quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

Liturgia Diária - A febre do pecado.

  EVANGELHO DO DIA - SÃO MARCOS 1,29-39 - YouTube
Leitura (1 Samuel 3,1-10.19-20)

Leitura do primeiro livro de Samuel.

3 1 O jovem Samuel servia ao Senhor sob os olhos de Heli. a palavra do Senhor era rara naqueles dias, e as visões não eram freqüentes.
2 Ora, aconteceu certo dia que Heli estava deitado (seus olhos tinham-se enfraquecido, e ele mal podia ver),
3 e a lâmpada de Deus ainda não se apagara. Samuel repousava no templo do Senhor, onde se encontrava a arca de Deus.
4 O Senhor chamou Samuel, o qual respondeu: “Eis-me aqui”.
5 Samuel correu para junto de Heli e disse: “Eis-me aqui: chamaste-me”. “Não te chamei, meu filho, torna a deitar-te”. Ele foi e deitou-se.
6 O Senhor chamou de novo Samuel. Este levantou-se e veio dizer a Heli: “Eis-me aqui, tu me chamaste”. “Eu não te chamei, meu filho, torna a deitar-te”.
7 Samuel ainda não conhecia o Senhor; a palavra do Senhor não lhe tinha sido ainda manifestada.
8 Pela terceira vez o Senhor chamou Samuel, que se levantou e foi ter com Heli: “Eis-me aqui, tu me chamaste”. Compreendeu então Heli que era o Senhor quem chamava o menino.
9 “Vai e torna a deitar-te”, disse-lhe ele, “e se ouvires que te chamam de novo, responde: ‘Falai, Senhor; vosso servo escuta!’” Voltou Samuel e deitou-se.
10 Veio o Senhor pôs-se junto dele e chamou-o como das outras vezes: “Samuel! Samuel!” “Falai”, respondeu o menino; “vosso servo escuta!”
19 Samuel crescia, e o Senhor estava com ele. Ele não negligenciava nenhuma de suas palavras.
20 Todo o Israel, desde Dã até Bersabéia, reconheceu que Samuel era um profeta do Senhor.
Palavra do Senhor.

Salmo Responsorial 39/40

Eis que venho fazer, com prazer,
a vossa vontade, Senhor!


Esperando, esperei no Senhor,
e, inclinando-se, ouviu meu clamor.
É feliz que a Deus se confia;
quem não segue os que adoram os ídolos
e se perdem por falsos caminhos.

Sacrifício e oblação não quisestes,
mas abristes, Senhor, meus ouvidos;
não pedistes ofertas nem vítimas,
holocaustos por nossos pecados.
E então eu vos disse: “Eis que venho!”

Sobre mim está escrito no livro:
“Com prazer faço a vossa vontade,
guardo em meu coração vossa lei!”

Boas-novas de vossa justiça
anunciei numa grande assembleia;
vós sabeis: não fechei os meus lábios!

Evangelho (Marcos 1,29-39)

Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.

1 29 Assim que saíram da sinagoga, Jesus, com Tiago e João, dirigiu-se à casa de Simão e André.
30 A sogra de Simão estava de cama, com febre; e sem tardar, falaram-lhe a respeito dela.
31 Aproximando-se ele, tomou-a pela mão e levantou-a; imediatamente a febre a deixou e ela pôs-se a servi-los.
32 À tarde, depois do pôr-do-sol, levaram-lhe todos os enfermos e possessos do demônio. 33 Toda a cidade estava reunida diante da porta.
34 Ele curou muitos que estavam oprimidos de diversas doenças, e expulsou muitos demônios. Não lhes permitia falar, porque o conheciam.
35 De manhã, tendo-se levantado muito antes do amanhecer, ele saiu e foi para um lugar deserto, e ali se pôs em oração.
36 Simão e os seus companheiros saíram a procurá-lo.
37 Encontraram-no e disseram-lhe: "Todos te procuram."
38 E ele respondeu-lhes: "Vamos às aldeias vizinhas, para que eu pregue também lá, pois, para isso é que vim."
39 Ele retirou-se dali, pregando em todas as sinagogas e por toda a Galiléia, e expulsando os demônios.
Palavra da Salvação.

Reflexão

O Evangelho de hoje nos narra a cura da sogra de São Pedro. Este episódio ocorre logo após a expulsão do demônio na sinagoga de Cafarnaum, conforme ouvimos na Liturgia de ontem. Há, portanto, uma continuidade essencial entre esse dois eventos e, por isso, é importante lembrarmo-nos de alguns detalhes que a leitura desta 4.ª-feira dá por pressupostos. Jesus e seus quatro primeiros discípulos estão, pois, em Cafarnaum, cidade às margens do Mar da Galileia. Encontramo-los na sinagoga da cidade num dia de sábado. Ali, o Senhor cura um homem possesso por um espírito impuro. Além de romper o preceito sabático de descanso, Cristo gera grande espanto nos circunstantes, que se interrogam entre si: "Que é isso? [...] Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem!" (Mc 1, 28) Logo em seguida, dirige-se com os apóstolos à casa de Pedro e André, onde sucedem os acontecimentos que ouvimos há pouco.

Se bem considerado, o conjunto desta narrativa nos faz voltar às primeiras páginas do Livro do Gênesis, em que vemos registrado todo o drama da Queda. Deus, tendo criado o mundo em seis dias, consagra o sétimo ao repouso. O homem, porém, por sugestão da serpente, se entrega ao pecado e, assim, leva o Senhor a romper o sábado para vir resgatá-lo. A iniquidade como que tira o Senhor do seu repouso, fazendo-o descer até ao homem a fim de o curar da miséria em que ele mesmo se colocou. São Beda, o Venerável, percebe a perfeita harmonia que, sob uma perspectiva mística, existe entre o relato do Gênesis e os acontecimentos dessa página do Evangelho. Com efeito, uma vez que o pecado entrou no mundo pela serpente e pela mulher, era conveniente que Cristo, após expulsar o demônio num dia de descanso, curasse logo em seguida uma mulher dos males que, pelo pecado, a serpente introduziu na história.

De fato, que é esta febre que retém na cama a sogra de Pedro senão aquela sanha, aquele desejo febril com que Eva, desejando a doçura do fruto, levou a humanidade toda, figurada na sogra de Simão, a desejar não mais a Deus, mas as criaturas por Ele feitas? É uma febre que macula o coração, que tira o juízo da alma, entorpecendo-a, prendendo-a aos prazeres mesquinhos da vida, à "cama" deste "jardim de delícias" proibidas. Por isso, tão logo Jesus a cura da febre da avidez e da concupiscência, a sogra de Pedro, esquecida de si e do seu egoísmo, passar a servir a todos, com um coração livre e desapegado. Peçamos, pois, que o Senhor se digne vir também à nossa casa e, rompendo com amor o seu sábado, nos livre deste sezão que nos leva a esquecer de amar o maior e mais deleitável bem que pode haver: o próprio Deus. Que a Virgem Santíssima, nova e imaculada Eva, nos proteja das investidas da serpente e, com zelo de mãe, cuide de nossas febres e feridas.

 

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