sábado, 14 de agosto de 2010

"NOITE ESCURA" DE MADRE TERESA DE CALCUTÁ.

A «noite escura» que a Madre Teresa de Calcutá viveu, documentada por um livro recém-publicado, foi uma espécie de «martírio», devido à «presença ausente» de Deus, explica o Pe. Raniero Cantalamessa, OFM.

O pregador da Casa Pontifícia comentou a publicação de cartas inéditas da beata, recolhidas no livro «Madre Teresa: venha e seja minha luz» («Mother Teresa: come be my light»), publicado pelo Pe. Brian Kolodiejchuk, postulador da causa de canonização da religiosa, dez anos após seu falecimento.

Em uma de suas cartas, a Madre Teresa diz: «Há tanta contradição em minha alma: um profundo anseio de Deus, tão profundo que causa dano; um sofrimento contínuo, e com isso o sentimento de não ser querida por Deus, rejeitada, vazia, sem fé, sem amor, sem céu. O céu não significa nada para mim: parece-me um lugar vazio!».

O pregador do Papa, através das ondas da «Rádio Vaticano», declarou que «este sofrimento lacerante, provocado pelo vazio de Deus, é o sinal de que se trata de um fenômeno positivo».

«Trata-se de uma presença-ausência - acrescenta o sacerdote capuchinho: Deus está presente, mas não é experimentado.»
«Que a Madre Teresa pudesse passar horas ante o Santíssimo [na Eucaristia, ndr.], como dizem as testemunhas que a viram, quase extasiada. e que o fizesse nestas condições demonstra que é um martírio», sublinha.
«É um verdadeiro martírio, porque para quem não experimenta Deus e sente esse vazio, estar durante horas quieta ante o Santíssimo significa verdadeiramente estar entre chamas», acrescenta.
«É estranho que alguém se escandalize por estes escritos da Madre Teresa ou inclusive que pense que, quem os está publicando, tem de vencer as dúvidas de que as pessoas se escandalizem», confessa.
«Para mim, isso torna maior a figura da Madre Teresa, não a diminui»,
continua reconhecendo Cantalamessa. «Os ateus 'normais', comuns, não ficam aflitos pela ausência de Deus; mas, para a Madre Teresa, era a prova mais terrível que podia viver.»
«Creio que Madre Teresa tem verdadeiramente a estatura dos grandes da santidade cristã, precisamente por sua capacidade de esconder fenômenos, de vivê-los pessoalmente no íntimo de seu coração.»
«Talvez ela o tenha feito precisamente em expiação por esse ateísmo crescente que se dá no mundo de hoje, pois no fundo, a Madre Teresa viveu este viver como se Deus não existisse positivamente, com fé, do lado de Deus»,
indica.
«A noite escura, declara o Pe. Cantalamessa, é muito conhecida na tradição cristã; talvez a novidade foi a maneira em que a Madre Teresa a viveu.»
«Pois enquanto a 'noite do espírito', de São João da Cruz, é um período geralmente preparatório ao definitivo, que se chama 'unitivo', no caso de Madre Teresa parece que foi um estado estável, a partir de um certo momento de sua vida, quando começou sua grande obra de caridade, até o final.»
«Desde meu ponto de vista, este prolongamento da 'noite' tem também um significado para nós hoje. Creio que a Madre Teresa é a santa da era da comunicação, pois esta 'noite do espírito' a protegeu da possibilidade de converter-se em vítima da mídia, ou seja, de que exaltasse a si mesma.»
«De fato
- conclui o frei capuchinho -, ela mesma dizia que ante as maiores honras e ante o interesse da imprensa, ela não sentia nada, porque vivia este vazio interior. Era uma espécie de escudo protetor para atravessar a era dos meios de comunicação.»


História de Madre Teresa

Agnes Gouxha Bojaxhiu, a Madre Teresa de Calcutá, nasceu no dia 27 de agosto de 1910, em Skopje, Iugoslávia, de pais albaneses. Seus pais, Nicolau e Rosa, tiveram três filhos. Na época escolar, Agnes tornou-se membro de uma associação católica para crianças, a Congregação Mariana, onde cresceu em ambiente cristão. Aos doze anos já estava convencida de sua vocação religiosa, atraída pela obra dos missionários.

Agnes pediu para ingressar na Congregação das Irmãs de Loreto, que trabalhavam como missionárias em sua região. Logo foi encaminhada para a Abadia de Loreto, na Irlanda, onde aprenderia o inglês e depois seria enviada à Índia, a fim de iniciar seu noviciado. Feitos os votos, adotara o nome Teresa em homenagem à carmelita francesa, Teresa de Lisieux, padroeira dos missionário Primeiramente a Irmã Teresa foi incumbida de ensinar história e geografia no colégio da congregação, em Calcutá. Essa atividade exerceu por dezessete anos. Cercada de crianças, filhas das melhores famílias de Calcutá, impressionava-se com o que via quando saia à rua: pobreza generalizada, crianças e velhos moribundos e abandonados, pessoas doentes sem a quem recorrer.

O dia 10 de setembro de 1946 ficou marcado na sua vida como o "dia da inspiração". Numa viagem de trem ao noviciado do Himalaia, percebe que deveria dedicar toda a sua existência aos mais pobres e excluídos, deixando o conforto do colégio da congregação. E assim ela fez. Irmã Teresa tomou algumas aulas de enfermagem, que julgava útil a seu plano e misturou-se aos pobres, primeiro na cidade de Motijhil. A princípio ela juntou cinco crianças de um bairro miserável e passou a dar-lhes escola. Passados dez dias já se somavam cinqüenta crianças. O seu trabalho começou a ficar conhecido e a solidariedade do povo operava em seu favor, com donativos e trabalho voluntário.

Para Irmã Teresa, o trabalho deveria continuar a dar frutos sem depender apenas das doações e dos voluntários. Seria necessário às suas companheiras que tivessem o espírito de vida religiosa e consagrada. Logo, uma a uma ouviram o chamado de Deus para se entregarem ao serviço dos mais pobres. Nascia a Congregação das Missionárias da Caridade, com seu estatuto aprovado em 1950. E ela se tornou Madre Teresa, a superiora.

As missionárias saíram às ruas e passaram a recolher doentes de toda a espécie. Para as irmãs missionárias, cada doente, cada corpo chagado, representava a figura de Cristo, e sua ajuda humanitária era a mais doce das tarefas. Somente com essa filosofia é que as corajosas irmãs poderiam tratar doentes de lepra, elefantíase, gangrena, cujos corpos, em putrefação, eram imagens horrendas que exalavam odores intoleráveis.

Todos eles tinham lugar, comida, higiene e um recanto para repousar junto às missionárias.

Reconhecido universalmente, o trabalho de Madre Teresa rendeu-lhe um prêmio Nobel da Paz, em 1979. Este fora um dos muitos prêmios recebidos pela religiosa devido ao seu trabalho humanitário. Neste período sua obra já havia se espalhado pela Ásia, Europa, África, Oceania e Américas.

No dia 05 de setembro de 1997, Madre Teresa veio a falecer, na Índia. A comoção foi mundial. Uma fila de quilômetros formou-se durante dias a fio, diante da igreja de São Tomé, em Calcutá, onde o seu corpo estava sendo velado. Ao fim de uma semana o corpo da Madre foi trasladado ao Estádio Netaji, onde o cardeal Ângelo Sodano, Secretário de Estado do Vaticano, celebrou a Missa de corpo presente.

Sete anos depois de sua morte, em 2003, quando o Papa João Paulo II, seu contemporâneo e amigo pessoal, comemorava o jubileu de prata do seu pontificado, ele beatificou Madre Teresa de Calcutá, reconhecida mundialmente como a "Mãe dos Pobres". Nesta emocionante solenidade o Sumo Pontífice disse: "Segue viva em minha memória sua diminuta figura, dobrada por uma existência transcorrida a serviço dos mais pobres entre os mais pobres, porém sempre carregada de uma inesgotável energia interior: a energia do amor de Cristo".
Fonte: encontrocomcristo.com.br - 13/8/2010

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