sábado, 2 de dezembro de 2023

34ª Semana do Tempo Comum - Aridez espiritual ou dispersão carnal?

 Evangelho do Dia: Dar testemunho (Lc 12,8-12) – Oratório São Luiz – 120 Anos

É de paz que o Senhor vai falar a seu povo e seus fiéis, e aos que a ele se converterem (Sl 84,9).

São grandes os perigos que nos ameaçam e muitas as provações, mas a segurança do Reino de Deus nos vem pela mediação do “Filho do Homem” – Jesus -, que sentimos próximo de nós. Somos convidados a cultivar um coração sensível ao bem, para recebermos o Senhor a todo instante.

Primeira Leitura: Daniel 7,15-27

Leitura da profecia de Daniel15Fiquei chocado em meu íntimo: eu, Daniel, fiquei aterrorizado com estas coisas, e as visões da imaginação me deixaram perturbado. 16Aproximei-me de um dos presentes e pedi-lhe que me desse explicações sobre o significado de tudo aquilo. Respondeu-me, fazendo-me conhecer a interpretação das coisas: 17“Estes quatro possantes animais são quatro reinos que surgirão na terra; 18mas os que receberão o reino são os santos do Altíssimo: eles ficarão de posse do reino por todos os séculos, eternamente”. 19Depois, quis ser mais bem informado a respeito do quarto animal, que era bastante diferente dos outros e o mais terrível de todos, com seus dentes de ferro e garras de bronze, sempre devorando e triturando, e calcando aos pés o que restava; 20e ainda a respeito dos dez chifres e sobre o outro que nascera e fizera cair outros três, sobre o chifre que tinha olhos e boca, e que fazia ouvir uma fala forte, e era maior que os outros. 21Eu continuava a olhar, e eis que esse chifre combatia contra os santos e vencia, 22até que veio o ancião de muitos dias e fez justiça aos santos do Altíssimo, e chegou o tempo para os santos entrarem na posse do reino. 23Respondeu-me assim: “O quarto animal é um quarto reino que surgirá na terra e que será maior do que todos os outros reinos; há de devorar a terra inteira, espezinhá-la e esmagá-la. 24Quanto aos dez chifres do reino, serão dez reis; um outro surgirá depois deles, e este será mais poderoso do que seus antecessores, e abaterá os três reis, 25e articulará insolências contra o Altíssimo e perseguirá seus santos, e se julgará em condições de mudar os tempos e a lei; os santos serão entregues ao seu arbítrio por um tempo, por tempos e por um meio-tempo; 26o tribunal se estabelecerá, e ao chifre será tirado o poder, até ser destruído e desaparecer para sempre; 27e, então, que seja dado o reino, o poder e a grandeza dos reinos que existem sob o céu ao povo dos santos do Altíssimo, cujo reino é um reino eterno e a quem todos os reis servirão e prestarão obediência”. – Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial: Dn 3

Louvai-o e exaltai-o pelos séculos sem fim!

1. Filhos dos homens, bendizei o Senhor! / Filhos de Israel, bendizei o Senhor! – R.

2. Sacerdotes do Senhor, bendizei o Senhor! / Servos do Senhor, bendizei o Senhor! – R.

3. Almas dos justos, bendizei o Senhor! / Santos e humildes, bendizei o Senhor! – R.

Evangelho: Lucas 21,34-36

Aleluia, aleluia, aleluia.

Vigiai e orai para ficardes de pé / ante o Filho do Homem! (Lc 21,36) – R.

Proclamação do santo Evangelho segundo Lucas – Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: 34“Tomai cuidado para que vossos corações não fiquem insensíveis por causa da gula, da embriaguez e das preocupações da vida e esse dia não caia de repente sobre vós; 35pois esse dia cairá como uma armadilha sobre todos os habitantes de toda a terra. 36Portanto, ficai atentos e orai a todo momento, a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem”. – Palavra da salvação.

Reflexão
Aridez ou dispersão? —No Evangelho de hoje, Jesus continua falando de nossa preparação para o fim dos tempos e aqui, de forma bem concreta, para o Juízo. Nós seremos julgados, e a expressão que Jesus usa para nos fazer entender esse julgamento é: “A fim de terdes forças para escapar a tudo que deve acontecer e para ficardes de pé diante do Filho do Homem”. Antigamente, o réu ficava de pé para receber a sentença do juiz, e aqui é Jesus que virá para nos julgar. Mas qual é a exortação que Ele nos dá para que estejamos prontos? Ele diz: “Tomai cuidado para que os vossos corações não fiquem insensíveis”. O coração pode ficar insensível como se fosse um couro grosso, uma mão calejada, sem sensibilidade e fineza. Pois bem, para que os nossos corações não fiquem assim, Jesus nos diz as causas mais comuns da insensibilidade: “Por causa da gula, da embriaguez, das preocupações da vida…”, ou seja, quando mergulharmos no mundo das aparências sensíveis. É importante notar isso. Existem coisas que embotam a nossa inteligência. Quando se mergulha demais nos prazeres sensíveis, a inteligência embota-se. Ou, para usar uma linguagem mais popular: quem vive no mundo sensual fica “burrinho” mesmo, incapaz de enxergar a verdade. Isso se vê claramente, por exemplo, quando uma pessoa se entrega ao sexo desregrado, à pornografia, à masturbação et. Esse tipo de impureza faz a inteligência diminuir, e aqui eu não estou falando de inteligência sobrenatural, não: refiro-me mesmo à inteligência da luz natural da razão. A pessoa fica tosca. É um fenômeno que se dá, sim, por causa de reações cerebrais, já que o nosso cérebro não foi feito para viver imerso em tanta sensualidade. É preciso “apreciar com moderação”. Deus nos deu comida, e podemos sentir prazer com ela, mas não gula; Deus nos deu capacidade de beber, mas não embriaguez; Deus nos dá prudência para buscar o necessário para a vida, mas não uma ansiedade constante, agitada por todos os lados. Por quê? Porque a alma fica embotada, e assim a pessoa é continuamente arrastada para fora de si.

2. Ser sóbrio para ser alma de oração. — Outro dia, eu estava atendendo a um de meus dirigidos espirituais, e ele falava de sua dificuldade de rezar. Muita gente tem dificuldade de rezar e acha que se trata de aridez: “É que eu já rezei bastante”, pensam, “então eu já estou num estágio avançado”. Mas, se formos ver, no fundo, no fundo — basta arranhar o verniz —, o que se esconde por baixo não é a purificação passiva de uma alma adiantada. Nada disso. A pessoa não tem conseguido rezar porque não tem se encontrado com a própria alma: ela vai rezar, mas o único contato que ela tem é com o seu mundo passional, com o “cérebro”, as agitações dos sentimentos. Porque a pessoa está aprisionada em seu ego afetivo, passional, carnal, material… É necessário ter por hábito de ascese a renúncia a essas coisas, a esse mundo, a essa “embriaguez do mundo” dos sentidos, para poder então — no início, com dificuldade, mas depois com alegria — se encontrar consigo mesmo e com Deus. É preciso dar-se conta de que existe dentro de si algo mais profundo do que as agitações do cérebro. A alma existe, e é a ela, como ao lugar onde Deus se encontra (o espírito) que nós precisamos ir, é lá que precisamos nos encontrar com Cristo. Mas se nós estamos o tempo todo perdidos no mundo passional, sensual, isso não vai dar certo. Mas você poderia perguntar: “Padre, o que fazer?”. A primeira coisa: sobriedade. Nosso Senhor Jesus Cristo pede no Evangelho de hoje que estejamos atentos: “Tomai cuidado”. Sobriedade! Façamos um pouco de ascese, um pouco de penitência, tiremos um pouco essas distrações exteriores, tenhamos coragem de silenciar, para podermos mergulhar em nossa alma e encontrar, lá no fundo do nosso espírito, Deus que quer falar conosco.

 

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