Por Ron Ramtang/Shutterstock
Não defendo a dor nem o sofrimento, mas acredito que, já que não podemos evitá-los, devemos aprender com eles.
Assistindo
a um vídeo do Rubem Alves no YouTube, me deparei com sua explicação
pessoal para a doce frase que intitula um de seus livros: “Ostra feliz
não faz pérola”.
Ele dizia que só a ostra que sofre é que faz pérola. Porque, para
fazer a pérola, a ostra precisa ter alguma coisa que a irrite, um
grãozinho de areia que a faça sofrer. Então, ao invés de eliminá-lo, ela
envolve aquele ponto agudo cortante por uma substância lisa. E a ostra
vai produzir a pérola para deixar de sofrer.
Não defendo a dor nem o sofrimento, mas acredito que, já que não
podemos evitá-los, devemos aprender com eles. E no fim agradecê-los por
terem feito de nós pessoas mais fortes. Por permitirem que, de um jeito
inesperado, nos tornássemos capazes de usar a sabedoria a nosso favor,
tirando algum proveito da dor. Por nos mostrarem que, em algum lugar
dentro de nós existe uma força que nos sustenta quando tudo o mais
desmorona.
Uma das orações mais bonitas que existem é a Oração da Serenidade.
Criada durante a Segunda Guerra Mundial, fala de aceitação, coragem e
sabedoria. Não à toa é recitada em grupos de recuperação de vícios, pois
sintetiza de forma muito bonita como podemos encontrar equilíbrio e
harmonia naqueles momentos em que a vida nos tira o chão.
A parte mais conhecida da oração diz assim: “Concede-me Senhor, a
serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar,
coragem para modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir uma
das outras”. Mas também gosto do trecho da oração completa que fala
assim: “Aceitando esse mundo tal como ele é, e não como eu queria que
fosse”.
O mundo tal como ele é nem sempre é como a gente desejaria, ou
sonharia que fosse. Por isso, é preciso discernimento para entender onde
nossa energia e boa intenção podem frutificar ou não. É preciso
sabedoria para recuar, para aceitar o que não dá para mudar, para
talvez, quem sabe, seguir por outro caminho.
Porém, o que vejo por aí é muita gente dando murro em ponta de faca,
se enfurecendo com a vida, com Deus, com as pessoas… quando deveria
apenas confiar. Outras vezes, me deparo com o contrário: tanta coisa a
ser feita, tantas mudanças positivas a nosso alcance, e falta ânimo e
coragem para começar.
Aceitar é um gesto de humildade, de reconhecer nossa pequenez diante
de Deus, e também um ato de fé, ao admitir que há um propósito maior
para a dor, que eu não entendo nem consigo explicar, mas no qual
acredito e confio.
Quando uma ostra produz uma pérola, ela entende – e aceita – que não
há como expelir o grão de areia que tanto a machuca. Assim, busca dentro
dela recursos para que possa vencer a dor dignamente. Buscando uma
saída, produz uma pérola. Essa é uma belíssima analogia da sabedoria da
natureza que poderia inspirar a sabedoria humana, tão rara nos dias
atuais.
Não adianta vivermos ressentidos com o sofrimento que a vida nos
impõe. Não somos vítimas de uma conspiração divina para nos punir.
Certas coisas acontecem aleatoriamente, e se não aprendemos a entrar no
ritmo da vida, sofremos mais. Temos que perdoar os infortúnios, e seguir
sem nos sentirmos magoados com a existência.
É preciso aprender a ser forte sem perder a delicadeza. Aprender a
tolerar as mudanças de planos, os desvios de rota e a quebra de
contratos com paz no coração e absolvição das próprias culpas. É preciso
acreditar que, ainda que a vida nos machuque repetidas vezes, temos a
possibilidade de desgastar-nos ou afiarmo-nos, tudo depende do metal de
que somos feitos…*
*Essa frase é referência á célebre frase de George Bernard Shaw: “A
vida é uma pedra de amolar: desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal
de que somos feitos.”
(via Resiliência Mag)
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