sábado, 5 de janeiro de 2019

A Voz da Consciência

urlPara a pessoa que cometeu o mal, a voz de sua consciência é sempre um chamado à conversão e à esperança. É isto sobretudo, que nos distingue dos animais; eles não têm consciência do que fazem; não sabem se fizeram o bem ou o mal. O homem, ao contrário, sabe se fez o bem e se alegra; ou sabe que fez o mal e se entristece. Há em nosso interior uma voz divina que diz: “faça o bem, evite o mal”.
Mas a consciência precisa ser bem formada porque ela está sujeita às influências do meio.
O ser humano para ser feliz deve obedecer sempre ao julgamento certo de sua consciência. Se ele pisar na sua própria consciência, pisa naquilo de mais nobre que possui. Uma pessoa que decide fazer algo contra a sua consciência peca e assume diante de si mesmo uma grande dívida. O Cardeal Newman, falando da consciência, dizia:
“É a mensageira daquele que, no fundo da natureza bem como no fundo da graça, nos fala através de um véu, nos instrui e nos governa. A consciência é o primeiro de todos os vigários de Cristo”.
Santo Agostinho chama-nos a sempre voltar para ela:
“Volta à tua consciência, interroga-a,… Voltai irmãos ao interior, e em tudo o que fizerdes atentai para a testemunha, Deus” (ep. Jo 8,9).
O Catecismo da Igreja ensina que:
“Uma consciência bem formada é reta e verídica. Formula seus julgamentos seguindo a razão, de acordo com o bem verdadeiro querido pela sabedoria do Criador. A educação da consciência é indispensável aos seres humanos submetidos a influências negativas e tentados pelo pecado a preferirem o próprio juízo e a recusar os ensinamentos autorizados… A educação da consciência é uma tarefa de toda a vida… garante a liberdade e gera a paz do coração.
Na formação da consciência, a Palavra de Deus é a luz de nosso caminho; é preciso que a assimilemos na fé e na oração e a coloquemos em prática… É preciso ainda, que examinemos nossa consciência confrontando-nos com a Cruz do Senhor. “Somos assistidos pelos dons do Espírito Santo, ajudados pelos testemunhos e conselhos dos outros e guiados pelo ensinamento autorizado da Igreja” (CIC §1783-1785).
A Palavra de Deus é o melhor meio para formar uma consciência reta, nem laxa e nem escrupulosa.
“A Palavra de Deus é útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra” (2 Tm 3,16-17).
As bem-aventuranças nos dão os critérios de discernimento no uso dos bens terrestres, de acordo com a Lei de Deus, por isso é base da nossa Moral. Diz o Eclesiástico que:
“Deus deixou o homem nas mãos de sua própria decisão” (Eclo 15, 14), para que pudesse livremente aderir a Deus, e chegar, assim, à feliz perfeição (GS 17, 1).
A responsabilidade de uma ação humana pode ser diminuída ou até eliminada em certos casos, por causa da ignorância, violência, medo e outros fatores psíquicos ou sociais. (cf. CIC §1746)

A Igreja ensina com firmeza que:
“Não se pode justificar uma ação má, embora feita com boa intenção” (São Tomás de Aquino, Decem. Praec. 6).
Os fins não justificam os meios; por exemplo, não de pode matar uma pessoa, pela eutanásia, com o desejo de diminuir o seu sofrimento. Não é permitido fazer o mal para que daí resulte um bem. Este princípio hoje é muito violado, em nome da “caridade”. Se esta norma for violada, toda a Moral desaba e toda verdadeira civilização perece. Sem a verdade moral não há verdadeira caridade e salvação.
A moral católica não é um mero sistema de preceitos e proibições como alguns possam pensar, e nem é também um sistema que ensina o cristão a praticar certas normas, com o mínimo de incômodo, a fim de tranquilizar a sua consciência diante de Deus. Isto seria diminuir a moral e a grandeza do homem.
A moral católica tem como objetivo levar o homem à realização da sua vocação suprema, que é a perfeição e a santidade. Ela tem como objetivo dirigir o comportamento do homem para o seu Fim Supremo que é Deus. Nenhuma pessoa é chamada a viver uma vida medíocre, mas repleta de espiritualidade e amor a Deus e aos irmãos.
A Moral vai além da Ética filosófica. Esta deseja contribuir para o bem humano, mas apenas com as luzes da razão, do bom senso e do raciocínio sem levar em conta o Plano e a Revelação de Deus para a salvação da humanidade. A Ética é válida, mas não atinge o mais profundo do mistério do homem.
A Moral também vai além do Direito que se baseia em leis humanas; mas nem sempre perscruta a consciência. Pode acontecer de alguém estar agindo de acordo com o Direito, mas não de acordo com a consciência. Por exemplo, o divórcio é legal, mas não é moral. E há muitos países onde a desumanidade do aborto é aprovada.
A Moral cristã leva em conta que o pecado enfraqueceu a natureza humana e que ela precisa da graça de Deus para se libertar de suas tendências desregradas e viver de acordo com a vontade de Deus. Portanto, a Moral cristã e a Religião estão intimamente ligadas, tendo como referência Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Ser cristão é muito mais do que acreditar e professar a doutrina cristã; mais do que tudo é viver em comunhão com Cristo, vivendo Nele, por Ele e para Ele. É de dentro do coração do cristão que nasce a vontade de viver a “Lei de Cristo”, a Moral cristã, e isto é obra do Espírito Santo.
A nova e definitiva Aliança, segundo o profeta Jeremias, devia ser pautada na força de Deus que conduz o homem:
“Eu porei minha lei no seu seio e a escreverei em seu coração. Então eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Jr 31,33).
“Dar-vos-ei um coração novo, porei no vosso íntimo um espírito novo, tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne. Porei no vosso íntimo o meu espírito e farei com que andeis de acordo com os meus estatutos e guardeis as minhas normas e as pratiqueis” (Ez 36,26s).
O comportamento do cristão é uma resposta ao amor de Deus. Dizia São João da Cruz que “amor só se paga com amor”. “Deus é amor” (1Jo 4, 16) e Ele “nos amou primeiro” (1Jo 4, 19).
Ninguém deve viver a Lei de Cristo, por medo, mas por amor ao Senhor que desceu do céu, e imolou-se por cada um de nós. Nosso amor a Deus não deve ser o amor do escravo que lhe obedece por medo do castigo, e nem do mercenário que o obedece por amor ao dinheiro, mas sim o amor do filho que obedece ao pai simplesmente porque é amado pelo pai. São Paulo dizia: “O amor de Cristo me constrange” (2Cor 5,14).
Ninguém será verdadeiramente espiritual enquanto não viver a lei de Deus simplesmente por amor a Deus e não por medo de castigos.
Por outro lado, devemos viver a lei de Deus porque ela é, de fato, o caminho para a nossa verdadeira felicidade. Ele nos ama e é Deus; não erra e não pode nos enganar; logo, sua Lei, é o melhor para nós.
Quem não obedece ao catálogo do projetista de uma máquina, acaba estragando-a; assim, quem não obedece a Lei de Deus, acaba destruindo a sua maior obra que é a pessoa humana.

A Lei de Cristo se resume em “amar a Deus e amar ao próximo como a si mesmo” (cf. Mt 22, 37-40). Mas esse amor ao próximo não é apenas por uma questão de simpatia ou afinidade com ele, mas pelo exemplo de Cristo, que “nos amou quando ainda éramos pecadores” (Rm 5,8), como disse São Paulo. Por isso, o cristão odeia o pecado, mas sempre ama o pecador. Não se pode menosprezar a verdade; isto seria um desserviço a si mesmo e ao outro. A Igreja ensina que “não se deve impor a verdade sem caridade, mas também não se deve sacrificar a verdade em nome da caridade” (Santo Agostinho). Bento XVI disse na “Caritas in veritate” que:
“Só na verdade é que a caridade refulge e pode ser autenticamente vivida. A verdade é luz que dá sentido e valor à caridade… Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada chegando a significar o oposto do que é realmente. A verdade liberta a caridade dos estrangulamentos do emotivismo, que a despoja de conteúdos relacionais e sociais, e do fideísmo, que a priva de amplitude humana e universal” (CV,3).




Prof. Felipe Aquino

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