A
mágoa não é uma ofensa externa que atinge alguém. Quem se magoa tem a mágoa
dentro de si.
A
palavra mágoa vem do latim macula e tem o mesmo significado de mancha, nódoa.
Tinha, originalmente, o sentido de impureza. Maria, mãe de Jesus, é chamada de
Maria Imaculada, ou seja, sem mácula, sem mancha, pura.
Querendo
ou não querendo, concordando ou não concordando, o fato é que só nos deixamos
atingir por aquilo que encontra eco dentro de nós mesmos. Só somos tocados por
aquilo que sintoniza conosco. Se fôssemos suficientemente superiores, não nos
magoaríamos nem ao sofrer uma injustiça de alguém muito querido.
Procuraríamos
de imediato, a melhor maneira para esclarecer o mal entendido e faríamos de
tudo para ajudar aquele que foi injusto conosco, porque compreenderíamos o seu
erro e consequente sofrimento.
Quando
você acha que alguém o magoou, é você que se magoou. Alguém fez alguma coisa
que o desagradou, que não correspondeu às suas expectativas, e você se magoou.
Mas a mágoa não foi imposta por ele, a mágoa é sua, surgiu de você. Mágoa é
mancha. Se você se bate, forma-se um hematoma.
O hematoma é uma mancha. O que
desencadeou o surgimento do hematoma foi o fato de você se bater em algum
lugar, mas a mancha surgiu de você, é uma reação do seu corpo, o hematoma é
seu. O objeto contra o qual você se bateu não acrescentou o hematoma a você.
Foi você, foi o seu corpo que reagiu ao impacto formando um hematoma.
A
mágoa está em você e pode ser acionada. Quando alguém age de maneira grosseira,
insensível, injusta com você, sua magoa é desencadeada. É verbo reflexivo:
Magoar-se. Magoa-se a si mesmo.
Cada
vez que nos magoamos temos a oportunidade de estudar a nós mesmos para
descobrir o que fez a mágoa subir à superfície. Por que você se magoa?
Responder a isso rende um ótimo exercício de autoconhecimento.
Nossa
mestra na oração Santa Madre Teresa de Jesus dizia: “Ora, é desatino pensar que
havemos de entrar no céu sem primeiro entrar em nós mesmos, a fim de conhecer e
considerar nossa miséria, os benefícios de Deus e pedir-lhe muitas vezes
misericórdia”.
TEMOS
QUE RECONHECER QUE NA MAIORIA DAS VEZES MAGOAMO-NOS POR COISAS FÚTEIS.
Gostaríamos de ser mais considerados, respeitados, admirados, paparicados.
Conforme
avançamos em nossa reforma íntima, em nosso autoconhecimento, a tendência é que
nossas mágoas diminuam. Tornamo-nos menos suscetíveis à mágoa.
Como
a mágoa é algo que parte de nosso íntimo, ao nos reajustarmos fica mais fácil
perceber, pelo menos em algumas áreas do sentimento, que não há motivos para
magoar-se.
Sei
que há pessoas que enfrentam experiências amargas, tendo que se submeter, mesmo
que temporariamente, à grosseria e crueldade de pessoas próximas. Maridos,
mães, irmãos. São situações que quase sempre têm sua origem nos relacionamentos
traumatizantes e se deixam melindrar-se facilmente, e que são verdadeiros
desafios a que somos submetidos e que anseiam por livrar-se do círculo vicioso
que se forma entre vítimas e algozes.
Exigimos
de nossos pais um amor incansável, uma firmeza psicológica inabalável e uma
conduta moral perfeita e perene. Daí advém o nosso primeiro trauma e
consequente ferida no corpo emocional.
Nossos
pais e nós mesmos somos seres humanos imperfeitos. A essa época, começamos a
esquecer do nosso autoconhecimento e a nos guiarmos, como autômatos, por nossos
hábitos e mecanismos de defesa e nos magoamos muito facilmente. A única maneira
de por fim a esse círculo vicioso é através do perdão e da tentativa de amor.
Se
amor ainda é algo muito grande para caber nessas situações, que haja ao menos a
compreensão, a tolerância, a paciência. São todos derivados do amor. E todos
são poderosos antídotos contra a mágoa.
Pe.Emílio
Carlos Mancini
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