A figura do coordenador desperta opiniões variadas entre os participantes da RCC, pois ele é uma pessoa fundamental para o bom andamento de um Grupo de Oração ou diocese. Mas por que será que ouvimos tantas queixas referentes a esse ministério? Por que tantas pessoas fogem dele ou o criticam? Há coordenadores que reclamam seus direitos, dizendo não ser compreendidos, não ter o apoio dos irmãos, sentem-se sozinhos, perseguidos, dizem ou pensam: “bom seria se terminasse logo este mandato pra me ver livre deste ‘peso’”, “por que fui aceitar este ministério?”, “acho que faltou discernimento quando me elegeram...”. Existem também aqueles que se apegam ao ministério, tomam ‘posse’ do ministério e não aceitam sair depois de um período. Tornam-se ‘donos’ do grupo e julgam-se os únicos ungidos capazes de coordenar.
Mas há também nos grupos de oração, dioceses e outras instâncias na Renovação, aqueles que não aceitam a ideia de serem coordenados, por quem não faça parte do seu ‘partido’. Formam-se verdadeiros guetos, tribos, grupos dentro de grupos, “dilacerando o Corpo de Cristo” . É estranho constatar que bons líderes, após o término de seus mandatos, não colaboram com a nova coordenação, afastam-se do Grupo e levam consigo outros membros, ou quando ficam, caem na tentação de fazer oposição ao novo coordenador. Corremos o risco de pensar que coordenação é um problema. Dessa forma, ninguém se sentiria atraído a este serviço, por isso é importante o aperfeiçoamento e a formação para coordenadores.
O ministério de coordenação é um caminho de solução objetiva para a vida prática do movimento. Dentre outros serviços, o coordenador exerce um papel de mediador. Espiritualmente entre Deus e o seu povo, como Moisés; eclesialmente, entre o clero e o movimento; estruturalmente, entre seu grupo e as demais instâncias de serviços. Essa mediação que une e entrelaça as diversas partes do movimento é um serviço necessário, especialmente para manter a unidade no direcionamento de todo o movimento.
Os limites no ministério de coordenação
“Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós” (II Cor 4, 7).
Coordenação não é profissão a ser buscada como carreira. Há quem busque auto-promoção na Renovação, pessoas com objetivos levianos, com finalidades alheias àquelas esperadas deste ministério. Acaba-se por instrumentalizar um cargo ou função na RCC, buscando favorecer interesses pessoais, financeiros e até mesmo interesses políticos de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. São muitos os grupos, que beiraram o desaparecimento devido à instrumentalização do poder.
Existem auto-promoções, mas percebemos a sutileza do Espírito Santo ao escolher coordenadores dentro do movimento. Veja este texto de São Paulo aos Coríntios:
“Vede irmãos, o vosso grupo de eleitos: não há entre vós muitos sábios, humanamente falando, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. O que é estulto no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes; e o que é vil e desprezível no mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são. Assim, nenhuma criatura se vangloriará diante de Deus” (I Cor 1, 26-28).
A comunidade, ao escolher uma nova coordenação, precisa usar de um discernimento criterioso, que passe pela escuta profética e pelo discernimento reflexivo, atentando para a vontade de Deus e a necessidade daquele Grupo. Critérios como carismas de liderança, pastoreio, administração, evangelização, empenho pela unidade e formação, são essenciais para uma coordenação atingir os objetivos ministeriais. O Espírito Santo é quem distribui estes dons e quem capacita aos fiéis, mas, cabe à comunidade observar tais critérios e discernir, sob a Sua ação, a coordenação mais adequada para aquele momento do Grupo de Oração, diocese, etc. É importante não esquecer que o Espírito Santo não improvisa, mas que também pode surpreender em suas escolhas...
Ao eleito cabe a humildade de reconhecer que, embora a comunidade tenha percebido nele alguns elementos que de certa forma justificam a escolha, tudo o que ele possui é na verdade gratuidade de Deus e que, portanto, a escolha não é fruto de méritos meramente humanos. Às vezes, a pessoa eleita é surpreendida pela escolha da comunidade, não se julgava ‘capacitada’ para tal serviço, mas ao ser eleita, experimenta uma força, um poder extraordinário do Espírito, que pode ser entendido como graça de estado (CIC 2003). A fragilidade humana não é capaz de ofuscar esta equipagem espiritual nova recebida no ato eletivo e, como diz o apóstolo Paulo, “o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza” (Rm 8, 26). Trazemos a fragilidade e a marca de nossas limitações, por isto o Espírito encontra a liberdade para manifestar Sua grandeza.
Conscientes de “sermos frágeis como o vaso de barro”, é preciso estar preparado para os momentos difíceis no ministério, em que ficarão evidentes nossas limitações. Muitos sonhos, desejos e planejamentos podem não acontecer durante o mandato de coordenação e isto pode trazer um sentimento de frustração muito grande ao coração do coordenador. Ninguém quer fracassar em sua missão. Não se trata de vaidade ou de desejar ser visto como a ‘melhor coordenação que o Grupo já teve’. É uma questão de querer corresponder de forma eficaz ao chamado de Deus. Mas na missão de coordenar sempre ficarão marcas de nossa imperfeição, pois somos limitados vasos de barro.Os nossos limites são garantias de que nunca estaremos desamparados, pois nossa fraqueza atrai o auxílio do alto, do Espírito. A escolha de Deus não depende de nosso estado de perfeição, mas de Sua livre e soberana vontade. Se nossos limites não são empecilhos para a missão assumida, também não podem ser usados como ‘desculpas’ para justificar atos. Esta limitação explica nossa impotência diante de muitas situações, mas não justificam a acomodação ou a falta de busca pelo crescimento.
Limitados, mas não acomodados
Inquieta-nos ver alguns coordenadores acomodados, inertes diante de um movimento tão dinâmico como o nosso. Grupos perdem o fervor e o caráter carismático evangelizador por terem a sua frente coordenadores que não reagem aos apelos da evangelização. Enquanto estamos em movimento nos mantemos aquecidos. Lembro-me de um fato que, embora trágico, ajuda-nos a ilustrar nossa reflexão. Certa vez, dentro de uma empresa frigorífica, dois trabalhadores ficaram presos durante certo período dentro de uma câmara fria, por descuido de outro funcionário que, não percebendo a presença deles ali dentro, fechou a porta e os trancou ali. Passadas algumas horas, ao perceber a ausência daqueles dois funcionários, saíram em sua busca e os encontram dentro daquela câmara fria. Infelizmente, um já estava morto e o outro conseguiu se manter vivo, pois, contava ele mais tarde, quando percebeu que não havia como sair daquele lugar, pôs-se a movimentar-se, passando todo o tempo em que ali esteve preso, transportando os pacotes de carne de um lado para o outro, procurando manter o ‘sangue quente’. Ele dizia que chegou a insistir com seu companheiro para que fizesse o mesmo, mas seu amigo dizia que ia esperar, na confiança de que alguém logo viesse tirá-los dali.
A reação deste homem diante do problema em que se encontravam, de ficar parado, esperando que viesse uma ajuda externa para livrá-los daquele lugar, pois sabia que a única maneira de saírem daquele lugar era com a ajuda externa, retrata o comportamento de muitas lideranças que enfrentam a frieza em seus grupos, mas sentam-se murmurando, reclamando os ‘porquês’ de tudo estar indo de mal a pior, acomodados e conformados com a situação, esperando chegar o seu próprio fim. O outro, embora soubesse que não conseguiria sair dali sozinho, também acredita que alguém irá socorrê-los, mas enquanto isto, procura se manter em movimento...
Há quem busque justificar esta inanição alegando os mais variados motivos, que prefiro nem citá-los agora. Ao invés de nos determos nos motivos de tal esfriamento, prefiro a resposta dada por Frei Raniero Cantalamessa: “Se descobrimos que estamos apagados, frios, apáticos, insatisfeitos com Deus e com nós mesmos, existe remédio, e é infalível: precisamos de um belo e santo Pentecostes!”²
Mas há também nos grupos de oração, dioceses e outras instâncias na Renovação, aqueles que não aceitam a ideia de serem coordenados, por quem não faça parte do seu ‘partido’. Formam-se verdadeiros guetos, tribos, grupos dentro de grupos, “dilacerando o Corpo de Cristo” . É estranho constatar que bons líderes, após o término de seus mandatos, não colaboram com a nova coordenação, afastam-se do Grupo e levam consigo outros membros, ou quando ficam, caem na tentação de fazer oposição ao novo coordenador. Corremos o risco de pensar que coordenação é um problema. Dessa forma, ninguém se sentiria atraído a este serviço, por isso é importante o aperfeiçoamento e a formação para coordenadores.
O ministério de coordenação é um caminho de solução objetiva para a vida prática do movimento. Dentre outros serviços, o coordenador exerce um papel de mediador. Espiritualmente entre Deus e o seu povo, como Moisés; eclesialmente, entre o clero e o movimento; estruturalmente, entre seu grupo e as demais instâncias de serviços. Essa mediação que une e entrelaça as diversas partes do movimento é um serviço necessário, especialmente para manter a unidade no direcionamento de todo o movimento.
Os limites no ministério de coordenação
“Porém, temos este tesouro em vasos de barro, para que transpareça claramente que este poder extraordinário provém de Deus e não de nós” (II Cor 4, 7).
Coordenação não é profissão a ser buscada como carreira. Há quem busque auto-promoção na Renovação, pessoas com objetivos levianos, com finalidades alheias àquelas esperadas deste ministério. Acaba-se por instrumentalizar um cargo ou função na RCC, buscando favorecer interesses pessoais, financeiros e até mesmo interesses políticos de uma pessoa ou de um grupo de pessoas. São muitos os grupos, que beiraram o desaparecimento devido à instrumentalização do poder.
Existem auto-promoções, mas percebemos a sutileza do Espírito Santo ao escolher coordenadores dentro do movimento. Veja este texto de São Paulo aos Coríntios:
“Vede irmãos, o vosso grupo de eleitos: não há entre vós muitos sábios, humanamente falando, nem muitos poderosos, nem muitos nobres. O que é estulto no mundo, Deus o escolheu para confundir os sábios; e o que é fraco no mundo, Deus o escolheu para confundir os fortes; e o que é vil e desprezível no mundo, Deus o escolheu, como também aquelas coisas que nada são, para destruir as que são. Assim, nenhuma criatura se vangloriará diante de Deus” (I Cor 1, 26-28).
A comunidade, ao escolher uma nova coordenação, precisa usar de um discernimento criterioso, que passe pela escuta profética e pelo discernimento reflexivo, atentando para a vontade de Deus e a necessidade daquele Grupo. Critérios como carismas de liderança, pastoreio, administração, evangelização, empenho pela unidade e formação, são essenciais para uma coordenação atingir os objetivos ministeriais. O Espírito Santo é quem distribui estes dons e quem capacita aos fiéis, mas, cabe à comunidade observar tais critérios e discernir, sob a Sua ação, a coordenação mais adequada para aquele momento do Grupo de Oração, diocese, etc. É importante não esquecer que o Espírito Santo não improvisa, mas que também pode surpreender em suas escolhas...
Ao eleito cabe a humildade de reconhecer que, embora a comunidade tenha percebido nele alguns elementos que de certa forma justificam a escolha, tudo o que ele possui é na verdade gratuidade de Deus e que, portanto, a escolha não é fruto de méritos meramente humanos. Às vezes, a pessoa eleita é surpreendida pela escolha da comunidade, não se julgava ‘capacitada’ para tal serviço, mas ao ser eleita, experimenta uma força, um poder extraordinário do Espírito, que pode ser entendido como graça de estado (CIC 2003). A fragilidade humana não é capaz de ofuscar esta equipagem espiritual nova recebida no ato eletivo e, como diz o apóstolo Paulo, “o Espírito vem em auxílio à nossa fraqueza” (Rm 8, 26). Trazemos a fragilidade e a marca de nossas limitações, por isto o Espírito encontra a liberdade para manifestar Sua grandeza.
Conscientes de “sermos frágeis como o vaso de barro”, é preciso estar preparado para os momentos difíceis no ministério, em que ficarão evidentes nossas limitações. Muitos sonhos, desejos e planejamentos podem não acontecer durante o mandato de coordenação e isto pode trazer um sentimento de frustração muito grande ao coração do coordenador. Ninguém quer fracassar em sua missão. Não se trata de vaidade ou de desejar ser visto como a ‘melhor coordenação que o Grupo já teve’. É uma questão de querer corresponder de forma eficaz ao chamado de Deus. Mas na missão de coordenar sempre ficarão marcas de nossa imperfeição, pois somos limitados vasos de barro.Os nossos limites são garantias de que nunca estaremos desamparados, pois nossa fraqueza atrai o auxílio do alto, do Espírito. A escolha de Deus não depende de nosso estado de perfeição, mas de Sua livre e soberana vontade. Se nossos limites não são empecilhos para a missão assumida, também não podem ser usados como ‘desculpas’ para justificar atos. Esta limitação explica nossa impotência diante de muitas situações, mas não justificam a acomodação ou a falta de busca pelo crescimento.
Limitados, mas não acomodados
Inquieta-nos ver alguns coordenadores acomodados, inertes diante de um movimento tão dinâmico como o nosso. Grupos perdem o fervor e o caráter carismático evangelizador por terem a sua frente coordenadores que não reagem aos apelos da evangelização. Enquanto estamos em movimento nos mantemos aquecidos. Lembro-me de um fato que, embora trágico, ajuda-nos a ilustrar nossa reflexão. Certa vez, dentro de uma empresa frigorífica, dois trabalhadores ficaram presos durante certo período dentro de uma câmara fria, por descuido de outro funcionário que, não percebendo a presença deles ali dentro, fechou a porta e os trancou ali. Passadas algumas horas, ao perceber a ausência daqueles dois funcionários, saíram em sua busca e os encontram dentro daquela câmara fria. Infelizmente, um já estava morto e o outro conseguiu se manter vivo, pois, contava ele mais tarde, quando percebeu que não havia como sair daquele lugar, pôs-se a movimentar-se, passando todo o tempo em que ali esteve preso, transportando os pacotes de carne de um lado para o outro, procurando manter o ‘sangue quente’. Ele dizia que chegou a insistir com seu companheiro para que fizesse o mesmo, mas seu amigo dizia que ia esperar, na confiança de que alguém logo viesse tirá-los dali.
A reação deste homem diante do problema em que se encontravam, de ficar parado, esperando que viesse uma ajuda externa para livrá-los daquele lugar, pois sabia que a única maneira de saírem daquele lugar era com a ajuda externa, retrata o comportamento de muitas lideranças que enfrentam a frieza em seus grupos, mas sentam-se murmurando, reclamando os ‘porquês’ de tudo estar indo de mal a pior, acomodados e conformados com a situação, esperando chegar o seu próprio fim. O outro, embora soubesse que não conseguiria sair dali sozinho, também acredita que alguém irá socorrê-los, mas enquanto isto, procura se manter em movimento...
Há quem busque justificar esta inanição alegando os mais variados motivos, que prefiro nem citá-los agora. Ao invés de nos determos nos motivos de tal esfriamento, prefiro a resposta dada por Frei Raniero Cantalamessa: “Se descobrimos que estamos apagados, frios, apáticos, insatisfeitos com Deus e com nós mesmos, existe remédio, e é infalível: precisamos de um belo e santo Pentecostes!”²
¹ Fala de D. Francisco Manuel Vieira, bispo emérito da diocese de Osasco, SP, durante uma Assembléia diocesana. Dizia que “aquele que se isola, dilacera o Corpo de Cristo”.
² CANTALAMESSA, Raniero, O canto do Espírito, meditações sobre o Veni Creator, p. 137, 3ª Ed. – Loyola, Petrópolis, 1998.
Fonte: Por Rogério SoaresAssessoria nacional de Formação de Coordenadores
Fonte: Revista Renovação, ano 10, edição 58, de setembro/outubro de 2009.
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