quinta-feira, 14 de dezembro de 2023

Memória - São João da Cruz, presbítero e doutor da Igreja - A “violência” dos que esperam

 Roberto de Araújo Correia: Evangelho de Jesus Cristo segundo Mateus (3,1-12)

Quanto a mim, que eu me glorie somente da cruz de nosso Senhor, Jesus Cristo. Por ele, o mundo está crucificado para mim, como eu estou crucificado para o mundo (Gl 6,14).

João nasceu na Espanha em 1542 e lá faleceu em 1591. De inteligência privilegiada, tornou-se um dos grandes mestres da vida mística. Foi presbítero e doutor da Igreja. Com Santa Teresa de Ávila, empenhou-se seriamente na reforma do Carmelo. Compôs o “Cântico Espiritual”, o qual, juntamente com outras suas obras, se consolidou como precioso tesouro espiritual. A seu exemplo, procuremos progredir na fé e na comunhão com o Senhor.

Primeira Leitura: Isaías 41,13-20

Leitura do livro do profeta Isaías13Eu sou o Senhor, teu Deus, que te tomo pela mão e te digo: “Não temas; eu te ajudarei”. 14Não tenhas medo, Jacó, pobre verme, não temais, homens de Israel. Eu vos ajudarei, diz o Senhor e salvador, o santo de Israel. 15Eis que te transformei num carro novo de triturar, guarnecido de dentes de serra. Hás de triturar e despedaçar os montes e reduzirás as colinas a poeira. 16Ao expô-los ao vento, o vento os levará e o temporal os dispersará; exultarás no Senhor e te alegrarás no santo de Israel. 17Pobres e necessitados procuram água, mas não há, estão com a língua seca de sede. Eu, o Senhor, os atenderei, eu, Deus de Israel, não os abandonarei. 18Farei nascer rios nas colinas escalvadas e fontes no meio dos vales; transformarei o deserto em lagos e a terra seca em nascentes de água. 19Plantarei no deserto o cedro, a acácia e a murta e a oliveira; crescerão no ermo o pinheiro, o olmo e o cipreste juntamente, 20para que os homens vejam e saibam, considerem e compreendam que a mão do Senhor fez essas coisas e o santo de Israel tudo criou. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: 144(145)

Misericórdia e piedade é o Senhor! / Ele é amor, é paciência, é compaixão.

1. Ó meu Deus, quero exaltar-vos, ó meu rei, / e bendizer o vosso nome pelos séculos. / O Senhor é muito bom para com todos, / sua ternura abraça toda criatura. – R.

2. Que vossas obras, ó Senhor, vos glorifiquem, / e os vossos santos com louvores vos bendigam! / Narrem a glória e o esplendor do vosso reino / e saibam proclamar vosso poder! – R.

3. Para espalhar vossos prodígios entre os homens / e o fulgor de vosso reino esplendoroso. / O vosso reino é um reino para sempre, / vosso poder, de geração em geração. – R.

Evangelho: Mateus 11,11-15

Aleluia, aleluia, aleluia.

Que os céus, lá do alto, derramem o orvalho, / que chova das nuvens o justo esperado, / que a terra se abra e germine o Senhor! (Is 45,8) – R.

Proclamação do santo Evangelho segundo Mateus – Naquele tempo, disse Jesus à multidão: 11“Em verdade eu vos digo, de todos os homens que já nasceram, nenhum é maior do que João Batista. No entanto, o menor no Reino dos Céus é maior do que ele. 12Desde os dias de João Batista até agora, o Reino dos Céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam. 13Com efeito, todos os profetas e a Lei profetizaram até João. 14E se quereis aceitar, ele é o Elias que há de vir. 15Quem tem ouvidos ouça”. – Palavra da salvação.

 Reflexão

No Evangelho de hoje, em que Cristo fala a respeito de São João Batista, somos postos diante de uma passagem algo curiosa: "[...] o Reino dos Céus sofre violência, e são os violentos que o conquistam." A expressão "violência" pode causar-nos aqui alguma confusão e perplexidade, porque vai em sentido contrário à imagem pacifista que costumeiramente se faz quer da religião cristã, quer do próprio Cristo, a mansidão em pessoa. O texto grego, no entanto, se serve do verbo βιάζομαι, "fazer violência", que encerra a ideia de força vital, duma energia pronta para ser posta em ação. Fica claro, com efeito, que o Reino dos Céus é arrebatado e conquistado não pelos tíbios, pelos mornos, por quem é cristão só de nome; são, na verdade, os determinados, os impetuosos que, tomando de assalto a vida espiritual, "fazem violência" ao Reino dos Céus, arrebatam-no, conquistam-no com as unhas da virtude e os dentes dum desejo esfomeado de Deus.

Esta pressa por chegar logo à presença do Pai é talvez a mais significativa característica da esperança cristã. Ordenando-se ao depois, que é a vida eterna, a esperança que anima os corações entregues a Cristo não é uma espera passiva e indolente, mas uma força que move a agir hoje, a amar hoje, a trabalhar pela santificação hoje, neste minuto mesmo. Expressão psicológica de uma alma enamorada de Deus e inquieta enquanto não o ver face a face, a esperança cristã, dom do Alto, nos dá a certeza firme de que, pelos merecimentos de Cristo, o Senhor nos dá — e dará sempre que lhas pedirmos com humildade — as graças necessárias para, amando-o verdadeiramente, conseguirmos a salvação eterna. Ele nos garante, pois, as forças necessárias e, por isso, nos convoca a sermos santos agora, a abandonarmos o pecado agora, a arrebatarmos agora, com a "violência" dos que amam, o Reino que está preparado aos que, por amor, tomam a peito a vocação à santidade e à filiação divina.

 

 https://padrepauloricardo.org

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