Nem
Maria Santíssima, nem algum outro Santo precisa estar em toda parte
para ouvir as orações dos fiéis. Deus, Autor da Comunhão dos Santos,
lhes dá a conhecer o que lhe pedimos.
A morte não interrompe essa solidariedade ou comunhão existente entre
os fiéis. Nem Maria é todo-poderosa, todavia a sua oração materna é
muito significativa. Foi por intercessão de Maria que Jesus realizou seu
primeiro sinal (cf. Jo 2, 1-12).
Os protestantes perguntam como a Virgem Santíssima pode ouvir as
orações dos que a invocam, se ela não está presente em toda parte.
Respondemos
afirmando não ser necessário que Maria ou algum Santo esteja,
simultaneamente ou não, no Brasil e no Japão para ouvir as preces que
lhes são dirigidas. Aliás, os Santos (com exceção de Maria Santíssima)
ainda não ressuscitaram e, por isto, não têm ouvidos corpóreos.
Sem que estejam onipresentes, o Senhor lhes dá a conhecer as preces
que lhes dirigimos. Esta comunicação se deve ao fato de que Deus mesmo é
o Autor da Comunhão dos Santos, que Ele conserva mesmo através do
transe da morte. As criaturas humanas são naturalmente interdependentes
entre si e esta interdependência continua a se exercer após a morte
mediante a oração.
A oração aos santos não derroga à única e singular mediação de Cristo
(cf. 1Tm 2, 5), pois Cristo mesmo quer associar a si os seus fiéis na
grandiosa tarefa de salvar a humanidade. Já São Paulo pedia aos seus
discípulos que rezassem por ele, exercendo esse tipo de mediação; cf. Ef
6, 19 e Cl 4, 3; Epafras “lutava em suas orações em favor dos
colossenses” (cf. Cl 4, 13).
Quanto às orações dos justos no céu, pelos irmãos militantes na
terra, existe um testemunho do povo de Deus pré-cristão; com efeito,
segundo 2Mc 15, 11-16, Onias, sacerdote falecido, e Jeremias profeta
apareceram a Jonas Macabeu como intercessores em favor do povo judeu:
“Foi este o espetáculo que lhe coube apreciar: Onias que tinha sido
sumo sacerdote, homem honesto e bom, modesto no trato e de caráter
manso, expressando-se convenientemente no falar, e desde a infância
exercitado em todas as práticas da virtude, estava com as mãos
estendidas, intercedendo por toda a comunidade dos judeus. Apareceu, a
seguir, da mesma forma, um homem venerável pelos cabelos brancos e pela
dignidade maravilhosa e majestosa a superioridade que circundava.
Tomando então a palavra, disse Onias: “Este é o amigo dos seus irmãos,
aquele que muito ora pelo povo e por esta cidade santa, Jeremias, o
profeta de Deus”.
Este texto é muito eloquente, evidencia que a crença na intercessão
dos Santos no além não é produto da Igreja Católica nem herança do
paganismo, mas autêntica concepção do povo de Deus. – Verdade é que a
Bíblia dos protestantes não tem este texto; não o tem, porém, porque
Lutero retirou do cânon bíblico os dois livros dos Macabeus, ver a
propósito PR 432/1998, pp. 194ss.
Maria não é onipotente, mas é Mãe não somente de Cristo Cabeça, mas
também do Corpo Místico dessa Cabeça (cf. Jo 19, 25-27); ora a prece da
Mãe por seus filhos tem valor especial. Daí o costume muito antigo de
rezarem os fiéis à Santa Virgem Mãe, que não é fonte de graças, mas é
intercessora agradável a Deus.
No Novo Testamento a solidariedade entre os que se foram e os que
ficam na terra, é incutida em Hb 11: o autor sagrado, após percorrer a
galeria dos heróis da fé desde Abel até os Macabeus (século II a.C.),
observa:
“Não
obstante, todos eles, se bem que tenham recebido um bom testemunho pela
fé, apesar disso, não obtiveram a realização da promessa. Pois Deus
previa para nós algo de melhor, para que sem nós não chegassem à plena
realização” (11, 39s).
Essa comunhão é esboçada também no Apocalipse, onde se lê:
“Deram ao anjo uma grande quantidade de incenso para que o oferecesse
com as orações de todos os santos sobre o altar de ouro que está diante
do trono. E da mão do anjo a fumaça do incenso com as orações dos
santos subiu diante de Deus” (Ap 8, 3s).
– A comunhão que tais textos põem em relevo, é uma das mais belas notas do Novo Testamento.
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