Antes de tudo é preciso explicar que a
palavra “mistério” não quer dizer algo que seja impossível de existir ou
de acontecer; mistério é apenas algo que a nossa inteligência não
compreende. Se você, por exemplo, não é físico, a teoria da relatividade
de Einstein é um mistério para você, mas não é para os físicos. Se você
não é biólogo a complexidade da célula, dos cromossomos e dos gens pode
ser um mistério, mas não é para aquele que estudou tudo isso.
Ora, Deus é um Mistério para todos nós,
porque a Sua grandeza infinita não cabe na nossa inteligência limitada
de criatura. Se entendesse Deus, este não seria o verdadeiro Deus. O
Criador não pode ser plenamente entendido pela criatura; isto é lógico, é
normal e é correto. Depois de tentar de muitos modos desvendar o
Mistério da Santíssima Trindade, Santo Agostinho (+430) abdicou: “Deus
não é para se compreendido, mas para ser adorado!”
A
criatura adora o seu Criador, mesmo sem o compreender perfeitamente. O
pecado dos demônios foi não querer adorar a Deus seu Criador; quiseram
ser deuses.
O Mistério da Santíssima trindade é o
mistério central da fé e da vida cristã. Só Deus pode-se dar a conhecer,
revelando-se como Pai, Filho e Espírito Santo. Foi Jesus sobretudo quem
revelou o Pai, Ele como Deus, e o Espírito Santo; isto não foi invenção
da Igreja.
A verdade revelada da Santíssima
Trindade está nas origens da fé viva da Igreja, principalmente através
do Batismo. “A graça do Senhor Jesus Cristo, o amor de Deus e a comunhão
do Espírito Santo estejam com todos vós” (2Cor 13,13; cf. 1Cor 12,4-6;
Ef 4,4-6) já pronunciavam os Apóstolos.
Deus é o Infinito de todas as
potencialidades que possamos imaginar. Ele é Incriado; não foi feito por
ninguém, não teve principio e não terá fim; isto é, é Eterno. A
criatura não é eterna, pois um dia ela começou a existir; não era, e
passou a ser, porque o Incriado a criou num ato de liberdade plena e de
amor. O fato de você existir já é uma grande prova do amor de Deus por
você; Ele quis que você existisse e o criou.
Deus é espírito (Jo 4, 24) não é feito de matéria criada, pois foi
ele quem criou toda matéria que existe fora do nada; logo não poderia
ter sido feito de matéria. Muitos têm dificuldade de entender a
existência de um ser não carnal, espiritual, como os Anjos, Deus e a
nossa alma; mas eles existem de fato. Ora, você não vê a onda
eletromagnética que leva o sinal do rádio e da tv, mas você não duvida
de que ela exista. Da mesma forma você não pode ver os anjos e a alma,
mas eles existem.
Deus é Perfeitíssimo; Nele não há sombra
de defeito ou de erro; Ele não pode se enganar e não pode enganar
ninguém; não pode fazer o mal. Ninguém pode acusar Deus de fazer o mal;
Ele só pode fazer o bem. Ele pode “permitir” que o mal nos atinja para a
nossa correção (Hb 12, 4ss) e mudança de vida; mas Ele nunca pode criar
o mal e nos mandar o mal. O mal vem da nossa imperfeição como criatura e
do nosso pecado (Rm 6,23).
Deus é Onipotente (Gn 17,1; 28,3; 35,11;
43,14; Ex 6,3; Ap 1,8; 4,8; 11,17; 16,14; 21,22); pode tudo; nada lhe é
impossível. “A Deus nada é impossível” (Lc 1, 37) disse o Arcanjo
Gabriel a Maria na Anunciação. Não há alguma coisa que você possa
imaginar que Deus não possa fazer simplesmente com o seu querer. Basta
um pensamento Seu, uma Palavra, e tudo será feito porque Ele tem poder
Infinito. Por isso só Deus pode criar, só Ele pode “tirar algo do nada”;
só Ele pode chamar à existência um ser que não existia; a partir do
nada. Para fazer um bolo a cozinheira precisa da matéria prima; Deus não
precisa. A cozinheira “faz” o bolo, Deus “cria” a partir do nada.
Deus também é Onisciente; quer dizer
sabe tudo; ninguém consegue esconder nada de Deus; Ele tudo vê. Deus é
Onipresente (Sl 139,7; Sb 1,7; Eclo 16,17-18; Jr 23,24; Am 9,2-3; Ef
1,23); está em toda parte, porque é puro espírito. Diz o Salmista:
“Senhor, Vós me perscrutais e me conheceis. Sabeis tudo de mim, quando
me sento e me levanto… Para onde irei longe de teu Espírito? Para onde
fugirei apartado de tua face? Se subir até os céus, Vós estais ali, se
descer para o abismo eu Vos encontro lá” (Sl 138,1-7).
E Deus é muito mais; Deus é nosso Pai
amoroso com ensinou Jesus. É Amor (1Jo 4,8.) É fonte de vida e santidade
(Rm 6,23; Gl 6,8; Ef 1,4-5; 1Ts 4,3; 2Ts 2,13-17). É ilimitado (1Rs
8,27; Jr 23,24; At 7,48-49). É misericordioso (Ex 34,6; 2Cr 30,9; Sl
25,6; 51;1; Is 63,7; Lc 6,36; Rm 11,32; Ef 2,4; Tg 5,11). É o Criador de
todas as coisas visíveis e invisíveis (Gn 1,1; Jó 26,13; Sl 33,6;
148,5; Pv 8,22-31; Eclo 24,8; 2Mc 7,28; Jo 1,3; Cl 1,16; Hb 11,3). É o
Juiz do universo (1Sm 2,10; 1Cr 16,33; Ez 18,30; Mt 16,27; At 17,31; Rm
2,16; 2Tm 4,1; 1Pd 4,5).
Deus é uno (Dt 32,39; Is 43,10; 44,6-8;
Os 13,4; Ml 2,10; 1Cor 8,6; Ef 4,6); não pode haver mais de um Deus
simplesmente pelo fato de que se houvesse dois deuses, um deles seria
inferior ao outro; e Deus não pode ser inferior a nada; Ele é absoluto.
A Trindade é Una. Não professamos três
deuses, mas um só Deus em três pessoas: “a Trindade consubstancial”,
ensinou o II Concílio de Constantinopla em 431 (DS 421). As pessoas
divinas não dividem entre si a única divindade, mas cada uma delas é
Deus por inteiro: “O Pai é aquilo que é o Filho, o Filho é aquilo que é o
Pai, o Espírito Santo é aquilo que são o Pai e o Filho, isto é, um só
Deus por natureza” (XI Concílio de Toledo, em 675, DS 530).
“Cada uma das três pessoas é esta
realidade, isto é, a substância, a essência ou a natureza divina” (IV
Conc. Latrão, em 1215, DS 804).
“Deus é único, mas não solitário” disse o
Papa Dâmaso (Fides Damasi, DS 71). “Pai”, “Filho”, “Espírito Santo” não
são simplesmente nomes que designam modalidades do ser divino, pois são
realmente distintos entre si: “Aquele que é Pai não é o Filho, e aquele
que é o Filho não é o Pai, nem o Espírito Santo é aquele que é o Pai ou
o Filho” (XI Conc. Toledo, em 675, DS 530). São distintos entre si por
suas relações de origem: “É o Pai que gera, o Filho que é gerado, o
Espírito Santo que procede” (IV Conc. Latrão, e, 1215, DS 804). A
Unidade divina é Trina.
“Por causa desta unidade, o Pai está
todo inteiro no Filho, todo inteiro no Espírito Santo; o Filho está todo
inteiro no Pai, todo inteiro no Espírito Santo; o Espírito Santo, todo
inteiro no Pai, todo inteiro no Filho” (Conc. Florença, em 1442, DS
1331).
O
Símbolo Quicunque de Santo Atanásio assim explicava: “A fé católica é
esta: que veneremos o único Deus na Trindade, e a Trindade na unidade,
não confundindo as pessoas, nem separando a substância: pois uma é a
pessoa do Pai, outra, a do Filho, outra, a do Espírito Santo; mas uma só
é a divindade do Pai, do Filho e do Espírito Santo, igual a glória,
coeterna a majestade” (DS 75).
A Santíssima Trindade e inseparável
naquilo que são, e da mesma forma o são naquilo que fazem. Mas na única
operação divina cada uma delas manifesta o que lhe é próprio na
Trindade, sobretudo nas missões divinas da Encarnação do Filho e do dom
do Espírito Santo.
Pela graça do Batismo “em nome do Pai e
do Filho e do Espírito Santo” (Mt 28,19) somos chamados a compartilhar
da vida da Santíssima Trindade, aqui na terra, mesmo na obscuridade da
fé, e para além da morte, na luz eterna. Esta é a nossa magnífica
vocação.
Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo!
Prof. Felipe Aquino
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