sexta-feira, 20 de maio de 2016

COMO FAZER DO PAI NOSSO UMA ARMA ESPIRITUAL?

Se nem todos podem realizar um ritual de exorcismo como o dos filmes, todos os cristãos podem, sem exceção, rezar a Oração do Senhor. E isso não é pouca coisa.


Por Pe. Dwight Longenecker | Tradução: Equipe CNP

Certa vez, durante uma palestra conduzida por um importante autor e psiquiatra cristão, três mulheres entusiasmadas lhe contaram que havia uma seita de bruxas em sua cidade e elas queriam saber o que fazer para acabar com isso.
O médico era uma pessoa de renome e, ao mesmo tempo, de grande espiritualidade. Ele disse com calma: "Pela minha experiência, na maioria dos casos, tudo o que é necessário para livrar um lugar do mal é reunir um grupo de cristãos fiéis e rezar em silêncio, repetindo todos juntos a oração do Pai Nosso e concentrando-se na frase 'Livrai-nos do mal'." Ele sorriu e deu sequência à sua fala. "Isso geralmente funciona. Alguém tem mais alguma pergunta?"
Acredito que as senhoras ficaram um pouco desapontadas. Talvez elas quisessem fazer um exorcismo dramático cheio de cabeças girando, levitações, água benta e sinais extraordinários. É verdade que, não raramente, muitas situações exigem um exorcismo. Nesses casos, só um exorcista treinado pode realizar o ritual adequado, contando com a autorização do bispo local.
Todos os cristãos batizados e confirmados, porém, são chamados a ser soldados na batalha espiritual, e um uso consciente da Oração do Senhor pode ser um instrumento bem prático e concreto para derrotar o demônio e libertar um lugar ou uma pessoa da influência maligna.
Às vezes nós nos esquecemos que uma dimensão importante do ministério do Senhor era a Sua batalha contra Satanás. Imediatamente depois de ser batizado, Jesus é enviado ao deserto para confrontar o pai da mentira. Logo depois, vemo-Lo expulsando demônios; curando os doentes do corpo, da mente e do espírito; e, finalmente, através de Sua paixão e ressurreição, esmagando de uma vez por todas a antiga serpente.


Nesse ínterim, Ele também nos dá o Pai Nosso como uma arma na guerra, deixando nessa oração três expressões intimamente relacionadas à batalha que nós devemos travar com a Sua ajuda.
A primeira dessas expressões é o pedido "Perdoai-nos as nossas ofensas". Antes de qualquer coisa, nós pedimos perdão por nossos pecados, e isso está ligado com a ação de perdoarmos os outros. Quando dizemos, "assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido", nós estamos agindo como canais do perdão de Deus, que flui através de nós em direção ao próximo.
O primeiro passo consiste, pois, em rezar o Pai Nosso bem devagar, com uma ênfase nessas duas frases. Quando fazemos isso depois de um bom exame de consciência, a Oração do Senhor se converte em um poderoso ato de contrição. Santo Tomás de Aquino ensina, por exemplo, que os nossos pecados veniais podem realmente ser perdoados no Pai Nosso, se a nossa oração incluir "um movimento de detestação dos pecados". É claro que, se a nossa consciência nos acusa de um pecado mortal, o nosso ato de contrição não basta, e devemos recorrer ao sacramento da Reconciliação.
Ao rezar uma segunda vez a Oração do Senhor, focamo-nos no pedido "Não nos deixeis cair em tentação", pedindo, desta vez, que não sejamos enganados pelas vozes que pretendem nos levar ao pecado. Por "tentação", nós não falamos simplesmente da atração que temos para o pecado, referimo-nos também à tentação ativa que o demônio coloca diante de nós. Em outras palavras, "Senhor, defendei-nos dos ataques do mal" ou "Mantende-nos a salvo das contínuas armadilhas do mal. Dirigi-nos para perto da luz e para longe da escuridão".
Essa segunda vez rezando está claramente ligada à terceira, quando damos ênfase à última petição, "Livrai-nos do mal". Essa é a petição final e mais poderosa de libertação, porque, afinal, é nisso que consiste uma oração "de cura e libertação": livrar uma pessoa da escravidão do mal. É muito simplista imaginar que a escravidão ao demônio só se dê sob a forma da possessão diabólica. Muitas pessoas sofrem como escravas do mal: algumas estão presas a vícios, comportamentos sexuais obsessivos ou outros pecados particulares; outras são escravas das drogas, de maus relacionamentos; e outras ainda são escravas de sua auto-estima negativa, de hábitos destrutivos, de depressão, do medo e da ansiedade. Em todas essas dificuldades pode haver uma dimensão espiritual. Maus espíritos podem agir sobre uma pessoa prejudicando a saúde do seu corpo e do seu espírito.
De maneira bem prática e serena, então, podemos lutar contra o mal por meio de um uso consciente e intencional da Oração do Senhor: (1) para recebermos e darmos perdão, (2) para não cairmos em tentação e (3) para sermos libertos dos poderes malignos que nos acorrentam.
Finalmente, o Pai Nosso pode ser usado ainda não só para nós mesmos, mas como uma intercessão pelos outros. É inclusive um ato de misericórdia rezar pelo próximo que está escravizado pelo pecado, pedindo ao Senhor que o liberte.
Essa oração nos une com a oração de Jesus. Foi assim que Ele rezou e era isso o que Ele pedia. Acredito que esse aspecto do Pater Noster seja o mais importante e, no entanto, é o mais negligenciado de todos. Quando essa oração é rezada com simplicidade, serenidade e reflexão, nós unimos as nossas orações às de Cristo e a nossa vontade à d'Ele pela salvação do mundo e pela libertação das almas. 







Fonte: Pantheos | Tradução e adaptação: Equipe Christo Nihil Praeponere

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