano é importante a vivência familiar de valores, tais como: a solidariedade, o perdão, a partilha, o respeito, a disciplina, a honestidade, entre outros, e também o cultivo saudável das relações familiares.

Quando a casa é construída sobre a rocha, vêm as tempestades e os ventos fortes, mas ela não desmorona, como Jesus afirma no Evangelho (Mt 7,24). A vivência religiosa é a responsável pelo cultivo dos valores humanos saudáveis diante de uma sociedade que adoece a cada dia, promovendo falsos valores, como o individualismo, o hedonismo, o consumismo, entre outros.


Algumas dicas que podem ajudar

Nesta fase delicada, o adolescente anseia por se autoafirmar. Rompendo de certa forma com os padrões familiares, e agrupando-se com seus pares, busca a aceitação no grupo. Por isso, os pais devem estar atentos para perceber quem é a turma de amigos, que lugares frequentam, que tipo de lazer preferem, como ocupam o tempo ocioso. Com diálogo e acolhimento faz-se necessário orientar sobre as diversas realidades que apresentam riscos sociais para eles e verificar com quem passam horas na internet, além de regular o uso da mesma. De preferência, deve-se colocar o computador em lugar coletivo da casa, evitando o seu uso isolado e exclusivo pelo adolescente e pelas crianças.

É importante acompanhar o rendimento escolar do adolescente, exigir bom desempenho, perceber dificuldades reais que precisem de ajuda adequada e tomar as providências necessárias. Dificuldades de atenção – excitação, dispersão e agressividade – timidez excessiva, “desligamento”, passividade – sonolência e outros sinais de depressão devem ser sinais de alerta para os pais, que devem procurar ajuda adequada.

A interação entre escola e família é fundamental, especialmente em nossos dias, quando os pais têm tempo escasso para os filhos, em função do trabalho. É preciso descobrir caminhos de cooperação e complementariedade, eliminando atitudes defensivas e acusatórias que só prejudicam o processo educativo do adolescente.

Deve-se também favorecer, se não foi feito até agora, a participação do adolescente em grupos que alimentem valores cristãos universais e proporcionem um ambiente relacional saudável. Outras alternativas como um hobby – artes, esportes, dança, etc. – devem também ser promovidas pelos pais e pela escola para ocupar de forma criativa e construtiva as horas extra-curriculares do adolescente.

É importante promover momentos regulares de convívio familiar alegre, criativo, descontraído, que elevem a autoestima dos filhos, que motivem para a partilha de vida de forma positiva, além de promover atividades lúdicas e fraternas que restaurem as relações familiares.

Não há adolescente que resista quando os pais abrem as portas de casa para acolher a turma de amigos e favorecer um convívio prazeroso (assistir a filmes, campeonatos de jogos de salão, etc,), tudo isso com um lanche saboroso.

Sabemos que é necessário ordenar e organizar a vida familiar e também ajudar o adolescente a organizar-se. Também, ocasionalmente, a mãe arrumar o quarto, verificar bolsos de calças para lavar e organizar oportunamente seu armário, pode ser importante não só para manifestar atenção e cuidado, mas para perceber se há algum “sinal de alerta” quanto ao uso de drogas.

Não se escandalizem com esta possibilidade, pois atualmente é muito comum que adolescentes bem educados e “ajustados” tenham acesso a drogas, até mesmo por recreação e curiosidade, ou por influência da turma de amigos. Sendo próprio da adolescência o gosto por desafiar o perigo e uma certa onipotência, não é difícil ocorrer a experiência com álcool e drogas.

No caso das drogas, geralmente se começa com o uso recreativo da maconha, que oferece sensação de poder e relaxamento. Mesmo sendo vista por alguns grupos como “inofensiva”, sabe-se hoje que ela é a porta para outras drogas e traz efeitos muito prejudiciais, como por exemplo, a fadiga física e mental, a dificuldade de concentração e interrupção da memória recente, a consequente diminuição no rendimento escolar, alterações de percepção de tempo e distância, entre outros.

O adolescente adicto no contexto de famílias disfuncionais

São situações de disfuncionalidade, resultante tanto de agressões externas, quanto de crises internas:

- Morte violenta ou não de um dos membros da família

- Doença crônica e grave de um dos membros da família

- Desemprego crônico do(a) chefe da família

- Alcoolismo ou dependência de outras drogas de um ou mais membros da família

- Desajuste conjugal crônico e/ou crises de relacionamento sem enfrentamento honesto ou mal resolvidos

- Violência e maus tratos físicos

- Autoritarismo e ausência de diálogo

- Ausência de regras e de limites adequados

- Ausência de referências éticas ou religiosas

- Pai ou mãe com distúrbios emocionais crônicos sem ajuda adequada

ANDRADE (2002) afirma que nas estruturas familiares disfuncionais, frequentemente há ausência de figuras parentais desempenhando funções próprias de pai e/ou de mãe. Existe um desamparo real por parte de um dos dois pais. A raiva contida nessa família se expressa no adicto. Dessa forma, o adicto tem autoimagem negativa e necessita de um agrupamento para-familiar que amenize sua sensação intrínseca de solidão e desamparo: “É difícil a prática solitária da drogadicção”. Isto explica a força dos amigos, da turma, considerados muitas vezes como a “família paralela”.

O adicto, em sua personalidade, apresenta um certo descompasso entre idade cronológica, cognitiva e emocional, em razão de pontos de estrangulamento no desenvolvimento de sua personalidade.

Em termos psicológicos, a problemática do adicto se mostra complexa porque está envolvida no jogo de luzes e sombras da personalidade humana, e é constituída subjetivamente de muitos elementos da sua história de vida, bem como antes de ser concebido, através das heranças genéticas e culturais dos seus familiares e do ambiente social.

Geralmente, encontramos casos de parentes próximos ou remotos com história de abuso de álcool ou drogas. E entre os hábitos familiares está o uso de bebidas alcoólicas socialmente aceito e até incentivado. Nossas festas familiares são sempre regadas a bebidas alcoólicas e muitas crianças convivem em seu lar com este abuso frequente de álcool por parte dos pais. Essa “necessidade” da bebida alcoólica como fator que promove alegria e descontração alimenta inconscientemente sua busca “lícita” da mesma, levando ao abuso e, em certos casos, progressivamente, gerando dependência psicológica e/ou física.

Ter sentido de vida e dar significados relevantes ao cotidiano

O ser humano em seus elementos constitutivos necessita estabelecer com o mundo, consigo mesmo, com o outro e até com Deus uma relação prazerosa que o fortaleça nessa difícil arte de viver.

Criados à imagem e semelhança do Criador, encontramos alegria e prazer quando experimentamos o amor autêntico, aquele de que fala o apóstolo Paulo (1Cor 13,1ss) – Este é o sentido da vida – e dele fluem inúmeros significados para o cotidiano da pessoa, trazendo-lhe alegria, prazer de viver e motivações transcendentes para enfrentar os desafios e os sofrimentos inerentes à condição humana.

É a partir da experiência deste Amor Ágape, cuja fonte é Deus e cuja a expressão mais humana é Jesus, que a pessoa vai abrindo-se a este sentido maior da existência e acolhendo os valores que o compõem conforme refere o apóstolo Paulo. Neste ambiente de amor, o indivíduo encontra segurança e motivação para desenvolver-se plenamente e ser feliz.

O amor, com respeito, sem egoísmo, sem comodismo, deve ser também um amor que exige, orienta e educa. Este é o caminho para que a pessoa abandone a busca das compensações prazerosas destrutivas de si mesmo e dos outros.

Laura Martins
Missionária da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

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Bibliografia

ANDRADE, Leda de Alencar Araripe e. Noções de Psicopatologia para Terapeutas: aspectos da intervenção integrativa. 91ª Ed. Fortaleza: CTS Impressão Gráfica, 2002.

MORENO, Jacob Levi. As Palavras do Pai. São Paulo: Editorial Psy. Campinas, 1992.

COSTA, Wedja Granja. Socionomia como Expressão de Vida. Fortaleza: Fundação de Estudos e Pesquisas Socionômicas do Brasil, 1996.

Bíblia Sagrada. São Paulo: Editora Ave-Maria, 1994.

SOUSA, Klênio Antonio. Psicopedagogia On Line. Portal 1998. Criminalidade Juvenil. Artigo em publicação on line .

RELATÓRIO DE DESENVOLVIMENTO JUVENIL. 2004. Brasília: Edições UNESCO BRASIL. Waiselfisz, Julio Jacobo (coord), 2007.



por
Comunidade Shalom

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