Leitura do segundo livro de Samuel.
Naqueles dias, 13um mensageiro veio dizer a Davi: “As simpatias de todo Israel estão com Absalão”. 14Davi disse aos servos que estavam com ele em Jerusalém: “Depressa, fujamos, porque, de outro modo, não podemos escapar de Absalão! Apressai-vos em partir, para que não aconteça que ele, chegando, nos apanhe, traga sobre nós a ruína e passe a cidade ao fio da espada”. 30Davi caminhava chorando, enquanto subia o monte das Oliveiras com a cabeça coberta e os pés descalços. E todo o povo que o acompanhava subia também chorando, com a cabeça coberta. 16,5Quando o rei chegou a Baurim, saiu de lá um homem da parentela de Saul chamado Semei, filho de Gera, que ia proferindo maldições enquanto andava. 6Atirava pedras contra Davi e contra todos os servos do rei, embora toda a tropa e todos os homens de elite seguissem agrupados à direita e à esquerda do rei Davi. 7Semei amaldiçoava-o, dizendo: “Vai-te embora! Vai-te embora, homem sanguinário e criminoso! 8O Senhor fez cair sobre ti todo o sangue da casa de Saul, cujo trono usurpaste, e entregou o trono a teu filho Absalão. Tu estás entregue à tua própria maldade, porque és um homem sanguinário”. 9Então Abisai, filho de Sárvia, disse ao rei: “Por que há de este cão morto continuar amaldiçoando o senhor, meu rei? Deixa-me passar para lhe cortar a cabeça”. 10Mas o rei respondeu: “Não te intrometas, filho de Sárvia! Se ele amaldiçoa e se o Senhor o mandou maldizer a Davi, quem poderia dizer-lhe: ‘Por que fazes isso?'” 11E Davi disse a Abisai e a todos os seus servos: “Vede, se meu filho, que saiu das minhas entranhas, atenta contra a minha vida, com mais razão esse filho de Benjamim. Deixai-o amaldiçoar, conforme a permissão do Senhor. 12Talvez o Senhor leve em conta a minha miséria, restituindo-me a ventura em lugar da maldição de hoje”. 13E Davi e seus homens seguiram adiante.
Palavra do Senhor.
Levantai-vos, ó Senhor, vinde salvar-me!
Quão numerosos, ó Senhor, os que me atacam; quanta gente se levanta contra mim! Muitos dizem, comentando a meu respeito: “Ele não acha a salvação junto de Deus!”
Mas sois vós o meu escudo protetor, a minha glória que levanta minha cabeça! Quando eu chamei em alta voz pelo Senhor, do monte santo ele me ouviu e respondeu.
Eu me deito e adormeço bem tranquilo; acordo em paz, pois o Senhor é meu sustento. Não terei medo de milhares que me cerquem e, furiosos, se levantem contra mim. Levantai-vos, ó Senhor, vinde salvar-me!
Aleluia, aleluia, aleluia.
Um grande profeta surgiu entre nós e Deus visitou o seu povo, aleluia (Lc 7,16).
Proclamação do Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos.
Naquele tempo, 1Jesus e seus discípulos chegaram à outra margem do mar, na região dos gerasenos. 2Logo que saiu da barca, um homem possuído por um espírito impuro, saindo de um cemitério, foi ao seu encontro. 3Esse homem morava no meio dos túmulos e ninguém conseguia amarrá-lo, nem mesmo com correntes. 4Muitas vezes tinha sido amarrado com algemas e correntes, mas ele arrebentava as correntes e quebrava as algemas. E ninguém era capaz de dominá-lo. 5Dia e noite ele vagava entre os túmulos e pelos montes, gritando e ferindo-se com pedras. 6Vendo Jesus de longe, o endemoninhado correu, caiu de joelhos diante dele 7e gritou bem alto: “Que tens a ver comigo, Jesus, Filho do Deus altíssimo? Eu te conjuro por Deus, não me atormentes!” 8Com efeito, Jesus lhe dizia: “Espírito impuro, sai desse homem!” 9Então Jesus perguntou: “Qual é o teu nome?” O homem respondeu: “Meu nome é ‘Legião’, porque somos muitos”. 10E pedia com insistência para que Jesus não o expulsasse da região. 11Havia aí perto uma grande manada de porcos, pastando na montanha. 12O espírito impuro suplicou, então: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles”. 13Jesus permitiu. Os espíritos impuros saíram do homem e entraram nos porcos. E toda a manada – mais ou menos uns dois mil porcos – atirou-se monte abaixo para dentro do mar, onde se afogou. 14Os homens que guardavam os porcos saíram correndo e espalharam a notícia na cidade e nos campos. E as pessoas foram ver o que havia acontecido. 15Elas foram até Jesus e viram o endemoninhado sentado, vestido e no seu perfeito juízo, aquele mesmo que antes estava possuído pela Legião. E ficaram com medo. 16Os que tinham presenciado o fato explicaram-lhes o que havia acontecido com o endemoninhado e com os porcos. 17Então começaram a pedir que Jesus fosse embora da região deles. 18Enquanto Jesus entrava de novo na barca, o homem que tinha sido endemoninhado pediu-lhe que o deixasse ficar com ele. 19Jesus, porém, não permitiu. Entretanto, lhe disse: “Vai para casa, para junto dos teus, e anuncia-lhes tudo o que o Senhor, em sua misericórdia, fez por ti”. 20Então o homem foi embora e começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele. E todos ficavam admirados.
Palavra da Salvação.
Reflexão
O Evangelho desta 2.ª-feira nos apresenta um episódio bastante curioso. Jesus expulsa de um genesareno endemoniado uma multidão — Legião, como registra São Marcos — de espíritos impuros, os quais, logo em seguida, se precipitam de uma montanha juntamente com uma numerosa manada de porcos. O primeiro ensinamento que podemos tirar desta narrativa é que, se existem demônios neste é mundo, é porque Deus o permite. Isto está claramente expresso nos dois pedidos que o diabo faz a Nosso Senhor: pede-lhe, por um lado, que não o expulse da região e, por outro, que o mande entrar nos porcos. E Jesus lho concede. Em tudo precisa o demônio da permissão de Deus, sem qual, por ser criatura, nada pode fazer. Há, portanto, um decreto divino que permite aos espíritos maus vagaram por esta terra, a fim de nos tentarem e porem à prova.
Esta realidade, num certo sentido, pode parecer um tanto estranha. Afinal de contas, como pode um Deus cheio de amor e bondade dar permissão às maldades e às injustiças e enviar aos que se esforçam por seguir o caminho do bem e da equidade as mais duras e penosas provações? Foi, porém, o próprio Cristo quem, ensinando o Pai-nosso (cf. Mt 6, 9-13), nos deu a conhecer o seu desejo de que amadureçamos sob o sol escaldante das tentações. Com efeito, o Senhor nos manda pedir que não caiamos em tentação, e não que nos vejamos inteiramente livres dela. Isso porque o nosso amor e a nossa fé só crescem e dão fruto se forem antes testados e aquilatados. De fato, tamanho é o proveito que se pode tirar das provações, que o endemoniado de hoje, após longos anos subjugado por uma Legião de iniquidades, é logo transformado em evangelizador: "o homem foi embora e começou a pregar na Decápole tudo o que Jesus tinha feito por ele."
Os que tudo haviam presenciado, porém, ficaram escandalizados e expulsaram Jesus da região. Os que estavam tranquilos, metidos em seus negócios, tiveram a oportunidade de ver as maravilhas de Deus, e no entanto rejeitaram a Cristo. Só o possesso, rompendo cordas e grilhões, teve a audácia de lutar contra os demônios que o enlouqueciam e ir ao encontro do Senhor. Aqui se vê a razão profunda das tentações e das provações nos desígnios divinos: Deus quer que nos decidamos por Ele, que corramos até Ele, que nos prostremos a seus pés e por Ele lutemos com desprendimento e entrega. Pois é na luta e no esforço que mostramos a sinceridade do nosso amor. É em meio a lágrimas e dificuldades que mostramos a Deus a verdade da nossa fé cristã. Que o Senhor nos ajude, pois, a vencer as tentações deste desterro e nos dê a graça de o amarmos com um amor provado no fogo da fidelidade e da perseverança.
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